Minhas promessas para o ano de 2021 depois da Covid-19

ALEXANDRE MAGALHÃES – Esse ano de 2020 veio com defeito! Perdi três alunos para a Covid-19, perdi um vizinho e um parente distante, fora alguns amigos. A faculdade para a qual eu trabalhei por onze anos, por falta de alunos, demitiu centenas de professores, inclusive eu.

Em 2020 parei de fazer atividades que eu adoro: ir ao estádio de meu time e vibrar com suas vitórias ou me entristecer com seus empates ou derrotas; encontrar meus alunos presencialmente e dar uma boa aula; ir ao cinema, uma de minhas paixões e assistir a um bom filme, preferencialmente de um diretor europeu, brasileiro ou asiático, já que não gosto muito do cinema norte-americano e seus super-heróis milagrosos; encontrar amigos para tomar umas cervejas e caipirinhas, contar umas mentiras e dar boas risadas; enfim, viver!

A única coisa boa que vou recordar de 2020 é que passei quase o ano todo em Bom Despacho. Isso foi a parte realmente boa. Apesar de meu sogro discordar disso! Passei aqui janeiro e fevereiro inteiros, fui a São Paulo em março para começar minhas aulas, mas voltei a Bom Despacho em abril, pois a pandemia paralisou as aulas presenciais. E acabei ficando até o final do ano.

Para 2021, pretendo consertar algumas coisas que me incomodaram muito, que considero os defeitos de 2020. Não vou nem passar perto da política, pois neste ponto teria de devolver o pacote todo e pedir reembolso total ao responsável, ou responsáveis, pelo desastre.

Neste ano novo quero voltar a abraçar pessoas, mas aquele abraço forte, envolvendo a outra pessoa com os dois braços, ficar peito com peito, e apertar forte! Nunca mais quero dar soquinho na mão da outra pessoa, como se isso fosse um cumprimento civilizado.

Para esta nova etapa, quero ver os dentes das pessoas. Podem ser dentes horríveis como os meus, ou lindos como os de algumas pessoas, podem ser falta de dentes, podem ser dentes tortos, cariados, amarelos, cheios de fiapos de manga. Não me importunará ver nenhum tipo de dente. Quero ver os dentes das pessoas abrindo um sorriso ao me ver chegar, ou o que é mais comum, quando vou embora e os deixo em paz. Chega de sorrisos por trás das máscaras!

Em 2021 quero deixar de lavar as mãos! Meu sonho será não lavar a mão durante todo o ano. Quero sair do banheiro e avisar a todos que não lavei a mão, provocando apenas risos ou careta de nojo, mas não medo da morte, como ocorre hoje. Quero voltar a por a mão em tudo quando estou em uma loja. Quero voltar a beijar a mão de minha namorada sempre que sentir vontade, sem ficar pensando se posso morrer ao fazer isso. Quero economizar muita água em 2021!

Quero, neste próximo ano, esquecer que o álcool em gel existe. Não vejo a hora de entrar nas lojas e não ser obrigado a passar esse produto nas mãos e punhos. Quero esquecer que durante meses cheguei do supermercado e limpei todos os produtos, incluindo frutas com casca e ovos, com álcool em gel. Viva as bactérias!

Um dos meus sonhos é emprestar o livro que estou lendo para alguém que está ao meu lado, para que a pessoa leia um parágrafo, sem que isso seja considerado um atentado à vida de meu vizinho. Quero ler jornal no banco da praça e dividir o caderno de esportes com algum atleticano, cruzeirense ou torcedor do coelho, sem culpa, sem pensar que posso infectar esse amante do futebol.

Em 2021, quero que minha filha volte a visitar minha mãe quando desejar, sem máscara, sem se preocupar se vai infectar a avó, que possa abraçar e beijar a família toda, tios, tias e primos, sem medo, sem pensar que o pior está por vir.

Pretendo voltar a dar aulas presenciais, abraçar meus alunos, pedir uma caneta emprestada a um deles, sem me arrepender e sem correr para o pote de álcool em gel em seguida, como se minha mão fosse apodrecer por pegar um objeto alheio.

Quero voltar a ir à academia para treinar um pouco, sem que haja ninguém medindo minha temperatura, sem máscara, sem achar que vou morrer quando um outro aluno espirra ou tosse. Quero poder pegar um peso, uma barra ou usar um aparelho sem ficar neurótico com a possibilidade de morrer.

Não vejo a hora de voltar a participar de reuniões de negócio presenciais, vendo várias pessoas ao redor de uma mesa, estendendo a mão para todos os participantes, trocando um cartão de visitas sem remorso.

Em 2021, não quero cumprimentar minha mãe em seu aniversário ou no dia das mães sem lhe dar um abraço e um beijo, como fiz esse ano. E, pior, a pedido dela, já que está no grupo de risco mais alto, parte por conta da idade e parte porque tem problemas de coração.

No próximo ano, não quero repetir o que fiz esta semana: pedir para uma pessoa da família fazer o exame da Covid-19, pois ela estava com febre, dizendo a ela que não ficaria no mesmo ambiente. Não quero passar por isso novamente!

Que venha 2021, sem os defeitos de 2020! E, se der, que eu possa passar longos meses em Bom Despacho, meu único consolo neste triste ano que finda.

Feliz 2021! Cuidem-se, pois a pandemia está longe de acabar, infelizmente!

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

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