Papos de taxista e a “terra de soldado”

 

AELSON ZUCA LOBATO – As histórias e lembranças ajudam a evitar o tempo vazio. “São como toupeiras abrindo túneis” no chão do tempo, criando passagens, galerias subterrâneas.

Sempre quando tenho oportunidade gosto muito de conversar com esses “fazedores” de túneis, os motoristas de táxi. Eles sempre têm boas histórias e narrativas interessantes. Histórias que quase sempre desaparecem com o fim da corrida… E sempre me lembro de um poema do poeta português Fernando Pessoa: “Da mais alta janela da minha casa / com um lenço branco digo adeus / aos meus versos que partem para a humanidade”.

Pois é, os taxistas contam história e se despedem no fim da corrida. Gosto muito de conversar com esses profissionais, principalmente com os que nunca tive contato. O papo rola com muita leveza entre a troca de histórias, abrindo túneis. Algumas histórias a gente nota que foram inventadas, mas têm o sabor da fantasia.

Sempre inicio a conversa perguntando de onde são. A grande maioria veio do interior. Eles gostam de falar de suas origens. Quando o trajeto é mais longo nascem histórias familiares. Costumo anotar muitas. Outro dia um deles contou que tinha oito filhos com cinco mulheres. Perguntei se não era difícil e a resposta foi curta: a gente vai ajeitando. Lembrei-me de um motorista de caminhão que dirigia de terno e tinha 4 mulheres que, além de ajudá-lo, moravam na mesma casa. Pensei, uma história que mostra uma verdadeira habilidade de harmonia.

Como quase sempre anoto esses bons papos, gostaria de contar que também me perguntam de onde sou. Entre os taxistas mineiros, principalmente os de Belo Horizonte, quando respondo que sou de Bom Despacho alguns dizem: terra de soldado!

História do 7° Batalhão

Por falar em soldado quero aproveitar o momento e o espaço para lembrar do 7° Batalhão da Polícia Militar. No dia 9/7/25 o 7° comemorou 94 anos. Foi instalado no dia 9/7 de 1931 com a denominação de Batalhão de Caçadores Mineiros da Força Pública. Foi criado em 19/6 de 1931 pelo governador bom-despachense Olegário Maciel, ocupando prédio e demais dependências que antes pertenciam à Estrada de Ferro Paracatu.

De soldado a coronel tive muitos amigos e até alunos que fizeram parte da galeria que marcou e fez história do 7°

Bom, voltando aos taxistas, principalmente da capital mineira, as histórias são diversas quando falo que sou de Bom Despacho. Uma passagem foi bem curiosa e provocou um espanto inesperado no motorista que antes havia dito que estava há pouco tempo em BH e conhecia poucas cidades de Minas.

Quando respondi que era de Bom Despacho, acentuando a palavra “Despacho”, ele me olhou de cima a baixo por alguns segundos e fez o “nome do padre”. Acredito que ele pensou que estava diante de alguém chegado a “despachos”. Voltou a falar comigo só quando deu o preço da corrida.

Uma semana depois procurei outro táxi e contei o acontecido com o colega. Ele riu e disse: “Comigo não tem problema. Moro em Betim e minha casa fica na rua Bom Despacho”.

De vez em quando a gente encontra com taxistas que ouvem muito e costumam deixar escapar frases que merecem anotações. Mês passado anotei duas em BH. A primeira: “Nada como um bom velório para refletir sobre a morte”. A outra tem até citação de autor: “O Freud disse que a pessoa é dona do que cala e escrava do que fala”. Então completou: “Mas falar é muito bom!”.

Mas a verdade é que taxista é uma grande fonte de grandes histórias e eu já fiz boas amizades com muitos. (iBOM / Aelson Zuca Lobato é advogado, ex-vereador e professor aposentado / Foto: 7° BPMMG).

 

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