Correndo pelas estradas de terra de Bom Despacho

ALEXANDRE MAGALHÃES – No dia 7 de setembro de 1997, portanto há quase 23 anos, corri minha primeira prova de rua na cidade de São Paulo. Era uma prova de dez quilómetros que saia e chegava ao Museu do Ipiranga, um local que guarda mobília de D. Pedro I e D. Pedro II, algumas peças históricas de vestimenta dos imperadores brasileiros, objetos das princesas, documentos escritos sobre o período imperial de nosso país e coisas similares.

O local do museu, cujo nome oficial é Museu Paulista da Universidade de São Paulo, é o local no qual D. Pedro I, então o imperador do Brasil, teria gritado a famosa frase: “Independência ou morte!”. Digo teria, pois há historiadores que dizem que isso jamais ocorreu e relatam outra história bem diferente, que não cabe a discussão neste espaço, já que o tema aqui é outro.

Minha primeira corrida foi totalmente sem planejamento. Uma pessoa de meu convívio pessoal me ligou e disse que havia se inscrito para uma prova de corrida de rua no dia da Independência, mas que, como faria uma cirurgia dois dias antes da prova, não teria condições de participar. “Você não gostaria de correr no meu lugar?”, indagou. “Mas, eu nunca corri provas de rua na minha vida”, respondi. “Mas, você joga futebol. Está preparado”, afirmou.

Corri. Durante minha primeira prova de corrida de rua descobri que jogar futebol e correr não tem absolutamente nada a ver uma coisa com a outra. Os movimentos são diferentes, os músculos utilizados em uma atividade e em outra são diferentes, o ritmo, a respiração, a resistência, entre outras especificidades, são diversos.

Fiquei uma semana sem conseguir andar direito, com dificuldade até para realizar tarefas básicas de higiene. Porém, tomei gosto pela coisa e passei a correr com alguma regularidade.

Ao longo de vinte e três anos de correria pelas ruas, acumulei mais de duzentas medalhas de participação em corridas de rua, tendo corrido cinco da famosa prova de São Silvestre. Já corri provas entre cinco e quarenta e dois quilómetros em algumas cidades brasileiras, inclusive a dificílima prova João Jiló em Bom Despacho.

Quando estou em São Paulo, procuro correr todos os dias da semana, dando duas ou três voltas ao redor do Campo de Marte, um aeroporto para aviões de pequeno porte na cidade na qual nasci. Em uma semana normal, corro quatorze quilómetros de segunda a sábado e, quando inspirado, vinte e um quilómetros aos domingos. Cada volta ao redor do Campo de Marte tem exatamente sete quilómetros, por isso corro quatorze ou vinte e um quilómetros. O número não tem nada de científico ou místico, mas apenas prático.

Quando estou em Bom Despacho, corro distâncias diferentes todos os dias. Há algumas variáveis que levo em consideração para escolher a quilometragem que correrei naquele dia. Algumas vezes, tenho o prazer de correr com a companhia de minha namorada bom-despachense, e nesses dias, corro a distância que ela quer. Algumas vezes, corro com amigos dela, quase sempre membros do grupo CorreBom, e nesses dias, são eles que escolhem o percurso e o tempo de treino. Antes da pandemia de coronavírus, em um dia normal, corria na Avenida Dr. Roberto, subindo a ladeira que leva até a Estrada do Pica-Pau, fazendo a volta na “santinha” lá em cima e voltando, e em seguida, subindo a Avenida Amazonas, chegando até a Praça da Matriz e voltando.

Depois que cheguei a Bom Despacho em maio, portanto pós-início da pandemia, não tenho corrido pelo asfalto, mas priorizando as lindíssimas estradas de terra de Bom Despacho. E como é mágico correr no meio das fazendas nesta cidade tão verde.

Em grande parte dos dias, corro uns onze quilómetros saindo da Avenida Dr. Roberto, chegando até a estrada do Pica-Pau e voltando, ida e volta duas vezes. O trajeto, todo de terra, alterna partes de ladeira dura, ladeiras moderadas e poucas etapas planas. Muitos bois e muita área verde. Uma delícia!

Minha namorada bom-despachense gosta de correr na direção do aeroporto e voltar. A desvantagem aqui é a presença da estrada tão pertinho do corredor. Mas, vale a pena fazer este trecho, ocasionalmente.

Esta semana fiz um percurso lindo: saindo dos Cristais, virando na encruzilhada em direção ao Rio Picão, indo em direção à fazenda Aruanda, seguindo por aquela estreita estrada por mais alguns quilómetros. Trecho bem arborizado, com muitas fazendas, muito gado, muitas seriemas, alguns micos e até uma raposinha, infelizmente morta, no meio do caminho. Lindo trajeto.

Também adoro correr na matinha, na região do aeroporto. Trecho de mata com muita árvore, sem sol, com muitas borboletas, pássaros e uma tranquilidade incrível. Um de meus trechos preferidos para uma boa corrida.

Na próxima semana quero voltar a correr em direção à lajinha, na direção de Araújos, um caminho cheio de ladeiras, que encontra o rio lá embaixo, antes de voltar para a BR 262, sendo que a volta é praticamente só subida.

A minha corrida preferida é entre Leandro Ferreira, saindo da fazenda de meu amigo Ricardo Lacerda, passando pelos moinhos e chegando até a Ponte da Amizade, no rio Lambari. Trecho belíssimo, terminando, claro, com um banho refrescante no rio.

Não conheço nenhuma cidade mais linda e cheia de bons lugares para correr, caminhar e andar de bicicleta do que Bom Despacho. Que sorte que os bom-despachenses têm! Não deixem de prestar atenção nestes lugares, pois o morador local, de tanto ver aquela paisagem, acaba esquecendo-se de quão lindos eles são. Aproveitem!

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *