Correr não emagrece, comer bem, sim

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), 22% dos brasileiros adultos e 10% dos adolescentes e crianças estão obesos. Com sobrepeso são 50%. Isto é alarmante porque a obesidade está associada a doenças como hipertensão, diabetes e câncer. Excesso de peso rouba a vida duas vezes: em duração e em qualidade. Além disto, tem um custo muito elevado para o SUS.

Por que engordamos? Se sabemos que sobrepeso adoece e mata, por que o número de obesos continua crescendo no mundo inteiro? Não é por culpa dos gordos porque comem muito, nem é por falta de exercício porque são preguiçosos. A causa principal é a alimentação incorreta. Em alguns casos pode haver uma pequena ajuda de uma genética desfavorável.

Nossa capacidade de fabricar e armazenar gordura é uma coisa boa. Dependemos dela para viver. Contudo, ela se torna negativa quanto sai de controle.

A gordura é um regulador de energia. Quando comemos, guardamos como gordura a energia que não podemos usar de imediato. Entre uma refeição e outra, queimamos esta reserva. Desta forma podemos ter energia dia e noite e nunca acumulamos gordura em excesso.

Este mecanismo é útil quando está bem regulado. No entanto, ele se torna problemático quando está mal regulado. E o que o desregula é a comida errada. Comida errada é aquela que gera muita insulina e fornece poucos nutrientes.

Regulador da engorda

A geração de gordura no nosso corpo é comandada pela insulina e auxiliada por outros hormônios e algumas enzimas. Quando produzimos muita insulina, engordamos; quando produzimos pouca, emagrecemos. Portanto, não tem segredo: para não engordamos em excesso temos que limitar a produção de insulina.

Controle da insulina

Nossa alimentação precisa nos fornecer nutrientes essenciais, como vitaminas, minerais, proteínas e gorduras. Nenhum deles provoca uma enxurrada de insulina. Portanto, não engordam.

Com os carboidratos a situação é diferente. Em minutos eles se transformam em açúcar e obrigam o pâncreas a produzir carradas de insulina. A insulina obriga o fígado a transformar o açúcar em gordura e enviá-la para armazenamento nas células. Aí acontecem duas coisas indesejáveis: aumento de triglicérides no sangue e aumento da gordura armazenada.

Por isto se pode afirmar que toda obesidade tem origem na comida feita com açúcares, doces, bolos, pães, farinhas, mandioca, macarrão, pão, maisena e grãos como arroz, centeio, trigo, milho. Tudo isto engorda.

Há um agravante: como os carboidratos estimulam em demasia a produção de insulina, o açúcar no sangue cai muito. Quando isto acontece, a pessoa sente uma vontade incontrolável de comer. No entanto, esta fome não é saudável pois não indica verdadeira necessidade do organismo. Ela indica apenas que o açúcar no sangue está muito baixo. Mesmo assim, a forme é forte e a pessoa não resiste e come mais. O ciclo se repete e a pessoa continua acumulando gordura.

Ao eliminar o consumo de carboidrato a pessoa interrompe este círculo vicioso, para de engordar e pode começar a emagrecer. Mas, como não queremos passar fome e precisamos de energia para viver, ao eliminar os carboidratos temos que substituí-los por proteínas e gorduras.

Nesta troca temos mais um ganho: as comidas boas, como carnes e ovos são também as melhores fontes de vitaminas e minerais. Combinadas com uma salada de folhas e uma boa porção de azeite de oliva temos uma refeição de alta qualidade e que não engorda.

Há um porém. Apesar dos problemas que o excesso de insulina causa, nós não podemos viver sem ela. Se mais não fosse, porque ela não deixa o açúcar se acumular no sangue e estimula o crescimento e renovação do organismo.

Mas isto não é problema quando comemos proteínas — especialmente as proteínas animais. Elas também estimulam a secreção de insulina. Mas, diferentemente dos carboidratos, é um estímulo suave, sem os excessos. Especialmente se forem usadas com moderação, ou seja, de 40 a 120 g por dia para um adulto, dependendo do peso, idade, sexo e atividades da pessoa.

Há mais: diferentemente dos carboidratos, as proteínas e gorduras têm um grande efeito saciante. Ou seja, matam a fome mais depressa e ela demora mais tempo a voltar. Mais um motivo para a pessoa engordar menos.

Finalmente, ao contrário do que muitos pensam e dizem, comer gordura boa não engorda, não aumenta o colesterol, não aumenta os triglicérides. Quem causa todos estes malefícios são os carboidratos.

Portanto, é isto que nos diz a ciência: regule a produção de insulina e você regulará seu peso.

No entanto, entre as coisas que as pessoas mais comem atualmente estão os açúcares, grãos, óleo de sementes (soja, milho, canola) e produtos industrializados com preponderância de carboidratos refinados. Não admira que a Terra esteja se tornando um planeta de pessoas gordas que sofrem de diabetes e outras doenças metabólicas.

Exercícios não emagrecem

O conselho que os gordos mais ouvem é que devem fechar a boca e movimentar-se mais. A história mostra que este conselho é inútil. Basta ver que ele vem sendo repetido há mais de 50 anos e o resultado é o oposto: as pessoas estão engordando cada vez mais. Há várias razões para isto, mas as duas mais importantes são estas:

a) ninguém consegue viver de boca fechada para sempre. A fome não deixa.

b) exercício não emagrece.

Assim, quem tenta seguir o conselho apenas perde peso por algumas semanas ou poucos meses e depois volta a engordar tudo de novo e mais um pouco. É o famoso efeito sanfona.

O gordo não engorda por ser glutão, por comer em excesso; ele engorda porque come comida engordativa.

Quanto aos exercícios, vamos a alguns cálculos simples. Digamos que o médico tenha determinado que a pessoa precisa perder 10 quilos. Para eliminar isto fazendo exercícios — e sem alterar a alimentação — ela precisará correr 1.290 quilômetros (quilômetros, não metros!). Se não quiser correr, poderá nadar por 265 horas ou ainda pedalar por 370 horas.

Isto, se tiver deixado de comer errado e não continuar engordando um pouco a cada dia.

Vamos a outra conta.

Pai e filho se sentam para conversar. O pai come um Big Mac e toma três latinhas de cerveja enquanto o filho come um Big Mac e toma três latinhas de Coca-Cola. Isto dá 1.000 calorias para cada um. Para queimá-las fazendo exercício, pai e filho terão que caminhar 15 quilômetros!

Para eliminar só a gordura produzida por uma latinha pequena de Coca-Cola (250 ml) a pessoa precisaria caminhar 1.500 metros.

É por isto que não é possível compensar a comida engordativa com exercícios. O necessário é eliminar comida que engorda e consumir comida de verdade. Ou seja, aquela que nos fornece todos os nutrientes essenciais em quantidades adequadas: proteínas, gorduras, vitaminas, minerais e fibra, mas que não contenha carboidrato. Se tiver, que seja em pequena quantidade e em forma natural, não industrializada..

Quanto aos exercícios, todos devemos praticá-los do berço ao túmulo. Todos os dias. Mas não com o intuito de emagrecer, mas sim porque eles melhoram nossa saúde, clareiam nosso raciocínio, aumentam nossa disposição e melhoram nosso sono e nosso humor.

Fazer exercício é ótimo, mas para emagrecer o jeito mesmo é comer bem e até a completa saciedade. Sem sacrifício, sem sofrimento, sem fome.

Mude o que você come e você chegará ao seu peso ideal. Afinal, correr não emagrece, comer bem, sim.

Fernando Cabral

Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho

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