Neste Natal, faça diferente
Natal é, antes de tudo, a comemoração da vida, é a comemoração do nascimento
Cada vez mais o Natal toma feições de uma festa pagã e capitalista. Além da oportunidade para exagerar nas bebidas e nas comidas, a troca de presentes parece ser seu objetivo principal. O comércio se agita e todos avançam nos cartões de crédito e nos carnês. Esquecidas no fundo da nossa mente estão as memórias esmaecidas da origem do Natal: o nascimento de Cristo que teve um estábulo por abrigo e uma manjedoura por berço. Que significado podemos extrair desta narrativa?
A bíblia enriquece quem a lê, não importa que religião a pessoa siga. Afinal, ela registra uma longa história da região considerada o berço da civilização. Segundo alguns estudiosos ela teria começado a ser escrita cerca de três mil ou quatro mil anos atrás.
Até o nascimento de Cristo, a bíblia registra a história do povo judeu, suas andanças antes de chegarem à terra prometida e as culturas e tradições dos muitos povos que os influenciaram. Depois do nascimento de Cristo a bíblia registra a história do avanço do cristianismo. Primeiro, em Roma e seu império, depois por todos os continentes e rincões do planeta.
Hoje a bíblia é fonte dos mais variados ritos religiosos, como o da igreja de Roma, igreja do Oriente, igreja Anglicana, igreja Ortodoxa e muitas e variadas denominações protestantes.
Mas, não importa o rito e as práticas, todas as religiões direta e indiretamente ligadas a Cristo seguem um preceito que, segundo Mateus, foi assim enunciado por Jesus: amarás o teu próximo como a ti mesmo (Mateus, 22:39).
Esta é a regra de ouro do convívio saudável, do respeito mútuo, da vida em sociedade. Quando não há respeito mútuo, a violência cresce, o sofrimento floresce, a desarmonia se instala.
Natal, como símbolo do nascimento de Cristo, é ocasião propícia para praticarmos a solidariedade, este sentimento que nos une a todos em torno do impulso de ajudar ao próximo.
Neste Natal, você já pensou nisto?
Aqui vai meu primeiro pedido de Natal
Já voltou seus olhos, seus pensamentos e suas ações para o próximo, especialmente para o mais necessitado? Se ainda não o fez, é hora de fazê-lo, não importa que crença professe. É isto que significa amar o próximo como a sim mesmo.
Aqui vai o segundo pedido
Antigamente o Natal era uma festa de família. No Brasil predominantemente católico de antanho, o dia de Natal começava no dia 24 de dezembro, quando todos os jovens e adultos se dirigiam à igreja para a Missa do Galo. As crianças ficavam em casa, dormindo. Naquele tempo de pouca luz nas casas – e menos ainda nas ruas – e sem teclados e sem telas brilhantes, não era fácil manter as crianças acordadas até tarde. Assim como não era fácil mantê-las dormindo depois do crepúsculo matinal.
À meia-noite o padre começava a missa e era assim que os bom-despachenses começavam o dia de Natal.
Lembro apenas para os mais velhos – aliás, para os muito velhos: se a missa fosse celebrada pelo Padre Ivo, ela terminava em 15 minutos, mas se fosse celebrada pelo Padre João, poderia demorar mais de uma hora.
Iniciado pela Missa do Galo, o dia do Natal prosseguia com a ceia. Em cada casa, modesta ou suntuosa, os familiares se sentavam à mesa e ceavam. Alguns comiam leitoas e perus regados com vinho; outros, um franguinho com angu e talvez uma talagada de cachaça. Mas, numa e noutra o espírito do Natal estava presente por causa da reunião da família. Realizavam-se as palavras de Cristo: porquanto, onde se reunirem dois ou três em meu Nome, ali Eu estarei no meio deles.
E era em nome dele que a família se reunia.
Aqui vai meu segundo pedido: quando você se reunir para o Natal, faça-o em nome da harmonia familiar e da solidariedade para com o próximo.
Aqui vai o terceiro pedido
A tradição de dar presentes é muito antiga e vai além do que a história registra. Mas no Natal houve um momento precioso, embora cheio de mistérios. É a chegada dos reis magos e seus presentes.
O Mistério começa quando Mateus diz que vieram do Oriente. De onde, ninguém sabe. A bíblia não nos diz. Mas, séculos após o nascimento de Cristo, ficou convencionado que vieram da Babilônia, da Pérsia e da Arábia, mas não há como saber ao certo. Nem mesmo se sabe se são três. Os evangelhos não afirmam isto.
Embora chamados de reis, os reis magos não eram reis. O nome mago, que chegou até nós pelo grego e pelo latim, era usada na pérsia para referir-se a sacerdotes e astrólogos. Daí fazer sentido dizer que acharam Jesus seguindo uma estrela.
Mas, antes de encontrar Jesus, os magos encontraram Herodes. Herodes, no entanto, queria matar a criança. Mas, espertalhão que era, não disse isto aos magos. Ao contrário, disse que sabia da profecia e que queria homenagear o menino. Com esta desculpe, pediu aos magos que lhe trouxessem o paradeiro do recém-nascido tão logo o encontrassem.
Dali a estrela continuou guiando os magos e eles chegaram à estrabaria onde estava Jesus, dormindo numa manjedoura.
Os magos lhe deixaram três presentes: ouro, incenso e mirra.
O ouro simboliza o reconhecimento de que Cristo era Rei, ou Deus.
O incenso simboliza os rituais realizados em templos. Ele perfuma o ar e sua fumaça sobe aos céus.
A mirra representa a mortalidade, pois era um produto usado no embalsamamento de corpos.
Após presentear Cristo e antes de partirem, os magos tiveram uma visão em sonhos. Ela lhes disse para tomarem outro caminho e fugirem de Herodes, pois ele queria saber onde o menino estava para mandar matá-lo. Foi o que os magos fizeram.
O simbolismo dos seus presentes são um presente para nós. A mirra nos lembra da nossa mortalidade e que precisamos aproveitar a vida que temos.
O incenso perfuma o ar e nos lembra que devemos ser agradável aos olhos de todos.
O ouro nos lembra que todos têm valor e devem ser respeitados por isto.
Quarto pedido
Nos últimos 100 anos o Natal veio se transformando lentamente de festa de família, de aconchego, de amor, em festa de presentes, diversão e farra. Pais e mães dão presentes caros e chamativos a seus filhos e filhas e dão sua missão por cumprida. No entanto, meio século atrás as coisas eram diferentes.
Naquela época as crianças já ganhavam presentes de loja, mas eram raros e esparsos. O principal presente no dia do Natal era a reunião da família; era a confraternização; era o convívio. Quando o dia amanhecia as crianças corriam para a rua para brincar com os vizinhos e compartilhar seus brinquedos.
Os pais, vizinhos e amigos sempre por perto eram os presentes mais importantes, ainda que ninguém percebesse isto.
É lembrando destes tempos que se foram, mas podem voltar, que lhe faço o quarto pedido: beba seu espumante, seu uísque ou sua cerveja, coma e comemore, mas separe um tempo – muito tempo – para simplesmente ficar perto dos seus filhos e filhas; seus pais e mães; seus amigos e amigas; seus vizinhos e suas vizinhas. Natal é, antes de tudo, a comemoração da vida, é a comemoração do nascimento.
Neste Natal, faça diferente: coloque os presentes em segundo plano e traga sua presença e seu carinho para o primeiro plano. Feliz Natal!