Neste domingo vote com consciência e esperança
O segundo turno chegou. Mais uma vez, o país vai às urnas dividido. Numa democracia esta divisão é normal quando ela se refere ao número de votos depositados nas urnas. A situação se resolveria de forma elegante: se alguém tiver a metade mais um dos votos, ganha. Se houver empate, o mais idoso ganha. Tudo dentro da lei e de acordo com a democracia. O problema do nosso segundo turno para a presidência é que o país está dividido não pela forma de desejar o melhor para o país, mas sim pela forma de causar o maior dano ao próximo.
Acolher as diferenças, a diversidade e as divergências está na essência da democracia. Até porque, se a unanimidade fosse a regra o país não precisaria de eleições. Não haveria propostas alternativas, não haveria embates, não haveria acordos e concessões. No entanto, a vida não é assim. A vida é conflituosa. Pessoas diferentes têm crenças diferentes e têm propostas diferentes. Além disto, as propostas não são apenas para solucionar problemas reconhecidos no presente, mas também para evitar problemas futuros.
As propostas também servem para indicar o futuro que queremos para nós e para as gerações que nos sucederão.
Opiniões e propostas não nascem de geração espontânea. Elas nascem da educação, dos conhecimentos e da experiência de vida de cada um.
Por exemplo, é natural que uma pessoa rica, vinda de família rica, possa pensar que o melhor para o país é ter gasolina barata, passagens aéreas de baixo custo e que poucos impostos sejam cobrados sobre o valor de bebidas importadas como uísque e vinho ou sobre carros de luxo.
Por outro lado, a mãe que labuta todos os dias para criar sua família pode querer coisas bem mais simples, como uma boa escola para seus filhos, um SUS que funcione muito bem, um salário-mínimo que atenda às suas necessidades essenciais.
São pontos de vistas diferentes.
O pobre não é pobre por escolha. Para começar, ele nasce pobre. Por ter nascido pobre, a vida lhe é mais difícil. Não tem do bom e do melhor. Muitas vezes lhe falta o essencial. As dificuldades são enormes. Os obstáculos muitas vezes são intransponíveis.
Já o rico muitas vezes nasceu rico. Não conheceu a dureza da vida; não passou falta. Por isto mesmo, nem sempre se identifica com o sofrimento do pobre e não se compadece do seu sofrimento. Mas muitos abrem os olhos e se solidarizam. Querem que os pobres tenham mais oportunidades.
De qualquer forma, o berço rico e o berço pobre costumam gerar visões diferentes do mundo e das eleições. Um sente falta de gasolina barata para os seus passeios, da viagem de descanso nas Bahamas, do caviar russo para seu deleite. O outro sente falta do pãozinho para o café da manhã e do arroz com feijão para o almoço e jantar.
Mas, na democracia mesmo esta visão diferente dos problemas do mundo não é obstáculo. A diversidade de opiniões, a cegueira quanto às necessidades alheias e as diferentes visões de mundo podem ser acolhidas pela democracia e seus efeitos nocivos podem ser limitados e eventualmente eliminados.
Numa democracia nenhuma visão de mundo é vitoriosa para sempre. Hoje uma tendência ganha, amanhã outra ganha. Vem daí a necessidade de alternância de poder. A cada mudança são testadas novas ideias, novas práticas, novas propostas. Com o tempo, as que não dão certo são eliminadas e as que dão certo são aperfeiçoadas. É assim que acontece o progresso humano.
No Brasil, a cada quatro anos os brasileiros têm oportunidade de escolher: vamos continuar como está por mais quatro anos, ou vamos mudar e tentar algo novo? Ou vamos talvez voltar a algo que já tivemos no passado e gostaríamos de ter novamente?
É para este tipo de decisão que o povo vai às urnas a cada quatro anos. E a cada vez que esta decisão importante vai ser tomada, temos as campanhas eleitorais. Seu objetivo é um só: permitir que o eleitor tome conhecimento das propostas que os candidatos têm para solucionar nossos problemas, evitar problemas futuros e — principalmente — criar um futuro melhor para todos.
Era isto que deveríamos estar vivendo agora: um debate de ideias, de propostas, de soluções. Contudo, não é o que está acontecendo. A coisa não vai nada bem.
O propósito da campanha eleitoral tem sido sistematicamente frustrado. Acompanhando as redes sociais vemos que os ativistas — e até alguns candidatos — estão mais interessados em atacar pessoas, religiões e crenças do que apresentar propostas, discutir ideias analisar a realidade, prospectar o futuro.
No meio destes ataques, vemos que a verdade é o que menos importa. Parece que ninguém liga para os fatos, nem para os mais óbvios, mais documentados, mais sabidos. A história recente do Brasil parece que desapareceu da memória dos ativistas. É como se eles não se lembrassem do que aconteceu, o que foi feito e o que deixou de ser feito nos últimos quatro anos, dez anos, vinte anos. Eles vivem numa realidade paralela, virtual, inventada conforme a conveniência de cada momento.
É uma campanha cheia de baixarias e contra fantasmas que os próprios ativistas criam ou tiram da cova. São muitos. No entanto, não vale a pena divulgá-los aqui mais uma vez. O que o eleitor deve fazer é desprezar fofocas, boatos, fakenews e fantasmas que já deveriam ter sido exorcizados há muitas décadas ou até há séculos.
A atenção do eleitor deveria estar concentrada em descobrir, discutir e escolher (pelo voto) as propostas que considera melhores. Propostas que, infelizmente, estão escondidas sob a enxurrada de baixarias que estão entupindo as redes sociais, os blogs, as caixas postais e até as ações judiciais.
Faltam poucos dias para que o eleitor vá às urnas decidir quem e quais propostas governarão o Brasil pelos próximos quatro anos (e seus reflexos muito além). É nas urnas que o eleitor decidirá para onde será direcionado o dinheiro dos seus impostos: mais educação? melhores salários? mais investimentos em saúde? Mais empregos?
Mas, a despeito da baixaria e apesar da falta de propostas, o eleitor tem um recurso poderoso: nestas eleições ambos os candidatos a presidente já foram presidentes antes. Por isto não é difícil para quem assim desejar ultrapassar o mar de lama das campanhas e enxergar além da cortina de fakenews. Basta ver o que cada um fez na presidência. Qual administrou melhor o país? Qual trouxe os maiores benefícios para o povo? Qual tornou o Brasil um país melhor para se viver?
São perguntas que cada um pode e deve responder com sua memória e com seu coração. O resto é fácil: é só dirigir-se à sua seção eleitoral no dia 30, teclar sua preferência na urna inviolável e ir para casa esperar o resultado.
Se o seu candidato preferido ganhar, será hora de comemorar. Mas ainda que seu candidato perca, ainda assim, haverá motivos para comemorar.
Primeiro, comemorar o voto com consciência, voto livre e desimpedido que você deu. O voto da sua escolha e não da escolha de alguém mais. Esta sensação de liberdade para escolher é gratificante.
Segundo, comemorar a democracia. Comemorar por termos o direito sagrado — que deveria também ser inviolável — de podermos participar da escolha dos nossos mandatários. Comemorarmos a esperança de que o eleito governe com respeito às regras democráticas que o conduziram ao poder. Comemorarmos a esperança de que, sob o império da lei, daqui a quatro anos haverá nova oportunidade para que cada um refaça suas escolhas.
O momento do voto é aquele que iguala todos os brasileiros de forma perfeita. Pobre ou rico, branco ou preto, velho ou novo, todos têm o mesmo peso.
Não se ofenda com quem pensa diferente de você. Seu vizinho, seu parente, seu amigo não é seu inimigo, mesmo que não apoie o mesmo candidato que você apoia. Não brigue. Respeite.
Domingo, dia 30, vá às urnas. Lá é só com você e o que você acredita. Não se omita. Não se abstenha. Vote com consciência e com esperança. Vote. (Imagem ilustrativa)