A água e suas facetas
“Água que nasce na fonte / Serena do mundo / E que abre um profundo grotão / Água que faz inocente / Riacho e desagua / Na corrente do Ribeirão / Águas escuras dos rios / Que levam a fertilidade ao sertão / Águas que banham aldeias / E matam a sede da população / Águas que caem das pedras / No véu das cascatas / Ronco de trovão / E depois dormem tranquilas / No leito dos lagos / No leito dos lagos / Água dos igarapés / Onde Iara mãe d’água / É misteriosa canção / Água que o sol evapora / Pro céu vai embora / Virar nuvens de algodão / Gotas de água da chuva / Alegre arco-íris / Sobre a plantação / Gotas de água da chuva / Tão triste são lágrimas / Na inundação / Águas que movem moinhos / São as mesmas águas / Que encharcam o chão / E sempre voltam humildes / Pro fundo da terra / Pro fundo da terra / Terra! Planeta água / Terra! Planeta água / Terra! Planeta água / Água que nasce na fonte / Serena do mundo / E que abre um profundo grotão / Água que faz inocente / Riacho e desagua / Na corrente do Ribeirão / Águas escuras dos rios / Que levam a fertilidade ao sertão / Águas que banham aldeias / E matam a sede da população / Águas que movem moinhos / São as mesmas águas / Que encharcam o chão / E sempre voltam humildes / Pro fundo da terra / Pro fundo da terra / Terra! Planeta água /
Terra! Planeta água / Terra! Planeta água / Terra! Planeta água / Terra! Planeta água / Terra! Planeta água”.
A letra acima é da música “Planeta Água”, do Guilherme Arantes.
Mas, a minha preferida sobre o tema é esta do Djavan, cujo título é “Água”.
“Tudo que se passa aqui não passa de um naufrágio / Eu me criei no mar e foi lá que eu aprendi a nadar / Pra nada, eu aprendi pra nada / A maré subiu demasiada e
E tudo aqui está que é água / Que é água / Água pra encher, água pra manchar / Água pra vazar a vida / Água pra reter, água pra rasar / Água na minha comida / Água pra encher, água pra manchar / Água pra vazar a vida / Água pra reter, água pra rasar / Água na minha comida / Água, aguaceiro, aguadouro / Água que limpa o couro, couro até mata /
Água, aguaceiro, aguadouro / Água que limpa o couro, couro até mata / Água, aguaceiro, aguadouro / Água que limpa o couro, couro até mata / Água, aguaceiro, aguadouro / Água que limpa o couro, couro até mata / Água, aguaceiro, aguadouro / Água que limpa o couro, couro até mata…”.
A água é um dos elementos mais lindos, mais imprevisíveis (e percebam que trabalhei na Somar Meteorologia por dez anos), mais salvadores, mais destruidores de todos.
Um dos maiores estranhamentos que tenho com a água é que em espanhol este elemento é masculino: él água ou “o água”. Pela instabilidade, violência que pode atingir e destruição que pode causar, faz todo sentido que seja masculino, como consideram os povos que falam espanhol.
Começo essa reflexão com uma pequena homenagem aos que morreram em Furnas. Há poucos anos, passei um dia inteiro ali com minha então namorada bom-despachense e minha sogra. Lembro-me claramente que nadei por um bom tempo com dona Geni exatamente no local onde a rocha de desprendeu e matou muitas pessoas. Poderia ter sido nós a morrer ali. Tristeza e homenagem aos mortos.
Há muitos anos eu rezo todos os dias para que chova muito em São Paulo, pois nossas represas estão sempre em torno de 20% da capacidade de água. Passamos maus bocados com a falta d’água há menos de uma década. Lembro-me que na casa de minha mãe havia água a cada três dias, como forma de economia, imposta pelo governo estadual. E percebam que minha mãe mora em um bom bairro, tem uma boa casa, ou seja, não está na tradicional lista de população abandonada pelo estado. Por causa desse período, mudei minha vida totalmente no que se refere a água. Até hoje tomo banho com um balde embaixo do corpo, recolhendo cada gota de água, que depois será utilizada nos vasos sanitários. A cada chuva, minha mãe abre os inúmeros baldes de 100 litros que ficam no quintal, guardando essa água para lavar o quintal, usar nos vasos sanitários etc. Meu banho, que antes era de muitos minutos, hoje resume-me a cinco minutos.
Apesar de minhas torcidas pela chuva constante, quando vejo o que está acontecendo no sul da Bahia e em Minas Gerais, é impossível não ficar emocionado. A água, que dá vida, pode trazer a morte. Infelizmente ou felizmente, a natureza tem sua própria lógica, podendo ficar muito tempo sem ter chuvas e ter muita chuva em poucas horas.
Minha amiga bom-despachense, a Iara Queiroz, havia me convidado para a inauguração de um espaço de shows que criou em Bom Despacho. Eu estava muito empolgado, pois iria voltar à cidade que tanto adoro, iria rever meus amigos bom-despachenses, iria voltar a encontrar minha ex-namorada bom-despachense, e quem sabe, retomar nosso caminho juntos…
Por causa da chuva, a Iara nos avisou que a inauguração de sua “casa de shows” está adiada para quando a chuva permitir. Puxa, não vou ver meus amigos, nem minha ex-namorada bom-despachense…
Vi imagens de lugares que adoro em Bom Despacho, todos que frequento com alguma regularidade. Vi imagens da Ponte da Amizade e do Rio Lambari, no qual costumo nadar. Nuuuu, a água está sobre a ponte. Linda imagem à distância, mas que medo de estar ali…
Vi imagens de uma estrada em Pitangui no qual pedalamos algumas vezes. Vi imagens de um bar que tomei algumas cervejas em um dos passeios. Tudo inundado.
Vi imagens das rodovias que sempre trafego quando estou em Bom Despacho: muitos buracos, muitos deslizamentos, muitos problemas…
A natureza depende de quem a olha: algo que não gosto, pode ser a salvação de outras pessoas. Espero que São Pedro encontre um equilíbrio entre a quantidade de chuvas em São Paulo, pois precisa chover muito aqui, e em Minas Gerais, especialmente, Bom Despacho. E no sul da Bahia, no Maranhão, na Amazônia, enfim, em todos os lugares.
E que as chuvas me permitam voltar a Bom Despacho rapidamente e tomar umas no espaço da Iara Queiroz… e reencontrar minha ex-quem sabe futura-namorada bom-despachense…
Como dizia a música do Demetrius: “chuva traga o meu benzinho, pois preciso de carinho…”. (Foto: Ponte da Amizade coberta pela água)