Ligações em BD e chamadas indesejadas no celular

 

Em São Paulo, minha terra natal, quando meu celular toca e quem está ligando tem o DDD 041, que é de Curitiba, eu não atendo ou atendo já sabendo que é alguma empresa tentando vender alguma coisa que não me interessa.

Aqui em Bom Despacho acontece algo muito similar, mas o DDD que ninguém respeita é o 011, código de área da cidade de São Paulo. Como meu telefone é de São Paulo, portanto meu DDD é o 011, sempre que ligo para alguém aqui em Bom Despacho, não consigo falar. É uma tristeza.

Costumo comprar muitas coisas do dia a dia na Lanchonete do Willian, no bairro Esplanada. Gosto de ajudar o comércio do meu bairro bom-despachense, por isso, acabo comprando garrafões de água, cerveja, batatas, cebolas, açúcar, sal e coisas do gênero. Como aconteceu algumas vezes de eu ir até a lanchonete para comprar um galão de água e o Willian não ter a água para me vender, registrei seu número de telefone para ligar e confirmar se ele tem o produto para pronta entrega, antes de eu subir a rua com um galão vazio nas mãos e ter de descer novamente com ele ainda vazio.

Claro, nas primeiras vezes que liguei, o Willian me ignorou totalmente. Um dia, alertado de que o problema era o DDD de meu telefone, depois de ligar algumas vezes sem sucesso, fui até a lanchonete e perguntei ao Willian se ele havia visto minha chamada. Respondeu que não havia chamada minha, somente umas ligações de “gente tentando me vender coisas”. “Este sou eu, o do DDD 011”. Pronto, nunca mais tive problemas, pois ele registrou meu número em sua agenda.

Outro dia tentei ligar para um advogado de Bom Despacho, o Dr. José Raimundo, indicado por uns amigos. Já havia conversado com ele algumas vezes na Praça de Esportes, ido até seu escritório, mas nunca havia ligado para ele. Chamei algumas vezes e, como não atendia minhas ligações, deixei um recado em sua caixa postal.

No dia seguinte, encontrei com o doutor na Praça de Esportes e disse a ele que havia ligado e deixado recados. “Não vi sua ligação, não”. Passado alguns minutos, ele me mostrou a tela de seu celular e afirmou: “ontem só recebi algumas ligações desse povo que vende coisas”. “Este sou eu, já que meu número é de São Paulo”, confirmei.

Contei essas histórias para uns amigos e um deles me perguntou: “só você atende ligações com DDD 011”. “Se não atender ligações de 011, deixarei de falar com minha mãe, irmãos, filha e todos meus amigos”, observei. Só então ele entendeu que rejeitar ligações de 011 não faria muito sentido para alguém que nasceu e ainda mora em São Paulo.

Agora já aprendi: quando vou ligar para alguém em Bom Despacho, aviso antes que meu DDD é 011 e resolvo o problema.

¿Hablas español?

Adoro ter boas surpresas. Sempre que tenho a oportunidade eu conto a história do José Calazans, baiano de Ibicaraí, que trabalhou em minha equipe no IBOPE e que foi, de longe, meu melhor colaborador. Calazans mudou-se para São Paulo para estudar além da quarta série primária, que era o máximo que Ibicaraí lhe oferecia. A dona da casa que ele morava em São Paulo, uma amiga da família que também havia nascido em Ibicaraí, morreu e Calazans virou morador de rua durante um ano e dois meses. Reconhecido na rua por uma vizinha, que apiedou-se dele e o levou para morar em sua casa, esse baiano forjado nas dificuldades da vida conseguiu concluir a faculdade de jornalismo, virou referência na área de análise de dados, é o diretor da área da IAB Brasil – Interactive Advertising Bureau, além de trabalhar na Rede Globo há alguns anos. Um vencedor!

Semana passada, no feriado de Tiradentes, depois de correr doze quilómetros sob um sol escaldante, parei na Lanchonete do Willian para tomar umas cervejas, já que ninguém é de ferro. Escolhi uma mesa à sombra e só me levantava da minha cadeira para trocar a garrafa vazia por uma cheia. Em uma dessas ações, a Fantinha, apelido da ajudante do Willian, arriscou um espanhol comigo: “¿que necesitas, hombre?”. Respondi em espanhol e ela retrucou. Arrisquei mais algumas frases e, com naturalidade, ela continuou a conversa. Impressionado, perguntei como ela havia aprendido espanhol. “Tenho uns primos, que nasceram em Bom Despacho, mas que hoje moram no Paraguai. Quando eu os encontro, escuto eles conversando e vou aprendendo”, explicou-me a Fantinha em perfeito espanhol. Que surpresa mais agradável. Agora, quando a vejo, já arriscamos uma conversa em espanhol, para espanto dos clientes que nos escutam e que devem imaginar que somos loucos. Com esse diferencial, temo que o Willian perca a ajudante em breve…

Se eu fosse dono ou dona de uma escola de idiomas em Bom Despacho, faria um acordo com a Fantinha: daria a ela uma bolsa de estudos de uma língua qualquer, de escolha dela, e a usaria como garota propaganda da escola.

Arena Ferramenta

Em São Paulo há muitos bares que são famosos por receber torcedores em dia de jogos de determinados times. E não só times do estado de São Paulo. Lembro-me que fui com uma pessoa de Bom Despacho a um bar no tradicional bairro paulistano do Bixiga, o bar Rancho Nordestino, que é ponto tradicional dos torcedores do Sport, clube de Recife.

Aqui em Bom Despacho, o único bar que eu havia ido em dia de jogos grandes e que ficava cheio de torcedores era o Deck, que fechou recentemente (não sei se reabriu em outro endereço).

Recentemente, conheci o Bar do Ferramenta ou Bar do Ernani. Como ele serve umas porções vegetarianas, acabei visitando o estabelecimento algumas vezes. Meio sem querer, percebi que havia muitos clientes com a camisa do Galo. Perguntei ao Ernani se era coincidência e ele disse que não, pois costuma exibir jogos, especialmente os do seu time do coração, o Atlético, em seu bar.

Descobri que meu sogro costuma ver alguns jogos lá, inclusive foi ao Galo X Coelho, que recentemente jogaram pela Libertadores. Ótima opção para quem gosta de assistir jogos ao lado dos amigos, criando uma atmosfera de campo de futebol. Segundo o Ernani, em dia de jogos há até torcedores cruzeirenses no bar. Ouvi dizer que, quando o Galo perde, o bar fecha mais cedo. Coisa de empresário torcedor…

Vou convidar meu sogro para me pagar umas cervejas e assistirmos juntos ao próximo jogo do Galo do Bar do Ferramenta. (Foto acima: imagem ilustrativa)

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

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