Em busca das Araras Canindé na Matinha

Há duas semanas escrevi um artigo com o título “A natureza em Bom Despacho é surpreendente”. Eu e minha namorada bom-despachense havíamos encontrado dois veados em uma matinha, dentro de uma fazenda que pertence a um amigo da família. Avistamos os animais por alguns segundos, apenas, mas já foi o suficiente para eu passar a uma hora que corro naquele paraíso, dia sim, dia não, procurando os bichinhos, tentando revê-los e, quem sabe, até fotografá-los.

Na semana passada, enquanto corríamos, assustamos e fomos assustados por seis ruidosas araras Canindé, aquelas que são azuis nas costas e amarelas no peito e barriga. O barulho produzido por elas ao notarem nossa presença na estreita estrada de terra foi inacreditável. Eu e minha namorada bom-despachense nos assustamos muito, pois não as havíamos visto. Grandes e lindos animais! Claro, quando puxei o celular para tentar fotografá-las, já era tarde, pois elas já haviam voado para longe.

Em poucos dias, havíamos visto dois veados e seis araras. Em um momento de tanto sofrimento e dor por causa da pandemia de covid-19, uma das poucas boas notícias para mim foram esses encontros agradáveis com os belos animais.

No Domingo de Ramos, que foi objeto de um artigo na semana passada, eu e minha namorada bom-despachense corremos distâncias diferentes. Ela segue um treino indicado por seu “personal trainer”, que mistura correr X tempo em alguns dias, em outros correr X quilómetros, subir morros em outros dias. Eu já corro sempre “até o carro”, ou seja, corro com ela e, quando ela termina, eu continuo meu exercício até chegar ao carro, que paramos em pontos diferentes da estrada de terra a cada dia. Normalmente, pego o carro e a busco no meio do caminho, já que temos horários meio rígidos durante a semana. Por causa desses treinos diferentes, no domingo eu continuei correndo quando ela terminou o dela. Saí um pouco da matinha fechada e fui em direção a uma estradinha que leva à sede da fazenda do amigo que nos autorizou a usar aquele trecho de mata para exercitar-nos. Gosto desse trecho fora da matinha, pois tomo um pouco de sol matinal.

Algumas centenas de metros neste trecho e ouvi o barulho enorme das araras. Elas estavam, as mesmas seis (acho que eram as mesmas, por serem também meia dúzia), em uma árvore a poucos metros da estradinha. Fizeram aquela algazarra e voaram para uma outra árvore, uns trinta metros mais distante. Saquei meu celular e tentei fotografá-las a esta distância. Nada. Meu celular é antiquíssimo, acho que de antes de inventarem o zoom. Na verdade, ele é quase pré-diluviano. Corri de volta até a mata fechada para tentar encontrar minha namorada bom-despachense e convencê-la a ir comigo até o local onde as araras estavam. Precisava de dois milagres: 1) convencer minha namorada bom-despachense a ir comigo, depois de seu cansativo treino; 2) que as araras ainda estivessem lá nesse enorme tempo que passou entre eu as ter visto e a chegada de minha namorada ao local.

Consegui achar minha suada e cansada namorada no grito. Literalmente, gritei na matinha seu nome e ela respondeu de longe. “Venha rápido”, ordenei esperando que ela resmungaria algum xingamento de volta. Cansada, veio vagarosamente em minha direção. Pedi para que acelerasse o passo, mas não obtive resposta. Disse para correr atrás de mim, pois o prêmio seria bom. Corri até o local onde ainda se encontravam as aves. Vagarosamente, sem ter ideia do que iria encontrar, ela chegou ao ponto onde eu estava. “O que você está olhando?”, perguntou, entre curiosa e louca por uma cerveja. “As araras, as seis, estão naquela árvore, mas minha câmera não alcança as aves”. Animada com a descoberta, propôs-se a entrar no mato e ir até a árvore, para tentar fotografá-las de perto. “Ótimo”, respondi. “Eu ficarei aqui (o medo do mato alto é muito forte para um paulistano) e as filmarei voando, caso elas se assustem com sua presença”.

Liguei a câmera do celular, coloquei no modo “filmar” e acompanhei a ida de minha namora para debaixo da árvore das araras. Pressentindo a presença estranha, as araras aumentaram o volume de suas conversas. Neste momento, descobri que a câmera de meu celular é ótima para captar sons, pois ouve-se perfeitamente o som delas. Já a imagem…. Minha namorada foi chegando perto, mais perto, até que o inevitável aconteceu: as araras voaram. E pior, não na minha direção, mas para o lado oposto ao que me encontrava. Não filmei arara nenhuma, apenas a caminhada de minha namorada no meio do mato e o som das araras.

Porém, quando ela retornou ao local onde eu, em segurança, a aguardava, ela me mostrou uma única foto que havia feito, na qual se podia ver algumas araras voando. Lindo! Enviei a foto para minha mãe e irmãos, além da filha, que nunca viram uma arara na natureza. Todos me parabenizaram pela “minha” foto das aves. Para manter o orgulho, não disse que a obra de arte havia sido feita pela namorada.

Esta semana, durante minhas corridas matinais, não senti cansaço algum ao correr meus dez/doze quilómetros, pois agora passo o tempo inteiro procurando dois grupos de animais: os veados e as araras.

Na corrida de hoje, minha namorada avistou e fotografou uma teia de aranha lindíssima, que espero que o Alexandre Coelho publique junto com a foto das araras.

Foto da teia de aranha:

A natureza em Bom Despacho é realmente surpreendente!

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *