Bom Despacho é bão dimais, sô!

Quando era “minino piqueno”, tinha certeza de que Bom Despacho era o melhor lugar do mundo. Eu gostava de BH, Caldas Novas, Cabo Frio e Ponta da Fruta, mas Bom Despacho era disparado o melhor lugar do mundo. As evidências eram inúmeras, indo desde as frequentes visitas de amigos de outras cidades que se encantavam com BD até o meu próprio bem-estar sempre que retornava para casa. Essa marca é tão profunda que até hoje, 30 anos depois de ter me mudado, continuo me apresentando como natural da capital do interior de Minas, ou a melhor cidade das Gerais! Fiz isso na semana passada, quando me apresentei para minha nova equipe. E não estou sozinho no bairrismo, sei que muitos bom-despachenses que moram fora carregam esse sentimento.

Nesse sentido, confesso que me surpreendem manifestações recentes de bom-despachenses denegrindo a cidade. São pessoas de Bom Despacho que moram aqui e parecem ter como esporte favorito falar mal de BD. Até acho que há uma crescente visão negativa do mundo além das nossas fronteiras, que as pessoas têm se habituado a reclamar muito mais do que a elogiar. Lembro-me de um estudo na área de marketing em que se constatou que uma pessoa descontente fala para cerca de 20 pessoas enquanto uma satisfeita fala para 3 ou 4. Um livro recente defende que, num mundo de redes sociais, essas 20 pessoas contaminadas por uma avaliação negativa se tornaram 10 mil. Somos uma massa de insatisfeitos digitais.

Apesar desse comportamento geral, voltando a Bom Despacho, não vou negar, esse comportamento me incomoda. Incomoda assistir a tantos conterrâneos desmerecendo nossa cidade. Sabe aquela família que tem seus problemas, que “quebra o pau” dentro de casa, mas não admite que a família ou qualquer dos seus seja criticado fora daquele círculo? Então, é mais ou menos o que sinto. É chato quando alguém de fora vem me dizer que soube que Bom Despacho vai mal – ou usa qualquer outra adjetivação nesse sentido – e justifica seu argumento com manifestações de bom-despachenses. Chato e triste.

Bom Despacho é perfeita? Claro que não. E não estou pedindo aqui para brincarmos de Polyana e esquecermos tudo que nos frustra na cidade. Mas uma coisa é a crítica que tem por objetivo contribuir ou gerar um alerta para melhorar. A tal “crítica construtiva”. Outra coisa é criar e alimentar toda onda negativa contra nossa cidade, num coro de lamúrias e ataques a instituições e pessoas que têm história e papéis importantes para a cidade. Essa onda só traz prejuízos a Bom Despacho e a todos que vivem e amam esse lugar.

Ah, e quero deixar claro que não estou aqui falando de políticos, muito menos fazendo uma defesa da Prefeitura ou da Câmara Municipal. Essas instituições são alguns dos alvos preferenciais, mas estão longe de estarem sozinhas. Há críticas a quase tudo, desde pessoas e empresas até espaços e eventos, num volume injustificado, na minha opinião.

Moro em Brasília. Em 2020, tive a oportunidade de morar em Bom Despacho por alguns meses, em função da pandemia e das eleições municipais. O período era duro, comércio fechado, restrições de circulação, proibição de aglomerações, toque de recolher. Mas é uma das mais belas experiências que eu e minha família vivemos nos últimos anos. Saímos todos recarregados, tristes por não ficar mais, mas levando muita coisa boa na alma e no coração.

Bom Despacho continua acolhedora e humana. Vocês podem não perceber, mas são características raras e valiosíssimas num mundo de concreto, indicadores e metas. BD está um pouco menos escaldante, um pouco mais seca, um pouco maior, um tanto mais asfaltada. Mas continua tendo a Praça da Matriz, a festa de Nossa Senhora do Rosário, o Reinado, a Biquinha, o Batalhão, as cooperativas e o cooperativismo, a Praça de Esportes e o Ipê, Famorine, Associação e Cristalino, as festas juninas, os tapetes de serragem no Corpus Christi, enfim, um sem número de tradições e características que formamos e preservamos. E cada uma delas tem um quê de família, de acolhimento e humanidade típicos de Bom Despacho.

Para você que está aí, saiba que tem um privilégio que muitos de nós aqui e acolá sonhamos um dia voltar a ter. Bom Despacho é da hora! Cultivem.

 

Paulo Henrique Alves Araújo

Paulo Henrique Alves Araújo é gestor e servidor público, mestre em computação e gerente de projetos de inovação

2 thoughts on “Bom Despacho é bão dimais, sô!

  • 28 de março de 2022 em 22:10
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    Eu como conterrânea morando no Rio Grande do Sul na terra dos presidente em São Borja..tenho orgulho em falar que sou de Bom Despacho…e saudades.
    Atualmente estudo na Unipampa e na Anhanguera.. e casada..como é longe só da para ir uma vez ou outra..
    Sou filha do Ferrinho mecânico e fui por muito tempo funcionária da prefeitura deixei muitos amigos e familiares pra fazer a vida aqui..

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  • 1 de abril de 2022 em 06:11
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    Compartilho com seu sentimento Paulo Henrique. Moro aqui hoje, mas já vivi em muitos lugares desse nosso Brasil e sempre soube que prá cá retornaria. Muito me entristece ouvir falarem mal daqui. Defendo sempre minha cidade contra os que dela desfazem. E mais. Os convido a irem para lugar melhor. A mesma porta que te recebe é a da saída.

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