Covid, Nutrição e Saúde

Desde o início da pandemia de covid que os pesquisadores têm observado que certos tipos de pessoas têm mais propensão a pegar a doença e sofrer mais com ela. Três elementos têm se mostrado mais relevantes: a nutrição, a saúde e a idade. Saúde e nutrição estão necessariamente relacionados, mas idade, por si só, não significa nem falta de saúde nem nutrição inadequada. Mas é certo que boa saúde vai além de boa nutrição. O problema é que a falta de saúde e de boa nutrição não pode ser resolvida com medicação. Tampouco pode ser resolvida da noite para o dia.
A magreza e a gordura

A história antiga nos mostra que seus personagens raramente são gordos. Quando são, geralmente são trados como vilões; pessoas malvadas, glutonas, gananciosas. Não importa se procuramos entre egípcios, romanos, gregos ou troianos, nas civilizações antigas predominavam os magros. Entre asiáticos, africanos e nativos americanos não é diferente.

Mas não temos apenas descrições. Temos obras de arte com representações humanas. As pirâmides e obeliscos egípcios registram figuras humanas.

Na idade média a predominância dos magros continuou. É verdade que aparecem alguns gordos e gordas em pinturas da época, mas quando se verifica de perto, são exceção. Os poucos gordos que aparecem são geralmente monges, frades, reis, áulicos e vilões (vilão aqui no sentido de citadino). A gordura simbolizava a opulência, a preguiça, a vida sedentária.

Outra fonte de informação sobre a presença (ou ausência) de gordos são os nativos encontrados pelos europeus em suas explorações ultramarinas. Chineses, japoneses e asiáticos seguiam o mesmo padrão de magreza generalizada, com raros gordos. Os povos das Américas, África, Austrália e ilhas do Pacífico também.

Exceções existiam. Eram exceções.

Nos últimos dois séculos temos uma documentação visual mais fiel da presença dos gordos entre os magros. Começamos com as primeiras fotografias, depois passamos a ter também filmes. Com o surgimento da televisão chegaram os videotapes. Mais tarde as câmaras digitais e os celulares com câmaras.

A comparação destas imagens históricas com imagens atuais revelam uma diferença enorme entre o peso médio das pessoas de hoje e de 50, 100 ou 200 anos.

Por todos estes elementos podemos ter certeza de que ser magro era a regra; ser gordo, exceção. Hoje a situação já se inverteu: ser gordo é a regra; ser magro é exceção.

Por que as pessoas eram magras?

As pessoas eram magras por três motivos. Primeiro, porque não havia comida sobrando. Era a conta para a subsistência. Segundo, porque a comida que comiam não era particularmente engordativa. Terceiro, porque todos gastavam uma quantidade enorme de energia por dia.

Na verdade, não raro a magreza era também sinal de subnutrição.

Hoje a situação é diferente. A comida é abundante. Tão abundante que quase um terço de todo o lixo coletado nas cidades é de alimento jogado fora! Bem diferente de antigamente, quando não se desperdiçava nada que pudesse ser aproveitado como alimento.

Esta abundância tem um porém: a maior parte da comida é de baixa qualidade. Isto significa que ela é rica em calorias, mas tem baixo valor nutricional. Ou o que pior: é tóxica para nossos organismos.

A pior consequência da comida barata, de má qualidade e tóxica (como os industrializados) foi o surgimento dos gordos subnutridos. Gordos carentes de minerais, vitaminas, gorduras essenciais.

Em outras palavras, até o passado recente a desnutrição era companheira da magreza. Atualmente a desnutrição é companheira do excesso de peso.

Dois alimentos exemplificam bem o que é comida engordativa, tóxica e de baixo valor nutricional: açúcar e óleos de sementes. O açúcar só fornece calorias (energia) e mais nada. Como já temos energia demais, ela se transforma em gordura. Ao fazê-lo, consome nossas reservas de vitaminas e micronutrientes. Os óleos de sementes (soja, principalmente) são produzidos mediante processos industriais que os tornam venenosos. Como são muito energéticos e inflamatórios, eles provocam doenças e são armazenados como gordura. Não se tornam fonte útil de energia.

Finalmente, usamos carro, elevador, controle remoto, máquinas e mais um monte de coisas que nos dispensam de gastar nossa própria energia. Ou seja, atualmente gastamos energia elétrica e energia do petróleo do que energia corporal. Toda energia corporal economizada vira gordura.

Assim, combinando comida energética e nutricionalmente pobre com uma vida sedentária, a humanidade vai engordando cada vez mais.

A gordura não deveria ser nossa inimiga. Ela é uma reserva que a natureza nos permite criar quando temos comida. Mas esta reserva deveria ser usada em tempo de escassez. Contudo, com comida abundante o tempo todo, só armazenamos e nunca gastamos. É aí que começam os problemas.

Comida abundante não significa comida nutritiva. Muito pelo contrário. As comidas industrializadas não têm nutrientes com a quantidade e com a qualidade que nossa saúde exige. Elas têm apenas gorduras de má qualidade (óleos) e carboidratos que se transformam instantaneamente em gordura. Ou seja, os carboidratos e estes tipos de gordura (óleos de sementes) nos engordam, mas não nos nutrem e não nos dão saúde.

Esta falta de nutrientes com a falta de exercícios completa o quadro da doença. Seus nomes são vários, mas estão ligadas à mesma origem que são as doenças metabólicas: obesidade, diabetes, câncer, doenças cardíacas e circulatórias variadas. Todas estas doenças existem — mas são raras — onde não há problemas alimentares.

A covid neste cenário

A covid ainda esconde muitos mistérios. No entanto, algumas características estão se revelando. Os cientistas já têm evidências de que suas consequências são mais graves entre pessoas que têm excesso de peso, diabetes e síndrome metabólica em geral. Os desnutridos sofrem mais – não apenas no caso da covid, mas no caso de todas as doenças. Também se sabe que em desnutridos e obesos o sistema imunológico é menos competente.

A idade — um importante fator de risco para a covid-19 — não raro é acompanhada da desnutrição. Este fato e algumas morbidades contribuem para a maior letalidade da covid entre idosos.

Neste cenário, alguns nutrientes têm recebido destaque por haver indícios de que sua falta agrava a doença. Exemplos são as vitaminas C e D e o zinco. Mas a verdade é que todos os micronutrientes são essenciais. Minerais ou vitaminas, o organismo precisa de todos eles de forma equilibrada. Porém, estes estão ausentes ou quase ausentes nos alimentos industrializados. Nestes, a única coisa que sobra abundantemente é um nutriente não essencial, os carboidratos. Todos os demais faltam ou estão desequilibrados. Sem falar nos tóxicos conhecidos como saborizantes, flavorizantes, conservantes, corantes. Por tudo isto não admira que os obesos sejam também desnutridos e sofram de variadas doenças — com destaque para o diabetes tipo II.

Outro fator que torna o sistema imunológico menos competente é o sedentarismo. A prática regular de exercícios — que pode ser dispensado quando a pessoa faz muito trabalho braçal — melhora a saúde e fortalece o sistema imunológico.

Resgate da saúde

Por desnutrição, obesidade ou envelhecimento, é certo que nossa saúde vai decaindo ao longo dos anos. Mas é bom observar que ninguém fica obeso de um dia para outro. Ninguém desenvolve diabetes tipo II de um mês para outro. Estes males são resultado de um processo lento e continuado (mas não inexorável e irreversível).

Mas, assim como o adoecimento, a recuperação também exige tempo. Ninguém consegue recuperar a saúde e o sistema imunológico de um dia para outro. Não adianta a pessoa tomar doses elevadas de vitaminas e minerais depois que a doença se instalou. A recuperação é também um processo lento e continuado.

Isto não significa que, em alguns casos, uma dose suplementar de minerais ou de vitamina não possa ajudar na recuperação de uma crise aguda. No entanto, a recuperação da saúde integral só será conquistada com mudanças permanentes de nossos hábitos alimentares e com a adoção de uma vida com mais atividade física.

Quanto aos alimentos, a primeira regra — a mais importante — é abandonar todos os alimentos industrializados e adotar comida de verdade.

Comida de verdade é aquela que nossos avós comiam. Comida que vinha dos pastos, dos currais, dos chiqueiros, dos galinheiros, dos rios e lagos.

Quanto aos exercícios, a primeira regra — a mais importante — é movimentar-se. Caminhar, correr, nadar, pedalar, ou simplesmente abandonar o carro, guardar os controles remotos, preferir a escada ao elevador, fazer trabalhos braçais e brincar. Academia também pode ajudar.

Com estas mudanças na alimentação, e com a adoção de uma vida menos sedentária, poderemos acabar com nossa falta de saúde e fortalecer nosso sistema imunológico. Com isto estaremos mais preparados para evitar ou enfrentar não só a covid-19, mas também todas as demais doenças.

A saúde começa pela boca, passa pelos exercícios e aumenta com o convívio intenso e harmonioso com nossos amigos e com nossa família.

Ninguém tem o segredo da vida eterna, mas todos temos os conhecimentos para uma vida mais alongada e mais saudável.

Fernando Cabral

Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho

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