Sou péssima mãe, mas aprendi como é difícil ser uma

 

Não tenho lugar de fala para falar como mãe, como está na moda dizer em relação a qualquer grupo social. Possivelmente, a maioria dos raros leitores e raras leitoras vão criticar-me por estar escrevendo sobre minha experiência em ser mãe. Um pouco mãe, é verdade.

As mães biológicas têm experiência em gestar, sentir o crescimento do filho no ventre, as dores do parto, normal ou cesárea, amamentar o rebento, entre outras sensações inesquecíveis, para o bem ou para o mal. As mães em geral aprendem a trocar as fraldas da criança, dar banho, educar, entre muitas outras experiências. Os pais fazem a segunda parte das tarefas, apesar de muitos ainda não fazerem, como sabemos pelas estatísticas sobre abandonos e falta de cuidados dos pais com seus filhos.

Portanto, não sendo mãe, cuidei de minha filha, tarefas das quais guardo ótimas memórias e sensações.

Porém, tenho vivido um processo intenso de transformação em mãe de meus irmãos deficientes. Sempre escutei que as mães amam incondicionalmente, realizando todas as tarefas para cuidar dos filhos, não importando o horário, o clima, a situação financeira, a condição de saúde do filho e mesmo da mãe, capaz de dedicar-se aos filhos em momentos de dores intensas, gripes fortes, doenças, sono, cansaço e todas as outras dificuldades possíveis.

Claro, como não sou minha mãe, não faço as tarefas desagradáveis, como dar banho, levar ao banheiro, limpar seus bumbuns, dar comida, escovar os dentes, entre muitas outras alternativas, como fazia minha mãe: sempre com sorriso nos lábios e sem procrastinação. Eu sou uma mãe que odeio fazer estas tarefas, faço tudo reclamando da vida, amaldiçoando minha própria existência, mas também sem procrastinação, sem pensar duas vezes, sem vacilar. Se pensar, não faço… mentira acho que faria, mas manteria o mau humor.

É difícil confessar essa minha dificuldade, mas a cada pensamento raivoso, lembro de minha mãe, de sua disposição para fazer tudo para os filhos deficientes, além de cuidar da casa, da comida, da roupa, dos outros três filhos, dos netos, dos cachorros, dos pais dela, dos sogros dela, dos irmãos dela, dos amigos, dos vizinhos e, sinceramente, não consigo nem imaginar como ela conseguia tanta energia. Com frequência, quando penso em minha mãe cuidando de todos, lágrimas brotam de meus olhos. Acho que as lágrimas são menos por ela fazer tudo para todos, e mais por me sentir incapaz de chegar a seus pés.

Tenho certeza, ao fazer tudo com um certo ódio no coração, de que o amor materno não passa aos filhos geneticamente. É algo que só as mães podem sentir. Eu sou apenas um dublê de minha mãe, um dublê de qualquer mãe. Faço porque não há ninguém para fazer, faço por obrigação, sem sentir um amor sincero para realizar as tarefas. É difícil admitir isso, mas não sou 1% do que foi minha mãe. Escrevo isso com sinceridade. Minha mãe, e grande parte das mães, apagam-se para cuidar dos outros, especialmente dos filhos, renunciam a seus prazeres para doar suas vidas para suas famílias.

Se algum dia eu encontrar minha mãe, tenho certeza de que ela falará a mesma coisa que dizia em minha infância, quando eu fazia um desenho ridículo ou lavava uma louça bem mal lavada: “ficou ótimo, lindo mesmo”. Mesmo sabendo que eu não havia me esforçado, ela arrumava algum detalhe para elogiar. Sempre!

Eu continuo sem lugar de fala, pois não sou mãe e nunca serei. Mas, hoje tenho uma compreensão muito melhor do que é ser mãe, das dificuldades de cuidar de filhos, especialmente os que necessitarão de cuidado para toda a vida, caso de meus irmãos deficientes. Saudades, mãe, de nossos papos e de seu bom humor eterno. Como você pôde ser tão alegre nesse mundo, enfrentando as dificuldades de nossa família? Nem consigo imaginar e nem chegar perto do que você foi.

Mães bom-despachenses, parabéns pelo Dia das Mães! Vocês são incomparáveis e insubstituíveis! Se possível, não morram nunca, pois isso mata os filhos de saudades! Feliz Dia das Mães! (Portal iBOM / Alexandre Sanches Magalhães).

 

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