Eleições: o dia seguinte

Manhã de segunda-feira, são poucos os indícios de que houve eleições municipais em nossa cidade, a não ser um “santinho” aqui, outro ali, espalhados no chão, nos locais de votação. Muitos rostos desconhecidos, outros de amigos íntimos, sérios ou sorridentes, jazem nos resquícios da batalha pelo voto.

Ao longe, alguns fogos ainda eclodem no ar preguiçoso, em que o pensamento mais recorrente é que a cidade já definiu os nomes de seus futuros líderes, nossos representantes. As surpresas são inevitáveis. Tanto o pequeno número de votos de quem a gente pensava seria imbatível nas urnas, quanto o excelente desempenho de quem julgávamos seria derrotado. Claro que há os especialistas – aqueles que estão envolvidos diretamente no processo de campanha, conhecem bem o eleitorado e sondam opiniões – que já previam o veredito final.

A alternância no poder é o mais expressivo signo da nossa liberdade e, se realizada com honestidade e transparência, dá nova seiva e vigor à democracia, cuja essência é a possibilidade dada ao cidadão de influenciar as decisões e partilhar o governo com aqueles a quem deram o seu voto. Nesse contexto, os programas partidários consolidam a estrutura ideológica da política em geral. Infelizmente, no Brasil, no momento da eleição, não damos importância a esses programas, porque votamos nos candidatos, independentemente do partido. Mas, o governo de fato baseia-se nos partidos e o eleito tem que seguir as orientações partidárias, muitas vezes não coincidente com a vontade do eleitor.

Um outro aspecto da utilidade da alternância no poder é a ampla discussão que se estabelece sobre os nossos problemas econômicos e sociais. Podemos ser idealistas nos projetos, mas na sua realização temos que ser realistas. A União é um monstro devorador de recursos. Fica com setenta por cento do bolo tributário, uma concentração de renda que pode ter algum benefício, mas significa que poucas pessoas controlam uma receita de três trilhões e meio de reais e uma despesa de quatro trilhões prevista para 2020. Os Estados ficam com vinte e cinco por cento e os municípios, que geram esses recursos todos, ficam com míseros cinco por cento desse bolo. O desafio de quem está chegando é fazer muito com muito pouco.

Finalmente, a alternância no poder reforça a sociabilidade. Em toda eleição, os concorrentes saem à procura de apoio, intensificam seus relacionamentos já tradicionais e buscam novas adesões. O meio mais comum é reunir apoiadores em eventos, visitar instituições, empresas, entidades representativas de classe.

As conversações, os encontros e visitas não podem faltar em uma campanha eleitoral. Nessas eleições não foi possível seguir esse padrão. O tempo dirá se as restrições sanitárias tiveram consequências nos resultados.

O dia seguinte traz alegria para os eleitos, mas não deveria trazer tristeza para os vencidos. Os que saíram vitoriosos merecem nossos aplausos, mas os que concorreram, aceitaram lutar, levantaram problemas, propuseram soluções, têm que receber nosso louvor e serem encorajados a continuar na luta e a perseguir seus ideais.

Bom Despacho, o chão de todos nós, só tem a lucrar com o debate, o interesse e a participação de todos na solução das magnas questões que nos afligem. Não estaremos fazendo nada mais que a validação do princípio constitucional de que “todo poder emana do povo”. Que a equipe escolhida para o próximo quatriênio governe e faça a diferença positiva, porque o maior trunfo já está nas suas mãos: o apoio e a confiança da comunidade.

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