Tadeu, o pai da Roberta da Turma da 8ªA
Para nós, os alunos e alunas da turma 8ªA, o Professor Tadeu não é chamado assim. Para a gente, ele é o Tadeu, pai da Roberta.
A Roberta, todo mundo conhece, também é da 8ªA, a turma que nos marcou especialmente por ser a última que frequentamos juntos depois de sermos colegas desde o pré-primário. E como todos que já passaram dos 40 anos sabem, a gente nunca sai dessa sala de aula da adolescência, repleta de descobertas, curiosidades, dilemas, amizades.
Então, para nós, o Tadeu continua sendo o Tadeu, pai da Roberta. E está ali no portão da casa dele, ao lado do Colégio Miguel Gontijo. Podemos ver o Tadeu ao final da aula, quando o sinal bate e saímos apressados, entre cansados e famintos, mas ainda dispostos a estarmos juntos para aproveitar o dia (e a noite) – de preferência que não seja para estudar.
E ele está sempre por ali, constante, disposto a escutar, conversar, orientar, a nos empurrar para frente. Disposto inclusive a ensaiar um bando de meninas e meninos barulhentos para nossas peças de teatro. Quando ainda estávamos no Coronel Praxedes, tínhamos o desafio de interpretar a peça Pluft, o Fantasminha. Nosso diretor foi o Tadeu, que nos reunia na parte de trás de casa, onde sempre teve livros, jornais, horta e algum bicho. Isso com o apoio e a paciência de dona Geni, que todo mundo também conhece!
Hoje conseguimos entender que a tolerância do Tadeu é bem gigante, inclusive porque ele teve que aguentar até nossas serenatas. É melhor não comentar o repertório.
E houve uma época que levantamos a hipótese de o Tadeu ser lobisomem porque ele costumava andar à noite. Até descobrirmos que, no esforço de parar de fumar, ele deixava o cigarro lá na pracinha da Santa Casa para evitar ter o maço à mão dentro de casa. Por isso tanta caminhada noturna, idas e vindas atrás do cigarro.
Além de paciente, Tadeu também é generoso: sempre disposto a colocar nossas histórias no jornal.
Mas, embora a gente continue um pouquinho lá no colégio, já saímos da 8ªA há algum tempo – não vem ao caso quanto tempo. E Tadeu já foi muito além do portão de sua casa. Pelas notícias da Beta acompanhamos sempre as conquistas do Tadeu, avançando suas fronteiras. Primeiro o limite da praça da Matriz, depois da Praça de Esportes, do Ipê, em seguida o Engenho, os rios da infância, a estrada, outra cidade, o shopping. E agora, gente, até o avião. Outrora Tadeu conhecia o mundo através dos olhos alheios e o traduzia para nós em prosas e poesias. Agora ele expande a experiência de conhecer através de seus sentidos. Desde então ele tem traduzido essa aventura na frase de Guimarães Rosa: “a vida volta a começar.”
Obrigada, Tadeu!
Ana Paula Cardoso é psicóloga e oficial da PMMG. Ana Amélia Hamdan é jornalista.
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