Bom Despacho, berço de muitos escritores
Pelo que me foi dado procurar e conhecer no Centro-Oeste mineiro e vizinhanças, somos um município onde o florescer da literatura tem se desenvolvido num progresso sem igual na região. Parte desse progresso se deve à influência da fundação de nossa Academia de Letras. Novéis escritores aqui nascidos ou que aqui vieram viver têm surgido a cada ano em grandes perspectivas, engrandecendo e orgulhando nossos valores culturais. Fiz um registro desta ascensão literária dos anos 60 até a presente época, que apresento, em parte, hoje a meus leitores.
Seis autores até os anos 60
De certo tempo para cá, nasce a cada ano um novo livro e muitos novos escritores, em Bom Despacho. Em meus tempos de estudante do 2º grau, nos anos 60, eu contava apenas 6 autores por aqui: José d’Avó Gontijo (poesias em brochura), João Gontijo, autor de “O Bonifácio”, uma crônica humorística da política bom-despachense. Uma coletânea de poemas da Dona Liquinha. Algumas publicações juvenis do Padre Jayme Lopes Cançado. Algumas preciosas produções do Brasinha (Itamar de Oliveira). Uma pesquisa histórica sobre o município de Bom Despacho do Dr.Laércio Rodrigues.
Cerca de 55 escritores ou mais atualmente
Consultando o baú de minhas memórias e a minha biblioteca particular, contei esta semana 55 cinco escritores de 1960 pra cá. Enriquecemos a literatura com cerca de 85 a 90 publicações literárias em vários campos das letras: romances, poesias, crônicas. Entre elas a coleção de crônicas e contos publicada em Recife pelo editor Carlos A. Lopes, pesquisas históricas de Bom Despacho e do Engelho do Ribeiro, genealogias, biografias, folclore, etc.
O interessante é a crescente participação da mulher nesse campo das artes literárias na cidade. Creio que já passam de 20 o número de mulheres escritoras entre nós, numa atividade em que o sexo feminino estava, tempos atrás, praticamente excluído em todo o país.
Estou listando atores e obras bom-despachenses para levá-las a meus leitores proximamente.
Os campeões de edições
Entre nós os líderes de edições de livros são Geraldo Rodrigues (Geraldinho do Engenho) e Alexandre Cesário, ambos com cerca de 15 ou mais publicações. “Gandavos”, cerca de 10 livros, se bem me lembro. Uma coleção publicada durante 5 anos, aproximadamente, por Carlos A. Lopes, em Recife (PE), com minha participação e do Ronan Thales de Oliveira, Geraldinho do Engenho, João Batista Silva, Neusa Ramos e Denise Coimbra, e mais algum nome cuja lembrança me tenha escapado da memória.
Autores de 3 ou mais obras
Geraldo Hamilton de Menezes da Academia Bom-Despachense de Letras. E ainda Itamar de Oliveira, o Brasa, Neusa Ramos, Gísila Couto, Humberto Lara (ex-professor da Unipac), Fernando Humberto, Alberto Coimbra, Jacinto Guerra, Orlando Ferreira de Freitas e algum outro mais.
Novos lançamentos
“O Homem e o Poeta”, de Paulo Teixeira Campos, crônicas de um dos melhores escritores da cidade, retiradas do jornal “O Bom Despacho” dos anos de 1960 e 1961 e de arquivos da família, lançado com a minha colaboração, de Lúcio Emílio Júnior e de seus filhos Lélida, Paulo César, Viviane e Júlio César. O autor produziu essas crônicas, jovem ainda, com idade de 21 a 22 anos. No primor de seu estilo e de sua linguagem concisa e moderna, Paulinho Teixeira Campos nos deixou uma obra prima de literatura.
Alberto Coimbra: cronista talentoso
“Menino Bonito”, “As Ruas do Rio de Janeiro”, “Expressões do Futebol” são os três últimos livros publicados por Alberto Coimbra neste mês de outubro, entre outros já laçados anteriormente. Numa de suas páginas de “Menino Bonito” ele diz: – Papai nos ensinou a valorizar em primeiro lugar a cultura.
E como eles (os filhos) assimilaram bem o que o pai Jair Coimbra lhes ensinou! Eles são, creio, cerca de dez irmãos. Dos que conheço, são todos admiravelmente bem dotados em diversos campos da cultura. Na música e execução de variados instrumentos, então, os meninos do Jair Coimbra são geniais! Alberto se sente à vontade no mundo dos conhecimentos culturais como o demonstra em seus escritos.
O Alberto Coimbra em suas crônicas apresenta altos conhecimentos de história antiga e atual, geografia, religião e costumes de povos do Brasil, de Minas e de Bom Despacho. Memória privilegiada, discorre sobre artes variadas, cinema, teatro, música, arquitetura e literatura. Jovem ainda, morou no Rio de Janeiro. Ele desfila, em suas narrativas, conhecimentos sobre os pontos turísticos e históricos, monumentos, personagens, bem como os encantos, as ruas, praias e becos, de pontos encantadores ou recantos humildes da Cidade Maravilhosa. Quem o lê tem a impressão de que Alberto conhece o Rio e lá morou desde seus primórdios.
Discorre com conhecimento de causa sobre o futebol de ontem e de hoje de Bom Despacho. De Minas e do Rio. Na música cita de cor artistas de TV, cinema, filmes nacionais e internacionais do nosso país, da Itália, da França, dos Estados Unidos, de época variadas.
O que é bom de ler nos seus livros é que cada página não tem nada de monotonia, não. O leitor se sente preso pela torrente de informações e emoções que vão desfilando sob seus olhos. Conhecedor também das ciências, da filosofia, de psicologia, se sente no direito de expressar o que entender, mesmo se forem pesadas e pornográficas. Diga-se, de passagem, raras vezes. Cenas que para alguns leitores tidas como obscenas e inaceitáveis, mas que, na verdade, nos fazem fugir da hipocrisia e aceitá-las como burgueses que apreciam sem pudores a exposição de uma pintura de um nu artístico.
Aprecio ler Alberto Coimbra, leio certos livros seus, às vezes, de uma assentada.
Outros autores
Outros autores de livros recentes em Bom Despacho tenho ainda para desfilar nesta coluna. Livros da tríade que têm como tema a primeira rua de Bom Despacho, depois da Cruz do Monte, a Rua do Céu do Mozart Foschete, Rua do Céu de Ordália Bernardes e a Rua do Céu da Gísila Couto. Tem também a última publicação do Fernando Humberto e um livreto infantil bem ilustrado de Alex Moreira Rocha, presidente fundador da Academia de Letras de Bom Despacho e outros. Esses ficam pra depois.