Padre Tião ensinou que não é preciso ter pressa, mas viver
A morte do padre Sebastião Fernandes Pereira – o Padre Tiãozinho –, ocorrida no domingo (25/10) -, repercutiu em Bom Despacho e na região. Aos 72 anos de idade, o sacerdote era muito querido por sua alegria constante e gentileza no trato das pessoas. Recebia a todos com atenção e tinha sempre uma palavra de apoio e incentivo para quem o procurava.
Durante anos foi pároco da Paróquia Militar de Santa Efigênia e capelão do 7° Batalhão, onde se reformou com a patente de capitão.
Luto oficial
Em nota de pesar, o prefeito Bertolino da Costa decretou luto oficial de 3 dias no município pela morte de Padre Tiãozinho. “Aos bom-despachenses, ele deixa saudade, um legado de amor, dedicação, desprendimento e amparo aos casais”, destacou o prefeito.
O 7° Batalhão da PMMG também emitiu nota afirmando que o capelão “mesmo estando na reserva da PMMG, prestava auxílio aos militares e familiares da 7ª RPM” e decretou luto oficial de 3 dias.
Morte
Padre Tiãozinho faleceu por volta das 19h00 no hospital Mater Dei, em Betim, onde havia sido internado com quadro grave de problemas pulmonares ocasionado por Covid-19. Ele chegou a ser entubado e faleceu horas depois. Seu corpo foi enterrado dia 26/10 em Japaraíba, cidade onde nasceu, a 70 km de Bom Despacho, com acesso restrito à família.
Em texto exclusivo para o Jornal de Negócios, o filósofo e seminarista Felipe Cunha fala do Padre Tiãozinho, seus valores e seu jeito simples e atencioso. “O essencial para ele era a pessoa, a dignidade humana. Ensinou-nos que a vida deve ser mais leve (…) Sabia ouvir, aconselhar e aliviar fardos pesados, especialmente dos jovens”, diz.
Felipe abre o texto descrevendo como imagina a chegada de Padre Tiãozinho no Céu. Veja a seguir.
Tiãozinho no Céu!
FELIPE CUNHA
Outubro. Domingo chuvoso. Céu nublado e o Padre Tiãozinho – que não se prendia às exigências do relógio – marcou uma visita inesperada a São Pedro. Fatigado, chegou adiantado na celeste morada. Assim como fazia em sua casa, encontrou a porta do Céu aberta e, com a mesma acolhida que ele sempre dava a quem lhe procurava, os anjos diziam: “Chega pra cá! Vamos tomar um cafezinho. Pra que pressa?”
Na varanda da cozinha, o anjo então lhe perguntou:
– Qual o seu nome mesmo? Repara não, é a idade!
E o padre respondeu:
– No registro civil é Sebastião, nome de um santo militar e mártir, de origem grega Sebastianós, que significa “sagrado”, “venerável”, “reverenciado”. Mas não tenho gosto pelas formalidades e burocracias. Meu nome mesmo é Tião ou Tiãozinho.
A Virgem Maria, Nossa Senhora do Bom Despacho, foi apressadamente encontrar-se com o bondoso filho Tiãozinho e o fez repousar em seu colo materno com um delicado e amável abraço de acolhida – da mesma forma que ele sempre acolhia as crianças em suas celebrações.
Após o descanso de uma longa viagem, Tiãozinho encontrou no jardim a Santa Efigênia dos militares, que logo sorriu e lhe disse:
– Que alegria tê-lo como meu vizinho, moro aqui nesta casa amarela, ao lado do salão da nossa Associação, aqui na vila militar celeste.
São Sebastião, muito atencioso e solícito, também veio chegando e, com os cumprimentos de um exímio soldado, prestou continência ao capitão e disse-lhe:
– Tiãozinho! Que bom que você veio fazer parte da nossa corporação. Estávamos à espera de um capelão. Venha conhecer o nosso pelotão.
Padre Tiãozinho, caminhando em direção ao quartel, reconheceu São Paulo, a quem fez a seguinte saudação:
– Combati o bom combate, terminei a corrida, guardei a fé. Agora me está reservada a coroa da justiça (2Tim 4, 7-8).
Após uma longa conversa sobre o Movimento do Cursilho da Cristandade, Encontro de Casais com Cristo e sobre as diversas atividades da Paróquia Militar, o Padre Tião, recém chegado, foi convidado para os festejos de São Frei Galvão, o primeiro santo brasileiro, comemorado anualmente em 25 de outubro. Festeiro como sempre e do jeito que ele gostava, o padre Tião providenciou galinha caipira, carne assada e aquele delicioso aperitivo. Foi uma festa!
Festa!? Sim. O Céu está em festa! O Padre Tiãozinho, que inúmeras vezes nos alegrou contando estórias em suas celebrações, palestras e aulas, sempre com seu jeito simples e espontâneo de ser, realiza sua Páscoa no Céu.
Sacerdote com profundo senso humanístico, Padre Tião orientou e acolheu muitas pessoas desesperadas, angustiadas e depressivas. Para todos tinha uma palavra de ânimo, de esperança, de luz.
O essencial para ele era a pessoa, a dignidade humana. Ensinou-nos que a vida deve ser mais leve. Que a norma pela norma, a lei pela lei, o poder pelo poder geram pesadas estruturas que causam sofrimento.
O sorriso constante e a calma do Padre Tiãozinho atraiu e levou muitas pessoas a Deus. Foi sempre dedicado à orientação espiritual e psíquica dos militares e de tantas outras pessoas que o procuravam para um aconselhamento, uma prosa ou para aliviar as dores existenciais e da alma. Era paciente e atencioso com as famílias, principalmente em união e conflitos matrimoniais.
Sabia ouvir, aconselhar e aliviar fardos pesados, especialmente dos jovens.
Padre Tiãozinho nos ensinou que não é preciso ter pressa, é preciso saber viver, ter fé, superar obstáculos e se libertar diariamente dos apegos terrenos.
Adeus, ou melhor, até logo, Padre Tiãozinho! Receba no Céu nossa homenagem, nossa gratidão e saudade. Continuaremos aqui tentando colocar em prática o muito do que aprendemos com você. Afinal, devemos ter pressa somente quando Deus nos chamar à vida eterna.
Felipe Cunha Azevedo, 28 anos, bom-despachense, é graduado em Filosofia e seminarista em Manhumirim/MG