Precisamos ter um olhar preparado para o diferente

 

ALEXANDRE MAGALHÃES – Já não é segredo para os raros leitores e as raras leitoras do Jornal de Negócios que eu tenho dois irmãos deficientes física e mentalmente. São gêmeos e, por erro médico, nasceram com falta de oxigênio no cérebro e tiveram suas vidas definidas, em parte, por este problema.

Em artigo anterior para o Jornal de Negócios tratei deste assunto, ligando o espírito natalino a meus irmãos, comparando-os a um presente que o destino/Papai Noel nos deu. Confira o artigo AQUI. Por causa deste artigo, tenho sido abordado por amigos, conhecidos e desconhecidos pelas ruas de Bom Despacho, sempre elogiando o artigo e tecendo comentários acerca de meus irmãos gêmeos.

Além de muitos comentários sobre meu artigo, algumas pessoas comentaram comigo sobre o fato de eu andar pelas ruas da cidade empurrando a cadeira de rodas do Rafael. Alguns acharam perigoso eu caminhar pela rua e não pelos passeios, dividindo o espaço da cadeira de rodas com motos, automóveis, caminhões e ônibus. Outros perguntam se não tenho carro, pelo fato de eu estar caminhando com meu irmão e sua cadeira de rodas.

Um dos comentários mais relevantes que recebi foi do Maurício Pontes, amigo que ganhei no meio do ano passado e que tenho encontrado frequentemente na academia de ginástica da Praça de Esportes. Maurício me abordou recentemente dizendo que, após ler meu artigo, começou a perceber que muitos bom-despachenses utilizam as vagas de estacionamento reservadas para deficientes, gestantes e idosos sem pertencerem a estes grupos sociais. Maurício estava indignado, pois as pessoas nem fazem muita cerimônia para ocuparem estas vagas e, quando questionados, dizem que “é rapidinho”, “estou com pressa”, “há outras vagas disponíveis e eu não estou atrapalhando ninguém”, entre outras desculpas.

Deixe-me tentar responder a todos que conversaram comigo.

Eu ando com o Rafael pela cidade, muitas vezes a pé e empurrando a cadeira de rodas, porque prefiro andar a dirigir. Faço isso em São Paulo, onde não dirijo há uns treze anos. Meu lema é mais ou menos assim: até cinco quilômetros, vou a pé. Se o local que desejo ou preciso ir estiver a mais de cinco quilômetros de minha casa, priorizo o transporte público nesta ordem: metrô, trem, ônibus ou taxi/Uber. Então, andar é mais prazeroso para mim do que usar o carro. Apesar das reclamações do Rafael, que prefere ir aos locais de carro, prefiro caminhar com ele.

Ando pela rua e não pelos passeios, pois os passeios (ou calçadas, como dizemos em São Paulo) de Bom Despacho são muito irregulares ou inexistentes. Em algumas ruas, o mato cobre o passeio. Então, empurrar a cadeira de rodas pelas ruas, correndo o risco de ser atropelado, é mais por falta de opção do que por gosto. Mesmo nas ruas onde os passeios são bem cuidados, há degraus enormes, quase sempre para facilitar a entrada de automóveis nas garagens, o que me impede de transitar por eles.

Em relação aos comentários e preocupações do Maurício Pontes, percebo que realmente há muita ignorância sobre o uso destes espaços, alguns usos maldosos e muito desrespeito. Claro, o mau uso das vagas de estacionamento para deficientes, gestantes e idosos não é exclusividade de Bom Despacho. Em São Paulo o problema existe também.

As pessoas que não são deficientes ou não tenham pessoas com dificuldade de locomoção em suas famílias, bem como os homens, que jamais estarão grávidos, e os não idosos, têm dificuldades para entender por que há vagas de estacionamento para estes grupos mais perto das portas de entrada nos estabelecimentos. Por isso, acabam pensando que “é rapidinho”, “estou com pressa”, “há outras vagas disponíveis e eu não estou atrapalhando ninguém”, entre muitas outras desculpas.

Quando percebo que o ocupante da vaga não deveria estar usando aquele lugar, pergunto educadamente se ele é deficiente, gestante ou idoso. Algumas vezes, a resposta é raivosa ou violenta, o que mostra que algumas pessoas têm muita dificuldade para entender as regras sociais, tanto as legais, quanto as de convivência.

Outro caso que quase ninguém presta atenção, é o bloqueio dos passeios naqueles pontos feitos para que um cadeirante possa subir e descer do passeio para a rua e vice-versa. É muito comum ver carros estacionados nestas rampas. As pessoas muitas vezes nem chegam a ver estas rampas. Vou comentar um caso que vejo problemas diários, apesar de não achar que o problema seja do estabelecimento, mas dos motoristas bom-despachenses: a rampa em frente à Padaria São Vicente, a unidade em frente à Praça Milton Campos, na Vila Aurora. Como esta rampa está muito perto da porta da padaria, quase 100% das vezes que passo por ali, há carros estacionados. O que ameniza a situação é que não há a sinalização de ser uma rampa para cadeirantes. Quem é cadeirante ou tem cadeirantes na família, sabe que ali é um local para facilitar a vida dos deficientes ou idosos que usam cadeiras de rodas.

Espero que a nova administração olhe estes problemas com muito carinho, pois a vida destes grupos sociais já é tão difícil, que qualquer ajuda é muito bem-vinda. (Alexandre Sanches Magalhães / Portal iBOM / Imagens ilustrativas).

 

One thought on “Precisamos ter um olhar preparado para o diferente

  • 10 de fevereiro de 2025 em 23:28
    Permalink

    O termo mais adequado é “pessoa com deficiência”, não “deficiente”. Fica a dica, construtivamente.

    Resposta

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *