Cabral: vou trabalhar para reorganizar as forças políticas de BD

Quase 60 dias após renunciar ao cargo de prefeito para tratar da saúde, Fernando Cabral dá sua primeira entrevista a um veículo de comunicação. Ele fala da sua doença, de como tem sido recebido pelas pessoas e diz que pretende continuar em Bom Despacho. “Aqui é minha cidade. Além disto, tenho certeza de que ela continuará melhorando cada vez mais. É bom morar em uma cidade progressista e pacata como esta”.

Cabral também afirma que seu sucessor “é excelente pessoa e está se mostrando um prefeito muito dedicado”. Ele destaca que Bertolino “acelerou a construção do CTI e a reforma do Pronto Atendimento” e “deu uma boa arrancada nas obras de asfaltamento”.

Sobre o seu futuro na política, Fernando Cabral admite que poderá ser candidato a vereador. E assegura no seu estilo bem direto: “Mas, independentemente de eu ser candidato a vereador ou não, vou trabalhar para reorganizar as forças políticas da cidade. Precisamos continuar avançando. Não podemos perder terreno para a velha política, as velhas raposas, os velhos ladrões de sempre”.

Veja na entrevista a seguir feita pelo editor Alexandre Borges.

JN – É sabido que o poder desgasta, por melhor que seja a gestão. Depois de quase 8 anos como prefeito, como é tratado pelas pessoas que encontra nas ruas?Ser prefeito é uma lição permanente de humildade. Os problemas são muitos e as demandas infindáveis. Já a nossa capacidade, nosso tempo e nossos recursos são sempre limitados. Este é um dos motivos do desgaste: por mais que façamos, sempre ficamos aquém daquilo que a população precisa, espera e merece. Apesar disto, as pessoas reconhecem o esforço, aplaudem o empenho e aceitam nossas limitações.

De qualquer forma, as pessoas têm sido muito generosas comigo. Tenho sido muito bem tratado nas ruas. Recebo muitos elogios, pleitos de agradecimento e pedidos para que eu não abandone a política.

Sou muito grato ao povo bom-despachense que me permitiu lhes servir por um mandato de vereador e dois mandatos de prefeito. Sou mais grato ainda pelo reconhecimento que tenho recebido.

JN – Continua frequentando a Prefeitura depois da renúncia? Frequento pouco. Nas primeiras semanas eu estava muito combalido pela doença que provocou meu afastamento. Eu sofria muitas dores e padecia enorme fadiga física e mental. Além disto, há o perigo constante do coronavírus. Por isto, nas primeiras semanas evitei ir à prefeitura. Mas continuei apoiando e fazendo a transição por telefone e pela Internet.

Como melhorei um pouco, nas últimas semanas fui lá uma ou duas vezes tratar da obra do CTI e da reforma do PA.

JN – Como é sua relação com o prefeito Bertolino? Relação muito boa. Dr. Bertolino é excelente pessoa e está se mostrando um prefeito muito dedicado. Vejo que ele tem trabalhado sem parar.

Além disto, vejo que ele é uma pessoa de palavra. Antes de renunciar, eu pedi a ele que desse atenção a algumas obras prioritárias, como a reforma do Pronto Atendimento Municipal, a construção do CTI e o asfaltamento de algumas ruas que estavam mais necessitadas.

Pelo que podemos ver, ele não só manteve as obras, como as acelerou e ainda iniciou outras.

Eu sempre tive uma boa relação com Dr. Bertolino. Mas agora que vejo ele trabalhando com a intensidade que está fazendo, e considerando as prioridades que escolheu manter, posso dizer que nossa relação está melhor ainda.

JN – Você foi acometido por uma doença rara, a Espondilite Anquilosante. Além de dores fortes, ela provoca também muita dificuldade de movimentação. Para você, que sempre valorizou e praticou atividades físicas, como é lidar com este problema? Na verdade a doença é menos rara do que parece. O que acontece é que ela é pouco diagnosticada. Em Bom Despacho, por exemplo, deve haver entre 250 e 500 pessoas sofrendo deste mal. Muitas delas passam a vida inteira sem saber ao certo que doença têm. Acabam aceitando que é “reumatismo” ou “problema de coluna”. Isto, é claro, impede um tratamento correto.

Mas, com relação aos esportes, no início foi assustador. A doença é altamente incapacitante. Cheguei a pensar que nunca mais ia conseguir ao menos caminhar direito, imagine praticar esportes!

Por exemplo, em dezembro do ano passado eu estava sofrendo com dores tão agonizantes que cheguei a pensar que não conseguiria mais nem me levantar da cama. Naquele momento os esportes pareciam fora de cogitação. Na verdade, até mesmo uma caminhada até a cozinha parecia fora do meu alcance.

Mesmo com medicamentos a dor não passava.

Mas, não perdi a esperança. Embora não se conheça cura para a espondilite anquilosante, aprendi que uma das formas de controlá-la é fazer exercícios. Então, a despeito da dor, comecei a me movimentar e a fazer pequenos exercícios. De início, bem devagar e bem leves. Hoje já estou caminhando de forma quase normal, as dores estão muito reduzidas. Já estou cheio de esperança de que, dentro de poucos meses voltarei a poder praticar minhas caminhadas e corridas.

Tenho fé!

JN – Você renunciou ao cargo de prefeito para se tratar da doença. Está fazendo o tratamento? Já teve melhora? Como será sua vida daqui para a frente? Sim, estou fazendo um tratamento rigoroso. Para os médicos é um tratamento meio maluco, mas está funcionando bem. Como eu disse, já consigo caminhar, subo e desço escada e até consigo carregar para lá e para cá um livro, uma cadeira, um computador. Estou fazendo caminhada.

Em vista do que passei, posso dizer que estou muito bem.

De agora em diante é continuar fazendo o que está dando certo e trabalhar para que a melhora não pare.

JN – Na sua opinião, quais são os maiores acertos de Bertolino nesses quase 60 dias em que está no cargo? Dr. Bertolino tem acertado muito. Primeiro, como eu disse, ele acelerou a construção do CTI e a reforma do Pronto Atendimento. Estas são duas obras que o bom-despachense precisa e precisa já.

Em segundo lugar, vejo que ele deu uma boa arrancada nas obras de asfaltamento.

Terceiro, ele vem enfrentando com muita determinação a epidemia do coronavírus.

Não é pouca coisa para se fazer numa crise forte como a que estamos vivendo.

JN – Entre as medidas tomadas por ele, o que você faria diferente se ainda estivesse na cadeira de prefeito? Como diz o ditado, cada pessoa sabe onde o sapato aperta. O prefeito, mais do que ninguém, sabe que o sapato aperta de todo lado. Assim, dentro do que é possível e considerando as prioridades, acho que Bertolino está fazendo o que precisa ser feito.

JN – O ex-prefeito Haroldo Queiroz se refere a você como “prefeito cassado”. Afinal, você foi cassado ou não?  Como está sua situação política? Como ele responde a uma centena ou mais de processos, ele conhece bem uma regra fundamental da nossa constituição: não há condenação sem trânsito em julgado. Portanto, se ele está realmente dizendo isto, está enganando a população. Minha chapa foi absolvida em primeiro grau e o julgamento em segundo grau ainda não terminou. Portanto, ele mente ao dizer que estou cassado. Além disto, mesmo que haja condenação no TRE, ainda cabe recurso ao TSE.

Em resumo, o ex-prefeito Haroldo está faltando com a verdade.

JN – O que pretende fazer da vida? Continuará vivendo em Bom Despacho? Sim, pretendo continuar em Bom Despacho. Esta é a ideia. Aqui é minha cidade. Além disto, tenho certeza de que ela continuará melhorando cada vez mais. É bom morar em uma cidade progressista e pacata como esta.

JN – Em março, você filiou-se ao MDB e assumiu o diretório do partido na cidade. Na época, afirmou que pretende “reorganizar as forças políticas da cidade”. Você será candidato a vereador pelo MDB nas eleições deste ano? Sim, posso vir a ser candidato a vereador. Mas isto depende, em primeiro lugar, da minha saúde. Renunciei ao cargo de prefeito porque não conseguia mais me dedicar totalmente à prefeitura. Portanto, não faria sentido eu me candidatar a vereador se não tiver plenas condições físicas para exercer o cargo.

Mas, mais importante, é eu sentir que a população gostaria que eu voltasse à Câmara para continuar defendendo os interesses de nossa cidade.

Mas, independentemente de eu ser candidato a vereador ou não, vou trabalhar para reorganizar as forças políticas da cidade. Precisamos continuar avançando. Não podemos perder terreno para a velha política, as velhas raposas, os velhos ladrões de sempre.

JN – Você já foi vereador no período 2009-2012. Na época ganhou destaque como vereador combativo, fiscalizador e defensor do interesse público. Como será sua atuação se Bertolino for eleito prefeito e você voltar para a Câmara? Vereador tem obrigação de propor e apoiar bons projetos e combater maus projetos. Tenho certeza de que, eleito Bertolino, ele apresentará e levará a cabo bons projetos para Bom Despacho. Se eu voltar à vereança, vou apoiá-lo para que os bons projetos se tornem realidade.

No entanto, isto não afetará minha independência e não arrefecerá minha disposição para fiscalizar e defender o interesse público em todas as circunstâncias.

JN – Com exceção de Bertolino, todos os atuais pré-candidatos declarados fizeram oposição a você. E se um deles for eleito prefeito, como será sua atuação na Câmara? Mesmo na oposição, apoiarei os bons projetos. Sou contra oposição sistemática, ou oposição por oposição. Mas, se o eleito ou eleita não agitar corretamente, e principalmente se for desonesto ou desonesta, ele (ou ela) certamente encontrará em mim um opositor ferrenho.

JN – Tem planos de se candidatar a deputado em 2022, seja estadual ou federal? Bom Despacho precisa de um deputado federal. Não tenho dúvida quanto a isto. Muita gente tem sugerido que eu me candidate para atender a esta necessidade. Estou de mente aberta para ponderar sobre isto até 2022. Se até lá minha saúde estiver bem e se houver amplo apoio dos bom-despachenses, posso vir a ser o candidato de nossa cidade à Câmara dos Deputados.

JN – Com sua experiência de prefeito por quase 8 anos, que conselho daria aos atuais pré-candidatos? Dizem que se conselho fosse bom a gente não daria, mas venderia. Mesmo assim, me arrisco dizendo aos pré-candidatos: deixem de lado o orgulho. Esqueçam a empáfia. Não façam politicamente. Não enganem o eleitor. Em vez disto, adotem a verdade e a transparência como lema e prática. Abram os olhos para as necessidades do povo. Não dá para fazer tudo, mas com trabalho, com austeridade e com competência dá para fazer muito coisa. É isto que o eleitor espera quando deposita seu voto na urna: trabalho, honestidade, respeito com o patrimônio público.

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