Bom Despacho: erros que a cidade não deve cometer

 

ALEXANDRE MAGALHÃES – Quem me conhece bem sabe que eu adoro aprofundar o conhecimento sobre quase tudo. Um nome de família diferente, um sotaque que não reconheço, um cachorro que não conheço a raça, um nome muito diferente, tudo isso e muito mais viram motivo para uma pesquisa, uma pergunta constrangedora (não para mim, mas para minha namorada bom-despachense, que sempre acha minhas curiosidades impertinentes. Só um exemplo: conheci uma mulher chamada Mairna e perguntei a ela se seu nome era proposital ou se houve uma inversão de letras na hora do registro. Com minha namorada bom-despachense derretendo-se de vergonha, a Mairna me explicou que era uma homenagem a uma amiga de sua mãe). No começo de maio, fiz um exame de DNA que indicará de quais continentes, países e cidades meus ancestrais vieram. Não vejo a hora de receber os resultados. Curiosidade é meu lema.

Minha curiosidade também vai na direção da idade das coisas. O pessoal da Mercearia do Wilson, no bairro Esplanada, já cansou de me ouvir perguntar para os consumidores das cervejas Stella Artois e Spaten algo como “sabe desde quanto essa cerveja existe?”. Diante do costumeiro “não”, digo “dê um chute”. Adoro ver os rostos de espanto quanto digo que a Stella foi criada em 1366 e a Spaten em 1397, ambas de muito antes da invasão portuguesa ao que hoje conhecemos como Brasil, em 1500. Um contraponto à longevidade destas duas cervejas é a Malt 90, produto que durou poucos anos e desapareceu rapidamente do mercado.

Bom Despacho foi fundada em 1 de junho de 1912. Neste ano, em abril, um fato mundialmente famoso nos marca até hoje, o afundamento do Titanic. No Brasil, alguns conflitos marcaram este ano, como a Guerra do Contestado, na divisa do Paraná e Santa Catarina, e a ação enérgica do governo federal para acabar com uma revolta na Bahia.

Em 1912, a população de minha cidade natal, São Paulo, era de cerca de 350 mil pessoas. Os rios Tietê, Tamanduateí e Pinheiros eram limpíssimos e os esportes da época eram o remo e natação (ambos nestes rios), além da peteca.

Em 113 anos, a população de São Paulo cresceu 5.714% e tornou-se muito rica. Mas, tornou-se uma cidade sem alma, sem natureza, sem rios, sem pássaros, sem a sua tradicional garoa, onde ninguém sabe nada de seus vizinhos e jamais perguntam “cê é fidiquem?”, pois a resposta não fará nenhum sentido prático.

Como um humilde presente para Bom Despacho, vou tentar fazer um paralelo entre as duas cidades que mais amo na vida e indicar caminhos para que minha cidade mineira preferida não cometa os mesmos erros de minha cidade paulista preferida.

Acabar com queimadas

Cuidar da natureza é essencial para que Bom Despacho permaneça linda como é. São Paulo destruiu tudo em nome do crescimento econômico e hoje tenta reverter parte do estrago criando parques no meio da cidade, onde hoje moram pessoas, ou seja, desalojando-as. Que Bom Despacho preste atenção aos desmatamentos visíveis nas bordas da cidade, que cuide para que as queimadas urbanas e rurais desapareçam. E que cuide bem da Mata do Batalhão! São Paulo cheira poluição de carros e Bom Despacho cheira a queimadas. Sinto esse cheiro em casa no bairro Esplanada, durante minhas corridas pela cidade, em todos os lugares. Que Bom Despacho olhe com carinho a substituição das matas nativas por eucaliptos e outras plantações em larga escala. E que a população entenda que queimar lixo e mato é crime, além de acabar com a saúde dos bom-despachenses.

Que Bom Despacho crie serviços de reciclagem de seu lixo, criando renda para quem recicla e diminuindo os estragos que os lixões fazem para o meio ambiente e para a população da cidade. São Paulo avançou muito neste aspecto e não é muito comum ver lixo espalhado pelos bairros e ruas, como vejo em Bom Despacho. Lixo atrai animais famintos e doenças, além de deixar a cidade mais feia e malcheirosa.

Animais na rua

Em São Paulo é proibido comprar animais domésticos não castrados. Além disso, há grandes programas de adoção de animais em todos os bairros e, claro, só animais castrados podem ser adotados nestes programas. Por isso, é muito raro ver cachorros ou gatos de rua em São Paulo. Esse problema tem de ser encarado com urgência e verba pública para castração em larga escala, além de incentivo fiscal para quem adota um cão ou gato de rua e multa pesada para quem solta um animal na rua. Os bom-despachenses se acostumaram a ver animais sem donos nas ruas, muitos só pele e osso. Fora o problema que ciclistas e corredores enfrentam de serem cercados e acossados por cães durante seus exercícios. Na Avenida Doutor Roberto há uma trupe de cães, quase uma matilha, que acompanham os corredores por quilômetros, quase causando quedas, pois ficam muito perto de nossas pernas. E correndo o risco de acidentes, pois atacam as motos e bicicletas que passam pela avenida.

Cuidar dos passeios

Em São Paulo a regra é clara: quem cuida da calçada ou passeio é o dono do imóvel. Passeios malcuidados geram multas pesadas para os donos de imóvel. Quem anda na rua em São Paulo corre sério risco de vida. Em Bom Despacho, é comum ver pessoas caminhando fora dos passeios, pois grande parte deles não existem, são esburacados e destruídos, ou o desnível entre o passeio de uma casa para a outra é enorme, impossibilitando idosos, crianças, cadeirantes e deficientes de manterem-se só nos passeios. Recentemente, minha namorada bom-despachense torceu seu pé, foi levada ao hospital com suspeita de fratura, pois pisou em um buraco enorme em um passeio perto da Igreja da Matriz. Com o aumento de carros e motos na cidade, andar na rua fica cada vez mais perigoso.

Festas populares

Que Bom Despacho mantenha suas festas populares vivas e lindas, como Folia de Reis e o Reinado, incentivando os cortes a permanecerem ativos e atraindo mais jovens. E que consiga mostrar isso para outras cidades, como São Paulo, que há muito perdeu essas tradições. É emocionante ver essas festas!

Apoio a entidades

Conheci recentemente o trabalho da APAE – Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais, cuja obra é valiosíssima. Por meio da APAE, onde meu irmão Rafael participa do Centro Dia de convivência, fiz um curso de produção de queijos (em parceria com o Sindicato dos Produtores Rurais e SENAR – Serviço Nacional de Aprendizagem Rural), que pode se tornar uma fábrica muito em breve. Que não falte recursos para a APAE e seus trabalhos maravilhosos! E, a boa notícia, novos cursos de muitos assuntos serão disponibilizados pela APAE, com o Sindicato e o SENAR. E, melhor ainda, quase todos gratuitos ou com preços bem pequenos!

Apoio ao esporte

Outra associação que me encanta é a CorreBom – Associação de Corredores de Bom Despacho. Acho incrível como a CorreBom consegue juntar pessoas de idades, classes sociais, profissões e aptidões tão diversas e não parar de criar ações para incentivar seus associados a exercitarem-se no dia a dia, a participarem de corridas oficiais em várias cidades do Brasil e a ser um núcleo de verdadeiros amigos, liderados pela incansável Renatinha e sua equipe incomparável. Tudo que a CorreBom não foca é no lucro. Em São Paulo, infelizmente, este seria o principal objetivo de uma associação como esta. Vida longa para a CorreBom!

Riqueza humana

Que a população de Bom Despacho permaneça genuína em sua gentileza, amabilidade, jeito de encarar a vida e as relações pessoais, coisa que São Paulo perdeu há muito tempo, pois focou tudo no crescimento e na riqueza da cidade. Que Bom Despacho consiga crescer, mas mantendo essa riqueza humana!

Parabéns, Bom Despacho, pelos seus 113 anos! Que esta linda cidade seja uma Stella Artois ou uma Spaten e seja atrativa e desejada por muitas centenas de anos! Que cuide-se para não se tornar inviável, como uma Malt 90. E que o Jornal de Negócios continue a narrar suas atividades por muitos e muitos anos! (Portal iBOM / Alexandre Magalhães).

 

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