Bom Despacho e o 7º BPM: presença forte, parceria viável

 

Temos um batalhão forte, uma cidade acolhedora e uma população disposta a construir juntos

ALEXANDRE MAGALHÃES – Para um paulistano como eu, é difícil falar sobre a polícia militar. Em São Paulo, a PM é uma entidade violenta, corrupta e envolvida diretamente com a criminalidade. Esta opinião não é só minha e, inclusive, é de um amigo do futebol de várzea. Este amigo é corregedor da PM paulista e costuma dizer que “não há gente honesta na PM. Os honestos saem no primeiro dia de trabalho, ao deparar-se com os absurdos realizados diariamente por esta entidade”.

Quando comecei minha relação com minha namorada bom-despachense, ela passou a me dizer que a PM daqui é bem diferente daquela que eu relatei no parágrafo acima. Tomara que ela tenha razão. Neste texto estou tentando ser imparcial e simpático ao 7° Batalhão desta importante entidade, que completou 94 anos de idade no dia 9 de julho. Tentarei escrever como um cidadão bom-despachense olhando sua PM.

Quem anda pelas ruas de Bom Despacho já se acostumou com a presença imponente do 7º Batalhão da Polícia Militar no coração da cidade. Rodeado por uma área verde encantadora, o Batalhão é, sem dúvida, um dos marcos físicos e simbólicos mais reconhecíveis do município. Mais do que um quartel, é um ponto de referência para todos os bom-despachenses. Mas será que, além de ponto de referência geográfico, ele também está sendo um ponto de referência social e comunitário?

A presença de uma estrutura policial desse porte em uma cidade do tamanho de Bom Despacho traz diversas vantagens. Em primeiro lugar, há um sentimento de segurança mais evidente. A população sabe que, se ocorrer algo grave, há uma força pronta para agir com rapidez. O 7º BPM atende não só Bom Despacho, mas diversos outros municípios da região, o que dá à cidade um papel estratégico no mapa da segurança pública do centro-oeste mineiro.

Além disso, o Batalhão movimenta a economia local. Militares e suas famílias moram aqui, frequentam o comércio, participam da vida social e consomem os serviços públicos e privados da cidade. Isso significa mais circulação de dinheiro, mais alunos nas escolas, mais gente participando das atividades culturais e religiosas. É como se o 7º BPM fosse, também, um pequeno motor de desenvolvimento local. Muita gente que veio transferida para cá acabou ficando, se apegando à cidade e contribuindo com ela.

Outro aspecto que merece destaque é a Mata do Batalhão. Aquela área verde que envolve o quartel é um verdadeiro tesouro ambiental. Num tempo em que se fala tanto de crise climática, calor extremo e desmatamento, temos ali um patrimônio que ajuda a equilibrar o clima urbano, abriga biodiversidade e embeleza a cidade. A mata é um dos últimos redutos de vegetação nativa no perímetro urbano e precisa ser reconhecida também como um bem comum — mesmo não sendo propriedade militar, mas sofrendo forte influência da PM, a Mata está a caminho de se transformar em um parque municipal.

Seria bonito ver esse espaço ganhando novas funções educativas e culturais. Já imaginou se a Polícia Militar criasse programas para visitas escolares, trilhas educativas, programas de educação ambiental? Estudantes, famílias, pesquisadores e até turistas poderiam conhecer esse pequeno paraíso escondido bem no centro da cidade. Seria um exemplo de como segurança, preservação e educação podem caminhar juntos.
Mas é claro que, como todo cidadão consciente, também precisamos falar dos desafios e pontos a melhorar. Ainda existe uma certa distância entre a Polícia Militar e a comunidade civil. Muita gente só vê a PM nas ruas quando algo dá errado. A presença policial ainda é muito ligada à repressão, à patrulha, à abordagem. Mas segurança pública moderna não é só isso. Hoje, espera-se que as forças policiais tenham um papel também preventivo, educativo e social.

É nesse ponto que o 7º Batalhão poderia avançar. Seria muito positivo ver mais projetos de aproximação comunitária, como palestras em escolas, rodas de conversa nos bairros, encontros com lideranças comunitárias, mutirões de cidadania. A PM tem estrutura e pessoal capacitado para isso. O que falta é vontade política e abertura para escutar mais a população. O fechamento das passagens que permitiam que muitas pessoas economizassem tempo no caminho ao trabalho ou em tarefas diárias passando por dentro do Batalhão, é um exemplo de como muitas vezes a PM não olha a sociedade primeiramente, mas privilegia seus próprios interesses.

Outro ponto delicado são as abordagens feitas a jovens, especialmente nas periferias. Há relatos de exageros, de ações que parecem mais intimidadoras do que educativas. Não se trata de criticar a polícia por cumprir seu papel, mas de lembrar que o respeito à cidadania vem em primeiro lugar. Um jovem parado na rua não é, automaticamente, suspeito. A forma como a PM se relaciona com a juventude pode fazer toda a diferença na construção da confiança entre a corporação e a sociedade.

Também seria muito bem-vinda uma expansão dos projetos sociais que hoje ocorrem dentro do próprio quartel. Há espaço, há estrutura, há recursos humanos, então, por que não criar uma escolinha de futebol ou vôlei para crianças da rede pública? Ou um curso de cidadania e primeiros socorros para adolescentes? Oficinas de música, artes marciais, reforço escolar? Não somente dentro do Batalhão, que já faz muita coisa hoje, mas espalhar isso pela cidade. Essas ações já existem em outros batalhões e poderiam fazer toda a diferença aqui. E não só na escola que fica dentro do Batalhão, mas espalhar isso por toda a sociedade. E, claro, sem a necessidade de os jovens estarem com uniforme, como acontece na Escola Tiradentes.

Sabemos que há programas como o Proerd, mas refiro-me a programas culturais, que alguns já são oferecidos dentro do Batalhão, mas que podem ser levados a todos os bairros de Bom Despacho.

Por fim, é importante reforçar que essa crítica não é contra a Polícia Militar, mas a favor de uma relação mais próxima, mais humana e mais moderna com a população. O 7º BPM tem uma história importante em Bom Despacho, e sua permanência aqui é um patrimônio que deve ser valorizado — mas também atualizado. A cidade mudou, as pessoas mudaram, o mundo mudou. E a forma de fazer segurança pública também precisa mudar.

O convite é claro: abrir as portas, escutar mais, se aproximar mais. Não se trata de tirar autoridade da PM, mas de usar essa autoridade com mais inteligência emocional, mais diálogo e mais integração com a sociedade. Porque proteger e servir, como diz o lema, é mais do que combater o crime — é também cuidar das pessoas.

E Bom Despacho tem tudo para ser exemplo disso. Temos um batalhão forte, uma cidade acolhedora e uma população disposta a construir juntos. Basta vontade e visão de futuro.

Parabéns aos 94 anos do 7º Batalhão da Polícia Militar! (iBOM / Foto de arquivo).

 

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *