Pensar e mover-se além da pandemia

Vivemos um momento incomum, para dizer o mínimo. A humanidade caminhava com poucos solavancos e considerável harmonia. Pouco se ouvia de guerras ou outras grandes ameaças, as quais figuravam apenas em filmes e outras peças de ficção. Alguns riam ao lembrar que, na segunda metade do século XX, famílias compravam pedaços de terra em Bom Despacho para subsistir no caso de uma terceira guerra mundial. As fronteiras estavam cada vez menores e a globalização nos fazia cada vez mais cidadãos do mundo. Daí veio uma pandemia e mudou um monte de certezas.

Acredite você ou não na gravidade da doença, a pandemia afetou sua vida também. Infelizmente, ela trouxe experiências negativas para a maior parte de nós. Difícil encontrar quem não tenha perdido ao menos um conhecido para a Covid-19, muitos perderam seus empregos, tiveram que interromper os estudos ou fechar seus negócios. E agora essa aflição na espera pela convocação de pessoas para a vacinação no antigo Sesc? Mas há boas notícias também, aqueles que iniciaram novos projetos, impulsionaram antigos planos. Por exemplo, a maioria das salas que fecharam em Bom Despacho já foram reocupadas. A maioria de nossos produtores rurais está feliz com o aumento dos preços dos produtos agrícolas, caminhoneiros trabalharam como nunca, farmácias e mercados estão se ampliando. Crises sempre geram oportunidades.

A pandemia nos fez conviver com desafios e mudanças muito acima da média. Em várias situações, fomos obrigados a adaptar nossas vidas ao que alguma autoridade acreditava ser o melhor. E rapidamente. As mudanças têm vindo com carga pesada de dilemas, com riscos às nossas vidas ou de pessoas queridas, e com pressão por respostas quase sempre instantâneas. Nessas condições, entramos naquele turbilhão de fazer tudo ao mesmo tempo agora, com pouco espaço para pensar. O caos que vivemos nos fez ser muito mais instintivos do que racionais, muito mais passivos do que propositivos. Acredito que parar e pensar pode fazer grande diferença – e já está fazendo para quem percebeu isso.

Voltemos à vida que tínhamos antes da pandemia… O mundo era abundante e, frente às opções que se apresentavam em diversas situações, era comum nos perdermos, nos angustiarmos, travarmos ou escolhermos nada escolher, deixando a vida nos levar. Não sem razão, a depressão já vinha se tornando uma doença mais comum do que desejávamos, a “doença do século”, e as pessoas reclamavam mais de frustrações do que de perdas propriamente ditas. Saber escolher e viver bem com suas escolhas, tanto as que tomava para si quanto as que abandonava, valia muito.

A ciência passou a estudar formas de lidar com os excessos desse mundo, seja de informações, problemas ou oportunidades. O que aprender, em que acreditar, qual problema resolver, a que nos dedicar. Priorizar e escolher se tornou fundamental. E, para complicar, um senso de urgência crescia entre nós. Se algo era urgente e importante, era feito, e imediatamente. Se não era urgente nem importante, também era fácil resolver: só não fazer.

Mas, e se fosse apenas urgente? Muitos faziam, pressionados pela “gritaria da urgência”, sem prestar atenção ao pouco que agregava para seus interesses, ou mesmo sem tê-los claros. As escolhas tinham que ser rápidas, havia pouca tolerância com o tempo. A urgência desses tempos levou a uma avalanche de histórias interrompidas. Empreendimentos que pouco duravam, casamentos que ruíam frente às primeiras dificuldades, valores fragilmente estabelecidos.

E quanto ao que era importante, mas não urgente? Era frequentemente deixado de lado, porque não sobrava tempo para sequer pensar a respeito. O que deveria ser o principal objeto do planejamento, uma vez que era relevante e dispunha de tempo para ser bem feito, era relegado a segundo plano ou esquecido. Já ouviu aquela máxima de que “ficamos tão envolvidos com o dia a dia que não conseguimos planejar o futuro”?

Voltando a 2021, são tantos gritos de urgência, que muitos estamos sem o controle de nossos destinos. Estão claras a urgência e relevância da vacinação contra a Covid-19. Quanto antes e quanto mais pessoas, melhor. Entretanto, muitos caminhos que temos tomado têm a mesma urgência, mas não a mesma convicção, não foram pensados. Nesse período, eu me senti atônito, congelado, em várias situações. E muitas vezes fui na direção em que o vento soprava. Quando tomei consciência disso, percebi oportunidades que estava perdendo e problemas que estava abraçando sem a mínima necessidade. Revi alguns aspectos da minha vida pessoal e profissional e me vejo mais feliz e com melhores perspectivas com as escolhas atuais.

Minha sugestão? O bom e velho “pare para pensar”. Nos seus diversos papéis, você está fazendo o que é importante ou está simplesmente correndo, empurrado pelas urgências desses tempos? Isso vale para você, para seu negócio, para as demais organizações de que é parte, para o município de Bom Despacho como um todo. Infelizmente, essa crise tem trazido dor e perdas. Sentimos e sentiremos muito por elas. Mas, insisto, toda crise também gera oportunidades. Respire fundo, dê uma espiada à sua volta, identifique o que é importante e oportuno para você e junte-se aos que sairão melhores dessa pandemia. São essas as notícias que quero ver nos próximos meses.

Paulo Henrique Alves Araújo

Paulo Henrique Alves Araújo é gestor e servidor público, mestre em computação e gerente de projetos de inovação

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