A nossa Mata do Batalhão fala por si

 

VANDER ANDRÉ – Na calçada em frente à casa da minha mãe há uma árvore. Uma quaresmeira que floresce várias vezes ao ano, com flores roxas, belas e vistosas. No entanto, é uma árvore solitária ao longo da avenida, que tanto se vangloria por estar asfaltada – algo ainda raro nos bairros periféricos.

Árvores como essa andam escassas por aqui; lembro-me bem de quando nos mudamos para a Avenida São Vicente e a paisagem era outra, com muito mais verde. Com o tempo, árvores foram cortadas para dar lugar a novos prédios, e pouco se fala sobre o impacto disso.

Eu não sou especialista em crise climática para entender a fundo os efeitos negativos do desmatamento urbano em uma cidade como Bom Despacho, mas sinto o impacto na pele, literalmente, e escuto o mesmo de muitos: a cidade está cada ano mais quente. “Que calor é esse?” ou “Cadê as chuvas?” são perguntas frequentes. E aquela mata que temos aqui no coração da cidade — ou melhor, no seu pulmão —, com entrada por um portão discreto ao lado da guarita principal que dá acesso à Vila Militar?

Essas reflexões me vieram à mente após assistir ao documentário sobre a Mata do Batalhão, dirigido por Roberta Gontijo Teixeira, com filmagens de Cecília Couto e Felipe Souza.

No documentário produzido em Bom Despacho com recursos da Lei Paulo Gustavo e apoio da Secretaria de Cultura da Prefeitura de Bom Despacho, “a mata conta sua história”. A sinopse nos convida a conhecer essa narrativa inovadora: “É sobre a Mata do Batalhão, narrado em primeira pessoa, onde a mata apresenta-se para a população, contando sua trajetória e importância para a comunidade.” Um registro histórico que envolve ecologia, mistério, preservação e beleza e que não podemos deixar de assistir!

ASSISTA AO DOCUMENTÁRIO AQUI.

Coincidentemente, na Flip 2024, em Paraty/RJ, tive a oportunidade de ouvir a escritora paulistana Mariana Salomão Carrara falar sobre seu último livro, A Árvore Mais Sozinha do Mundo. No romance, ambientado em uma roça do sul do Brasil, ela dá voz aos objetos da casa e, pasmem, a uma árvore que observa tudo do alto, oferecendo uma perspectiva única sobre a vida que passa complexa ao seu redor.

Isso me levou a pensar sobre o quão poderosa pode ser a visão de uma árvore sobre nós, seres humanos, e o impacto que causamos no meio ambiente. E, mais inquietante ainda, me pergunto: o que essas mesmas árvores poderiam dizer sobre nós, humanos, em um mundo cada vez mais devastado e pouco preocupados com o nosso futuro.

Em janeiro de 2021, Roberta Teixeira já sonhava com essa voz da mata em seu artigo para o IBOM: “Ah… se a nossa Mata falasse, ela apontaria não só as lindezas e histórias ali vividas, mas denunciaria invasões de terreno, construções sufocando, ainda que em parte, seus cursos d’água e mostraria desmatamentos, descarte de entulhos, queimadas intencionais e espontâneas e pediria que cuidássemos melhor dela e protegêssemos sua história, seus bichos, suas nascentes, suas lindas e frondosas árvores e suas belas flores.”

O documentário foi lançado na noite de 31 de outubro no auditório do Batalhão e na sexta-feira, dia 8 de novembro, foi exibido para os alunos do Colégio Tiradentes. Após a exibição, os estudantes e as professoras participaram do plantio de 51 mudas nativas, cuidadosamente selecionadas por Saul de Pádua para atender às especificidades do cerrado, com ajuda do pessoal do SOS Mata. As mudas foram doadas por Luciano Marcelo de Oliveira, da ARPA – Associação Regional de Proteção Ambiental, e o plantio ocorreu na área da mata do batalhão. Além dessa atividade prática, os alunos também produziram redações sobre a importância da preservação ambiental. Dentre os textos elaborados, destaco o seguinte trecho, da aluna Ana Lis, do 5° ano:

“O documentário foi lançado em 31 de outubro. Nele foram apresentadas a variedade e a diversidade da fauna e da flora com frutas e animais raros e difíceis de encontrar, como o caju do cerrado e uma espécie prima do gambá. Além da fauna e da flora, a mata do batalhão nos proporciona muitas outras coisas, como lazer e try run, tipo de corrida (caminhada). Ela também faz parte da nossa história e da história da Polícia Militar. Nela, há túneis onde transitavam locomotivas para fazerem carga e descarga e um lugar onde guardavam armas. Em relação ao lazer, havia duas piscinas, as primeiras de toda a cidade, e dois campos de futebol, um para adulto e outro para criança.”

Realizado por pessoas profissionais da nossa cidade, o documentário nos lembra que preservar é um ato de amor e resistência. Com uma proposta sensível e envolvente, nos convida a valorizar e a cuidar também do nosso patrimônio natural, que parece finito. Afinal, nossas árvores, como aquela quaresmeira solitária na avenida São Vicente, merecem não só a nossa admiração e contemplação , mas também proteção e preocupação com as gerações futuras! (Portal iBOM / Vander André Araújo é advogado, filósofo e escritor / Fotos cedidas pelo Colégio Tiradentes).

 

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