Rádio Difusora: a alma sonora de Bom Despacho
VITÓRIA AUGUSTA – Parece que foi ontem que eu acordava com o som do rádio ligado na casa da minha mãe. Antes mesmo de abrir os olhos, ela já ligava o velho radinho para sintonizar a querida Rádio Difusora. Foi ali, embalada pelo som acolhedor dos locutores, que vivi um ritual que até hoje é mantido com carinho pela minha mãe. Aos domingos, a tradição se renova ao meio-dia, quando “A Voz da Paróquia” ecoa pontualmente marcando o horário de almoço. Primeiro com o saudoso padre Jayme (in memoriam) e, hoje, com o padre Heraldo, o programa une Bom Despacho e ouvintes de outras localidades num mesmo momento de fé.

Para os bom-despachenses, a Difusora é mais do que uma emissora: é parte da paisagem sonora do cotidiano. Seja pelas notas de pesar, que chegam de mansinho e unem a comunidade em solidariedade, seja pelos bordões marcantes dos locutores ou pelos “modões” que embalaram minha infância, seu jeito humanizado de levar notícias cria laços entre gerações. De certa forma, aquelas trilhas sonoras rurais e reportagens simples despertaram em mim a paixão pelo jornalismo, prova de que a rádio, mesmo em plena era digital, continua viva no imaginário e na rotina de quem faz Bom Despacho pulsar.
A história da rádio que faz parte da cidade
No aniversário de 113 anos, Bom Despacho celebrou muito mais do que sua fundação: celebrou suas vozes, histórias e tradições. E entre elas, a Rádio Difusora Bondespachense ocupa um lugar mais do que especial no coração da cidade.
Uma das emissoras mais antigas da região, a Difusora transmite atualmente na frequência FM 91.1 e tem programação voltada para cultura, informação, esportes, prestação de serviços e entretenimento. Embora sua fundação remonte ao ano de 1948, a rádio só entrou no ar no dia 30 de abril de 1950, ainda em condições precárias. Funcionava inicialmente no cruzamento das ruas Flávio Cançado Filho com Capivari, ao lado do antigo Hotel Xavier.

A primeira fase durou cinco anos e a rádio foi desativada. Só voltou em 1965, com uma nova estrutura e sob um novo modelo de sociedade: de anônima para limitada. Na reestreia, em 18 de setembro daquele ano, passou a operar na frequência AM com apenas 100 watts de potência. Depois, aumentou para 250 watts, alcançando 1.000 em 1986 e, mais tarde, 2.500 watts.
Com o tempo, acompanhando os avanços tecnológicos, a Difusora migrou do AM para o FM. Hoje, com a FM 91.1, transmite 24 horas por dia, conectando Bom Despacho ao mundo inteiro, inclusive por meio de plataformas digitais.
Vozes que marcaram gerações
A Rádio Difusora está presente em momentos marcantes da história da cidade. Atuou como testemunha e agente das transformações sociais, políticas e culturais de Bom Despacho. O resgate de episódios emblemáticos mostra como a emissora continua viva no cotidiano e na memória afetiva da população, conectando gerações com música, informação e companhia.

Em entrevista, o locutor Kallifa Lima, natural da cidade, compartilhou comigo um pouco da sua trajetória. Ele conta que sempre sonhou em trabalhar na Difusora. “Meu irmão, Conde Lima, era locutor da rádio. Eu ficava imitando os locutores, imaginando como seria estar ali”, relembra. A oportunidade surgiu em 1989. Desde então, são 36 anos à frente de um dos programas mais queridos da emissora.
Kallifa comanda programas de segunda a sábado e afirma que a participação dos ouvintes é constante. Hoje, além dos telefonemas, os pedidos chegam de forma prática pelo WhatsApp. Com a modernização e a migração do AM para FM, há cerca de dois anos e meio, a rádio se fortaleceu ainda mais. “Com a FM 91.1, nossa programação ficou 100% online e acessível de qualquer lugar. Levamos alegria para todos os cantos do mundo.”
Mais do que informação: serviço e solidariedade
Ao longo dessas décadas, a Difusora se destacou não só pela programação, mas pelo trabalho social. Quando perguntei ao Kallifa o que mais o marcou nesses 36 anos no ar, ele não hesitou: “Os trabalhos sociais que a rádio faz para a comunidade. Campanhas de arrecadação de alimentos, cestas básicas, roupas, dinheiro… E até quando alguém perde ou procura um objeto, recorre a nós. Essa troca entre rádio e comunidade é movida pelo amor, pela empatia e pelo compromisso com as pessoas”.
Para Kallifa, a rádio representa tudo. “Tive propostas de outras rádios, até de sair do país, mas nunca deixei a Difusora. Isso aqui é a minha vida, meu amor.”
Kallifa segue firme no microfone da Difusora, mas ele não está sozinho nessa missão. Outros nomes também seguem deixando sua marca diariamente na rádio, como Carlos Roberto do Couto, Fernando Santos, Célio Sérgio, João Batista, o comentarista esportivo Gilberto Tonhão e o querido Silvério Santos. São vozes que já fazem parte do imaginário coletivo da cidade, presentes na rotina dos ouvintes. E claro, fica aqui também o reconhecimento a todos aqueles que, ao longo dos anos, passaram pelos estúdios da Difusora e ajudaram a construir essa história tão viva. Profissionais que, com talento e carinho, levaram informação, entretenimento e emoção para dentro das casas de Bom Despacho.
Encerramento: a trilha sonora de uma cidade centenária
Com 77 anos de história, a Difusora segue sendo “a alma sonora de Bom Despacho”. Ela atravessa gerações, conecta pessoas e se renova sem perder sua essência. Hoje, cem por cento online, a emissora continua sendo o som que embala a cidade da fé aos “modões”, das campanhas do bem às notícias do dia.
E eu, como jornalista em formação e filha dessa cidade, desejo que tanto a Difusora quanto Bom Despacho sigam firmes no coração do povo, com sua forma única de aproximar as pessoas, contando boas histórias e fazendo parte delas. (Portal iBOM / Vitória Augusta é acadêmica de Jornalismo e neta do bom-despachense Bené Peão).
O rádio AM era para a minha geração o smartphone daquele tempo, quando não havia sinal de FM na cidade. Em cada lugar sempre havia alguem ouvindo a programação local da Difusora, Com o Reis, o Carlos Roberto, o Célio Sérgio e o Noel Lima ou outra emissora, geralmente de São Paulo, com o Eli Correa (oiii geeeennte), o Zé Bétio (Rádio Record).
Na Difusora a turma sempre tocava o Léo Canhoto e Robertinho com aquela estória “O Valentão da Rua Aurora”.
Estive no estúdio certa feita, com o Conde Lima, nos anos 80, e era legal ver as coisas acontecendo ao vivo: pessoas ligando, pedindo e oferecendo músicas.
Tempo das interações ao vivo, direto ao orelhão mais próximo para a estação preferida, ou por cartas. A gente meio que condiderava o locutor um amigo; até me lembro de vários que eu costumava ouvir, como o Marilton Borges (irmão do Lô Borges do Clube da Esquina), que tinha programa na Rádio Guarani de BH, o Róbson Castro (criador do famoso programa Good Times, transmitido na Mundial e Rádio 98), o Róbson Alencar e o Lucas França, do programa Voo Livre da Mundial, o Willian Jorge, da BH FM (Bom Diiiaaaa Vidaaa), o Alberto Brizola, da Rádio Mundial. No colégio o radinho ia na pasta para ouvir na hora do recreio.
Tive um conhecido que trabalhou na Rádio Atalaia, de BH, e sua vez, marcante como a do cantor Barry White, fazia muito sucesso. Chamava-se Dimas Fonseca e ra oficial da PMMG.
Os ouvintes mais antigos gostavam do Aldair Pinto, também da Rádio Guarani, o Delmário, da Rádio Inconfidência, Carinhoso e Cachimbeiro, na Rádio Inconfidência; a turma do futebol gostava muito das esquipes de esportes da Rádio Inconfidência (Jairo Anatólio Lima, Ramon Salgado e Alair Rodrigues), Rádio Guarani (Vilibaldo Alves, Paulo Celso, Dirceu Pereira) e Rádio Itatiaia (Osvaldo Faria, Carlos Alberto Pinguim, Willy Gonze e Alberto Rodrigues). Sem falar na Globo Rio, com os locutores famosos Waldir Amaral e Jorge Cury. A Turma da Piada se ligava na Rádio Tupi, do Rio, para acompanhar a Turma da Maré Mansa.
Com a popularização do FM, dos famosos aparelhos 3 em 1 Gradiente, Aiwa, virou moda captar as estações instalando antenas para curtir um som limpinho; uma fita TDK ou Basf engatilhada para gravar as canções preferidas. É verdade que o toca-fitas mascava uma de vez em quando, mas fazia parte.