A vida é assim. Não era pra ser

 

DILERMANDO CARDOSO – Em mais de uma vez, por estas “mal traçadas linhas”, revelei meu desprezo e revolta para com touradas, rodeios, brigas de galo, rinhas de canários… Na verdade, gostaria de assistir a uma apresentação de rodeio onde o touro montasse no peão! Aves e bichos não me deram procuração para representá-los. Mas dentro das minhas limitações tomo suas dores, porque o fiel da balança nunca pende a favor deles.

Resido num bairro antigo e tranquilo da cidade. Aqui as pessoas se conhecem por nome, apelido e CPF. Pois não é que mudou pra cá um tipo estranho, de hábitos noturnos, que poucos viram e ninguém conhece? E para que a estória ganhe mais suspense, o vampiro trouxe com ele um cachorro. Certa coisinha do tamanho de uma régua escolar — 30 centímetros —, orelhas grandes, e como todo cão muito carente…

Parece que numa outra casa, onde tenha morado anteriormente, o caramelo — seu pelo é amarelado — recebeu o carinho de crianças, foi protegido por adultos… Até que, de repente, não se sabe como, veio parar no quintal do misterioso vizinho. Desde então, late desesperado como quem pede ajuda, chora ao sentir-se abandonado, uiva atemorizado nas madrugadas frias… Tanto desarranjo mobilizou os moradores da rua!

Foi aí que alguém sugeriu, e pedimos ajuda ao 190. Do outro lado da linha, uma voz feminina e educada atendeu: — Boa noite, o que posso fazer por você? Agoniado, caso estivesse eu com o celular, teria dito: — Me revela as seis dezenas premiadas da próxima Mega-Sena, pô! Todavia, outro morador, com mais diplomas e diplomacia, era quem falava em nome da vizinhança relatando o abandono e sofrimento do cãozinho. Siga @jornaldenegocios no Instagram e veja mais conteúdos.

— Vou repassar a ocorrência para o setor competente. Aguarde, a patrulha vai. Garantiu a moça do 190. Confiei desconfiando. Era domingo à noite, e a polícia teria coisa mais importante a fazer do que resgatar cachorro… Pouco tempo depois, uma viatura da PM apareceu com suas luzes brilhantes, parecendo disco voador, e de sirene ligada! À distância, observei a atuação firme dos policiais, enquanto o Conde Drácula, certamente fedendo a naftalina, só balançava a cabeça — como quem assume um crime. Sim, abandonar ou tratar mal os animais agora está na lei, e dá de quatro a seis anos de cana! Pra nós ficou a quase certeza de que o cãozinho havia sido resgatado…

Três dias depois, o infeliz caramelo voltou para a casa mal-assombrada: decerto através de “habeas canis” conseguido por algum advogado espertalhão. Inconsolável, dia e noite ele chora, late e uiva pedindo socorro. Há muito desisti dos homens. Por fim, desconfio até de Deus… Se Ele é o Sumo Bem, porque tanta maldade no mundo?

Está certo aquele “hippie” — metido a filósofo, que vende colares e pulseiras de pedras coloridas, na Praça da Matriz —, quando alguém reclama do seu artesanato e ele responde: — Na moral, bróder! Se o produto vem da Bolívia ou do Marrocos, tanto faz. Sem nóia! A vida é assim. Não era pra ser. Mas é. Sacou o bagulho, mano? (Portal iBOM / Imagem criada por iBOM com IA).

 

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