Ronaldo, filho de Antônio e Josefina
ROBERTA GONTIJO TEIXEIRA – Ronaldo Gontijo de Oliveira – Ronaldo Leite, como era conhecido – nasceu em 4 de abril de 1945, na Fazenda Córrego d’Areia, em Bom Despacho, filho de Josefina Gontijo Leite e Antônio Leite de Oliveira. Desde jovem, foi moldado por uma educação rigorosa. Frequentou o Grupo Escolar Coronel Praxedes e, logo depois, o Pré-Seminário, em busca de uma formação erudita e sólida, que sua mãe desejava para ele.
A inesquecível Teresa

Sua irmã Angelita me contou uma história marcante: o laço de amor entre Ronaldo e Teresa. Segundo ela, quando Ronaldo nasceu, sua avó paterna, Dona Veva, enviou a velha Teresa, que havia sido babá de seu pai, para cuidar do pequeno Ronaldo. Teresa, filha de escravos alforriados, trouxe consigo uma pequena bagagem, mas um imenso carinho. A conexão entre os dois foi divina e intensa. Mesmo quando Ronaldo passou a estudar como interno do Pré-Seminário, aqui em Bom Despacho, onde a educação era de primeira qualidade, Teresa não perdia uma oportunidade de vê-lo, mesmo ao longe na missa das seis da Matriz, frequentada pelos pré-seminaristas.
Segundo Angelita, Teresa, todos os dias, pegava seu tamboretinho de couro de bezerro, subia pela rua Faustino Teixeira em direção à Praça, encostava seu banquinho na parede – já que, naquela época, senhores e escravos não podiam se misturar -, e sentava lá no fundo da Igreja. Não necessariamente para assistir à missa, mas para ver Ronaldo de pertinho e matar um pouco da saudade. O que servia de acalanto e alegria para ambos.
Garimpando sonhos
Na adolescência, Ronaldo estudou no Colégio Estadual Miguel Gontijo e, nas férias, acompanhava seu pai aos garimpos. Embora o pai quisesse ensiná-lo que o futuro estava nos livros e não no trabalho físico, Ronaldo se apaixonou pelo ofício e ficou fascinado pelos cristais e pela história da terra.

Foi com o apoio do Padre Vicente Rodrigues de Araújo, amigo da família, e sob as exigências da mãe, que Ronaldo, antes de voltar ao garimpo, concluiu o ginásio.
Garimpou quartzo, diamante, sonhos e esperanças. Até descobrir que não era suficiente. Voltou à escola, fez Curso Técnico de Estradas, Faculdade de Engenharia, especializou-se em Geologia, Geotecnia e Mecânica dos Solos.\
Ronaldo, assim como seu pai, se dedicou ao bem-estar da comunidade. Serviu como vice-prefeito de Bom Despacho por duas vezes, sempre seguindo o exemplo de respeito, trabalho digno e fidelidade aos seus princípios.
Casou-se com Elisa e teve dois filhos lindos: Cláudio e Daniela, perpetuando os valores de honradez e amor.
Alma generosa
Sua história não se limitou ao trabalho e à política. Ele sempre foi uma pessoa generosa, oferecendo apoio e carinho a todos ao seu redor.
Lembro-me com gratidão de sua presença constante em minha casa, ajudando meu pai em momentos das crises de pânico por ele enfrentadas, oferecendo seu tempo e paciência com despretensão.
Na segunda-feira (4/8), Ronaldo faleceu e foi impossível não reconhecer a grandeza de sua vida.
Meu pai, que o tinha em grande conta, saído do hospital por causa de uma queda, fez questão de ir até a porta da Câmara Municipal e homenagear o amigo.
Pai e filho
Durante o velório, me emocionei quando Paulininho, sentado ao meu lado, apontou a foto do pai de Ronaldo, Antônio Leite de Oliveira, na parede da Câmara Municipal, ao lado do corpo do filho.
Como bem pontuou Paulininho, naquela noite, quando as portas da Câmara Municipal se fechassem, apenas pai e filho estariam naquela sala. Era o fim de um ciclo para a família e para Bom Despacho.
E que ciclo belo e digno foi o de Ronaldo e Antônio: dois homens que, através de suas ações, fizeram deste mundo um lugar mais nobre e generoso.
Em meu nome, do meu pai, de toda nossa família e de Bom Despacho, agradeço a Angelita, pela delicadeza de nos narrar histórias e a Ronaldo Gontijo de Oliveira e seu pai, Antônio Leite de Oliveira, por tudo o que fizeram por nossa cidade e nossa gente. (iBOM / Roberta Gontijo Teixeira / Fotos: Arquivo da família).