Maternidade como missão

Há uma constante a guiar os seres vivos na ainda inexplicada dinâmica do universo infinito que nos faz suspeitar de um desígnio que vem de fora e move nossas atitudes aqui no planeta Terra. Não quer dizer que somos manipulados por algum ser sobrenatural, como marionetes, mas sim que o universo inteiro tende para um propósito que a mente humana ainda não identificou, mas pressente com nitidez e clareza. Para isso, a lei que nos guia é a de que o organismo tem que perdurar.

A mulher, nesse contexto, tem uma missão nobilíssima. Em seu seio, a vida se desenvolve, amadurece e é dada à luz. Desde o primeiro instante do nascimento, aquele amor que já acalentava, aquecia e alimentava o nascituro em seu bendito ventre, se incendeia ao primeiro choro do filho, à primeira sucção desajeitada do leite materno, único alimento que pode saciar a fome do recém-nascido, naquele momento de magia, que deve vibrar por toda imensidão do cosmos.

Nem sempre, no entanto, a amamentação do bebê, como é o desejo de toda mãe, é possível, por motivos variados. Nos tempos mais recuados, as mamães dificilmente poderiam ficar sem uma ama de leite e sempre havia mulheres que se prestavam com orgulho a ajudar outra mulher na tarefa da amamentação. Minha mãe, no início do casamento, teve um filho a cada ano. O seu coração magnânimo não aceitava amamentar só o mais novo. As amas de leite se sucediam em minha casa e nenhum dos quatro filhos se privou do néctar que a natureza mesma criou. A minha esposa, em razão de uma inflamação no seio, precisou recorrer ao banco de leite, solução mais moderna para as mães impedidas de amamentar.

Se a racionalidade resolve esse problema entre os humanos, a própria natureza socorre os irracionais, por mecanismos desconhecidos. Uma cadela, já nos dias de dar à luz, apareceu no nosso sítio, e logo depois trouxe nove filhotes, fortes e sadios, mas que não paravam de ganir, dando aquele sinal de que não estavam sendo alimentados convenientemente. A mãe tinha uma anomalia e somente três de suas mamas produziam leite. Havia lá uma outra cadela, Duda, cuja gravidez sempre foi evitada com medicamentos. Observamos que ela deitava no ninho da mãe verdadeira e os filhotes sugavam suas mamas na esperança de saciar a fome. Notamos, nos dias seguintes, que os filhotes não choravam mais. A Duda ajudava a mãe na limpeza dos filhotes, lambia-os e lhes dava calor e o seio. Intrigado, meu amigo resolveu verificar aquela situação e aí, por aqueles mistérios da natureza, constatou que a Duda tinha leite e leite em abundância. Era a mamãe cósmica, solidária, condoída com a fome dos filhotes e o desespero da mãe verdadeira.

Grandes poetas, prosadores, exímios compositores, louvaram, merecidamente, as mães em versos, crônicas e em doces melodias. A maternidade extrapola o nosso pequeno mundo e ressoa em todos os cantos do universo. Energias gigantescas e inconcebíveis se movem entre as galáxias e agitam os astros quando uma nova vida é concebida. A maternidade não é um simples fato biológico, banal. Ao contrário, é uma missão tão grandiosa quanto a do sol que ilumina o nosso quintal, adentra nossas casas, faz florescer o trigo e frutificarem as videiras, gerando e conservando a vida.

Assim como o sol nasce todo dia, cumpre a missão que lhe foi dada todo dia, também as mães, conectadas com todas as forças cósmicas, cumprem a missão de gerar e conservar a vida, excedendo-se sempre em carinho e em amor incondicional, infinito como todo o firmamento.

Homenageio todas as mães bom-despachenses na pessoa da minha esposa, Maria Celeste Morais do Espírito Santo.

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