As coisas simples e as coisas belas que há em BD

ALEXANDRE MAGALHÃES  – “Brincou no brejo, brilhou no pantanal / Luz de pirilampo / O sol já morreu / Cigarras gritam pelo fim do dia / Dragão brinca na brisa / Frágil tremular / Brotam plumas palmeiras ao luar / Brilhando longe no breu do arrozal / Luz azul luzindo / Gravetos bailam / Cri cri de grilos Freud não explica / Caboclo bugre durma / Nave espacial / Gravita entre cravos e cristais”.

A música acima é de Arrigo Barnabé, um músico paranaense, mas muito envolvido com as coisas de São Paulo, e a versão que mais ouço e gosto é na voz da Tetê Espíndola, melhor e maior cantora brasileira, afirmação que já me causou muitas brigas com minha namorada bom-despachense, que acha que a voz da Tetê é aguda demais. Eu me emociono só de ouvir a voz da Tetê. E, especialmente tenho pensado muito nesta música do Arrigo Barnabé recentemente…

Para quem é nascido e criado em São Paulo, algumas coisas muitos simples, ingênuas, bobas até, têm muita importância. Coisas que não são comuns em São Paulo, mas que em Bom Despacho são situações que as pessoas não reparam mais.

Comer fruta no pé, andar no meio do mato, nadar no Rio Lambari, ouvir cigarras, ver seriemas, micos, cobras ou tamanduás, são exemplos de coisas corriqueiras para um bom-despachense, mas muito raras para um paulistano.

Há umas semanas, minha namorada bom-despachense veio me chamar para dar uma volta com ela no quarteirão. Ela estava contente e queria me mostrar um fenômeno da natureza. Andamos uns duzentos metros e paramos na rua de trás de sua casa, diante de um pasto. Era começo de noite, talvez umas 19:00 ou 19:30 horas. No pasto, claro, não havia luz e a iluminação dessa rua não é lá grandes coisas.

Parada diante da escuridão, minha namorada bom-despachense apontou para o breu na imensidão do pasto e indagou: “está vendo os vagalumes?”. Lágrimas rolaram imediatamente de meus olhos. Envergonhado, tentei disfarçar, mas era visível que eu estava descontrolado. Eram milhares de vagalumes voando diante de meus olhos. Nunca vi tão lindo espetáculo. A Torre Eiffel ou a Avenida Paulista não são tão lindos quanto esses milhares de vagalumes voando diante de meus olhos. Ficamos dez ou vinte minutos paralisados, olhos fixos na escuridão. Provavelmente, as pessoas que passaram por nós nesta noite tentaram entender para onde olhávamos. Seria para aqueles simples insetos? Ou estaria acontecendo algo mais importante naquele pasto escuro? Eram os vagalumes…

Depois de ficar imóvel por vários minutos, peguei meu celular e tentei filmar aquele espetáculo. Nada. A luminosidade emitida pelos pequenos insetos não é captada pelo meu antigo celular. Pena! Queria enviar este vídeo para minha filha, também nascida e criada em São Paulo, e que nunca viu tão bela dança. Queria enviar para minha mãe e irmãos, que provavelmente também nunca presenciaram tamanho espetáculo. Talvez, minha mãe tenha visto vagalumes em sua infância, quando São Paulo ainda tinha alguma natureza.

Foi emocionante ver a dança dos vagalumes. Uma coisa tão simples, tão corriqueira para um bom-despachense, mas tão inusitado e tão maravilhoso para um paulistano.

Como não consegui gravar a dança dos vagalumes e enviar para minha família, escrevi um texto no WhatsApp mostrando minha emoção (veja abaixo).

 

Desde essa fantástica visão, que ocorreu em dezembro (a data do WhatsApp está em inglês, ou seja, mês/dia/ano), sempre voltamos a este pasto na esperança de ver repetido aquele fenômeno. Vimos várias vezes muitos vagalumes, mas nunca naquela quantidade e com aquela beleza.

Temos visto muitos vagalumes na subida do Bairro Esplanada que dá na igreja de São Sebastião. No pé da rua, lugar sem iluminação e com muitos pastos, temos encontrado estes insetos em grande número. Nada comparado ao espetáculo daquela noite, mas que nos deixa muito felizes. É sempre muito bom ver centenas de pontinhos luminosos voando ao nosso redor.

Sempre que os vemos, eu e minha namorada bom-despachense nos perguntamos o que faz com que os vagalumes apareçam? Será o calor? Será o calor e a chuva? O que fez com que milhares deles nos emocionassem naquele dia? Se alguém souber, ficaria muito agradecido se me ensinasse um pouco sobre esses insetos.

Logo que comecei a visitar Bom Despacho, houve um dia que vi dezenas de caramujos subindo e descendo a parede lateral da casa de minha namorada. Fiquei fascinado com aquilo. Com medo de transmissão de alguma doença, já que houve uma época que noticiavam que caramujos transmitiam algumas graves enfermidades, pedimos para um amigo de minha namorada, com formação na área de zoonoses, para que nos informasse se aqueles lindos seres arredondados poderiam nos fazer mal. Diante da negativa, explicando que eram inofensivos, passei vários dias admirado com aquelas centenas de criaturas carregando suas casinhas para cima e para baixo na parede. Passados alguns dias, desapareceram…

Adoro essas pequenas alegrias que Bom Despacho me proporciona. Para quem nasceu e foi criado nesta cidade, pode parecer uma tolice ficar emocionado ou alegre de ver pequenos insetos ou animais, mas para um paulistano, isso é ouro puro, algo que vale a pena ser visto e preservado. São essas pequenas alegrias que me fazem mais feliz e mais bom-despachense.

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *