Vila Militar do 7° Batalhão: um mergulho em nossa história

 

VANDER ANDRÉ ARAÚJO – Na manhã do dia 26 de agosto, tive a oportunidade de visitar a emblemática Vila Militar de Bom Despacho, local de grande importância histórica para a cidade e para o estado de Minas Gerais. Inicialmente projetada para abrigar operários e ferroviários, a Vila passou por uma significativa transformação no início dos anos 1930, quando, a pedido de Flávio Cançado Filho, conhecido como Favuca, interventor da cidade na época, durante o governo do bom-despachense Olegário Maciel, tornou-se a sede do Sétimo Batalhão, conhecido como “Machado de Prata”, sob o comando do Coronel Lery.

O colunista Vander André, a gerente de marketing Gleiciane Santos e o comandante do 7° BPM tenente-coronel Luciano Antônio

Essa mudança foi impulsionada por uma carta que Favuca escreveu ao Doutor Gustavo Capanema, na qual expressava sua preocupação com o estado de abandono em que a cidade havia caído após o desaparecimento do escritório e das oficinas da Paracatu. Ele mencionou sentir-se “oprimido pelas queixas do povo de Bom Despacho” que atribuíam à sua administração a responsabilidade por essa situação. A transformação da Vila em sede militar foi uma resposta a essa situação, revitalizando o local e consolidando seu papel na história da região.

Origem do nome “Machado de Prata”

Quando questionei o curador sargento Clécio de Paulo sobre a origem do codinome “Machado de Prata”, ele me explicou que o número 7, que fazia parte do uniforme dos militares da época e era usado na gola das camisas como um broche, era confeccionado em metal na cor prata. Devido ao formato, muitos o identificavam como um machado de prata, o que deu origem ao interessante apelido.

Para começo de conversa, tomamos conhecimento de um pouco da história daquele lugar. O 7º Batalhão de Caçadores Mineiros foi oficialmente criado em 19 de junho de 1931, sendo instalado em Bom Despacho no dia 9 de julho do mesmo ano. O Batalhão ocupou as instalações da antiga Estrada de Ferro Paracatu, cujas residências ferroviárias foram adaptadas para acomodar os militares, recebendo o nome de Vila Militar. Vale ressaltar que a Vila Militar de Bom Despacho é a única deste tipo no estado de Minas Gerais. Em 2006, o conjunto paisagístico e arquitetônico do 7º Batalhão foi tombado pelo município, reconhecendo seu valor histórico e cultural para a cidade.

Um episódio marcante na história do batalhão foi a Revolução Constitucionalista de 1932, que opôs o estado de São Paulo ao Governo Federal. Em julho daquele ano, parte do contingente do 7º Batalhão foi enviado à região de Passa Quatro/MG, sob a liderança do coronel Edmundo Lery dos Santos, que assumiu o comando da Brigada Sul. Durante o conflito, o Batalhão perdeu o tenente-coronel Fulgêncio de Souza Santos, fuzilado em 1º de agosto de 1932 enquanto inspecionava as defensivas. Um obelisco em frente à entrada principal do 7° Batalhão, instalado dentro de um gramado em formato do mapa do estado de Minas Gerais, homenageia os soldados falecidos durante a revolta.

O antigo campo de aviação

Outro fato relevante que poucos de nós bom-despachenses temos conhecimento aconteceu em 1936, quando, sob a responsabilidade do coronel Praxedes e orientação do engenheiro topógrafo João Paganini, foi construído o primeiro campo de aviação de Bom Despacho, localizado onde hoje está o bairro São Vicente. A obra durou cerca de seis meses, sendo um marco no desenvolvimento da cidade.

Após apresentar-nos o contexto histórico, nossa visita começou no Coreto da Vila, conduzida pelos sargentos Ana Flávia, Clécio e Denis, além do comandante tenente-coronel Luciano Antônio dos Santos, que destacaram os grandes eventos culturais que ocorreram ali, como apresentações da Banda do 7° Batalhão da Polícia Militar, mas também recordaram os velórios de autoridades militares realizados no local. Na praça do Coreto encontramos um belo chafariz, repleto de plantas aquáticas e peixes ornamentais, que homenageia o coronel Vilbur de Oliveira e Silva, cuja conservação é mantida pelo voluntário sargento Washington, morador de uma das dezenas de casas de estilo arquitetônico inglês que cercam a praça. No chafariz, há uma placa com a inscrição: “Tudo pela grandeza de Minas”, a mesma frase que ficava no barranco de aterro onde hoje está o campo de futebol, de frente para a Santa Casa. Nas fotos da época, é possível notar que quem chegava à cidade de trem, ao entrar na cava da Santa Casa, podia ver essa frase e, ao fundo, o imponente prédio do Batalhão.

Outro ponto de destaque na Vila é a Praça de Esportes, inaugurada em 1975 durante a gestão do coronel Abel Magalhães, que hoje é utilizada apenas por bombeiros e militares e, em casos eventuais, por civis devidamente autorizados. Recordo-me das vezes que lá fomos visitar, sob acompanhamento das professoras, e nos divertir naquela piscina, notadamente nas semanas de comemoração do dia das crianças.

Na entrada do Memorial “Machado de Prata” do Batalhão, uma vasta coleção de fotografias digitalizadas, com cerca de mil imagens, está em exibição permanente em um aparelho televisor, juntamente com outros artefatos históricos. Antes de visitá-lo, nos encontramos, na belíssima escadaria que dá acesso ao prédio, com o capitão Almir, atual comandante do tradicional Colégio Tiradentes, que conta com 60 anos de história. Ele nos contou sobre as novidades naquela instituição, incluindo um novo laboratório e uma moderníssima biblioteca.

Viagem no tempo

Saciando nossa curiosidade, adentramos no Memorial e, logo de início, um dos itens que chamou a atenção foi a cadeira de barbeiro militar veterano José Lino Pimenta, usada pelos praças. Muitos dos militares veteranos que visitam o local, recordam-se de terem utilizado essa cadeira. O Memorial Machado de Prata também abriga no seu relicário bandeiras originais de 1931 e uma foto do governador Benedito Valadares, tirada durante sua visita a Bom Despacho para a inauguração da Capela de Santa Efigênia na Vila em 1935. Essa capela foi erigida à primeira Paróquia das Polícias Militar do Brasil pelo saudoso capelão da Polícia Militar de Minas Gerais, padre Sebastião Fernandes Pereira (Tiãozinho) e comissão. A imagem histórica da igreja católica revela um altar-mor em madeira escura que, infelizmente, não existe mais, sendo atualmente objeto de pesquisa dos profissionais do Memorial quanto à sua destinação

Também estão ali expostos o armamento utilizado por alguns militares na Revolução de 1932, precursor dos atuais batalhões de choque da Polícia Militar de Minas Gerais, além de uma réplica do uniforme da época, confeccionado por Cleidiane, irmã do sargento Clécio, para o média-metragem “Machado de Prata”, produzido por militares do 7° Batalhão. Interessante notar que os militares, naquela época, não portavam armas de fogo, apenas sabres, segundo informação do militar veterano mais antigo, sargento Heli Pedro Couto, em documentário produzido na Unidade da PMMG sediada em Bom Despacho. O acervo inclui ainda antigos instrumentos da Banda do Batalhão datados de 1935, e muitos outros objetos que despertam o desejo de conhecer cada vez mais sobre a história da Polícia Militar, profundamente entrelaçada com a história da própria cidade

Para compor o acervo do Memorial, o curador, sargento Clécio, nos informou que realiza uma intensa pesquisa nos registros digitais do Arquivo Público Mineiro, sediado em Belo Horizonte, desde 2023. Em uma dessas pesquisas, ele encontrou uma edição do jornal “Voz do Sertão”, que relatava o sexto aniversário do Batalhão na década de 1930. Uma cópia desse jornal está exposta em um dos murais do Memorial

A visita à Vila Militar de Bom Despacho/MG é uma verdadeira viagem no tempo, proporcionando um profundo entendimento da história militar de Minas Gerais e do Brasil. Realizamos a visita acompanhados também da gerente de Marketing do Sicoob Credibom, Gleiciane Santos, que busca inspiração para criar o Centro de Memória daquela instituição que, em 2025, comemorará 40 anos de existência!
As visitas ao Memorial do Batalhão podem ser realizadas mediante agendamento prévio, por meio do telefone 3521-9705, na Assessoria de Comunicação Organizacional do 7° BPM.  (Vander André Araújo é advogado, filósofo e escritor / Fotos: Denis Pereira).

 

 

2 thoughts on “Vila Militar do 7° Batalhão: um mergulho em nossa história

  • 29 de setembro de 2024 em 13:52
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    Seu registro me fez lembrar da primeira vez que entrei na “Vila Militar”, ainda criança, e ouvia a expressão “casas sem eira e nem beira” refereindo-se à arquitetura das casas que pertenciam aos soldados que eram diferentes das casas dos oficiais. Outra imagem que me marcou foi o mapa de MG desenhado no chão em frente às escadarias do Batalhão. Muito bom!

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  • 30 de setembro de 2024 em 10:50
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    Íamos cedinho, imberbes garotos do Colégio Miguel Gontijo, para as aulas de educação física do professor Roldão, pela estrada de ferro, até o Sétimo Batalhão (nunca sabíamos quem eram o Primeiro, o Segundo…), com curiosidade , espiando para a inacessível e bela piscina. O Colégio Tiradentes era nosso rival, os do Colégio Miguel Gontijo, melhores, é claro! Ternas lembranças da Vila Militar, looonge de onde morávamos, hoje, logo ali!

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