Padre Jayme: o Roda Viva surgiu de um sonho do seminário

Jayme Lopes Cançado nasceu em Bom Despacho dia 29/10/1931, numa casa existente no terreno onde hoje fica a Praça de Esportes. É filho de Luís Lopes Cançado e Antônia Clara de São José. Teve 4 irmãos. Ordenou-se padre em 08.12.1958 – portanto, há 62 anos.

Leitor voraz, sempre gostou de livros, revistas e jornais. Também é autor de 7 livros sobre educação para os pais, os jovens e as crianças. Foi professor no Colégio Comercial e no Colégio Industrial. Lecionou Português, Francês e Inglês.

Durante mais de 30 anos apresentou um programa diário na Rádio Difusora AM, de Bom Despacho.

Padre Jayme foi o fundador do Movimento Roda Viva, que reuniu jovens e adolescentes de Bom Despacho a partir do final dos anos 60. Durante décadas foi um guia espiritual e mobilizador da juventude ligada à Igreja Católica na cidade.

Atualmente, aos 89 anos de idade, com saúde frágil e dificuldades de locomoção, não sai da Casa Paroquial, onde reside. Muito querido pela população, é obrigado a evitar o contato com as pessoas pelo risco de se contaminar com o Covid-19.

Seu “anjo da guarda”, como ele diz, é a técnica de enfermagem Joana D’Arc Fernandes da Silva, de 66 anos. Zelosa, ela não saiu de perto enquanto Padre Jayme concedia esta entrevista ao editor Alexandre Coelho para falar sobre o Roda Viva.

“É uma bênção na minha vida poder cuidar dessa pessoa tão especial”, afirmou Joana.

Veja a seguir.

 

Como surgiu o Roda Viva?

O Movimento Roda Viva surgiu de um projeto que eu acalentava desde que fui ordenado sacerdote, que era evangelizar a juventude. Um professor do meu seminário dizia que muita gente gostava de trabalhar com crianças, mas com adolescentes ninguém queria, porque era uma idade difícil. Alegavam que os jovens eram rebeldes, queriam ser os donos do mundo. Por isso quase ninguém queria estar com eles.

Na cidade de Espera Feliz, onde estudei, me encantava o comportamento alegre e barulhento dos jovens que passavam em frente ao pré-seminário para jogar bola. Tinham uma atitude de independência, uma alegria difícil de descrever.

Essa situação me motivou. Por isso decidi dedicar minha vida ao trabalho com os adolescentes – que não eram mais crianças, mas também não eram jovens.

Para tanto procurei estudar livros educacionais e outros que tratavam do tema adolescência.

O Roda Viva surgiu desse sonho, desse envolvimento com a juventude. Ele foi criado para integrar os adolescentes e jovens com idade entre 13 até 18 anos de idade. Um período da vida em que protestavam contra tudo: a sociedade, a família, a ordem estabelecida.

 

O Movimento tinha viés político-partidário?

O Roda Viva procurava formar consciências. Formar consciência crítica na juventude que participava do movimento. Queria orientar o ímpeto do jovem para ele se posicionar firmemente diante de um partido, um político influente na sociedade, tomar posição diante do cenário político.

O Movimento foi fundado num ambiente político muito disputado. Quis aproveitar e reunir a juventude para conscientiza-los.

As reuniões eram feitas num espaço ao lado da Casa Paroquial. Fazíamos encontro de jovens para debates, discussões, atividades e discussão de projetos para a cidade.

 

O que unia e inspirava os integrantes do Movimento?

O sonho de fazer um mundo melhor, mais justo, mais fraterno. O desejo de participação, de se afirmar, de ter um papel a cumprir.

Para mim, o adolescente sentia-se pessoa, já podia definir seus sonhos, seus desejos de realizar muito por sua pátria, sua igreja, pelo mundo até. Tinha vontade de modificar a sociedade. Mais ou menos assim: “eu sou dono do meu nariz e quero ser dono do meu pensamento, da minha vontade”.

Mas os adolescentes sentiam medo, tinham insegurança. O Movimento Roda Viva veio para orientar, tirar os medos, ajudar a encaminhar.

 

E qual era o papel do Padre Jaime?

Eu fui mobilizador e cumpri o papel que me cabia de líder espiritual. Tinha vontade de modificar a sociedade, de melhorar as condições de vida do povo.

 

Hoje, meio século depois, que benefícios o Roda Viva trouxe para seus participantes e a comunidade?

Acho que contribuiu para a mudar um pouco a comunidade através da formação de consciência crítica. Fazíamos reuniões mensais com os pais dos alunos e muitos aderiram ao movimento. O Roda Viva despertou consciências, despertou interesse da juventude em participar de causas sociais, dar assistência aos mais humildes e a valorizar o ser humano.

 

Deixou uma lição, um aprendizado?

Sim. Lições importantes. Reconheceu o talento e a importância dos jovens. Trouxe esses jovens para a igreja e despertou sua atenção para os problemas sociais. Abriu espaço para a afirmação da juventude.

Muitos começaram a assumir responsabilidades e compromissos através do Movimento Roda Viva.

São jovens que se tornaram médicos, advogados, engenheiros e muitas outras profissões através das quais contribuíram e contribuem para o bem da comunidade.

 

O Natal está chegando. Que mensagem deixa para os leitores?

Desejo dizer que o Natal é uma festa muito importante para o cristão, para o católico, porque ele reconhece que a igreja somos nós, porque o próprio Jesus Cristo nos confiou essa missão: ide pelo mundo, ensinai a todos os povos o que eu vos ensinei.

Assim, Natal é sinal de vida. É o nascimento daquele que é o verbo, a palavra que habitou entre nós.

Que possamos, em todas as situações, viver o natal cristão. Jesus mesmo é quem disse: o que fizerdes ao menor dos meus é a mim que o fazeis. Que o natal seja um dia de alegria, de esperança num mundo novo cheio de graça, de vida e de paz para todos os bom-despachenses (Alexandre Borges).

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