Autores bom-despachenses na Feira Literária de Parati/RJ

 

LÚCIO EMÍLIO – Esse ano estive, pela primeira vez, na Feira Literária de Parati (FLIP). Curiosamente, Bom Despacho teve ao menos quatro escritores que nos representavam: eu, meu pai (Lúcio Emílio do Espírito Santo), Bruno Carazza dos Santos e Vander Araújo (que lançou na FLIP o seu livro infantil Pinoquiabo). Parati/RJ é uma Ouro Preto à beira mar; tem o mesmo casario colonial e era de onde o ouro de Minas saía para a Europa.

Numa das mesas (da Folha, na FLIP) estavam Ruy Castro e Maurício Meirelles e esse último jornalista, que escreveu o prefácio de Hospício é Deus, de Maura Lopes Cançado – e citou Bom Despacho, terra da escritora.

A primeira palavra que Bruno falou quando nos encontramos na casa espaçosa onde ele debateu a respeito de País dos Privilégios, seu último livro, foi: “conterrâneo!” Que calor no coração encontrar os conterrâneos. Em Londres, num restaurante chamado Remo, encontrei Fabiana, de Criciúma/SC, simpática garçonete. Ele conhecia Sara Vivacqua, jornalista mineira destacada por defender o perseguido Julian Assange e filha do meu professor Alexandre Vivacqua, infelizmente falecido recentemente.

Passei o revéillon de 2023/24 em Londres junto de meus filhos. Em determinado momento, nós não encontramos táxi e nem uber para voltar de perto do rio Tâmisa, no centro, até o bairro onde estávamos, Battersea. O metrô estava parado. Na altura do bairro Belgravia, minha filha queixou-se de dores na perna e nos olhos, pois ventava e a temperatura caía mais e mais. Nisso, algum mineiro debochado, ouvindo o desabafo, gritou: “aaôôuuuu, perrengue chique”! Ah, esses conterrâneos!

O porteiro da escola onde trabalho, Roberto, viveu um bom tempo na Inglaterra, sem falar a língua. Ele contou-me que, em um determinado dia, foi levado da barbearia onde encontrou outro mineiro e foi a um passeio num prédio perto da London Eye (aquela roda-gigante famosa) onde ele encontrou-se com uma bom-despachense… do Engenho do Ribeiro, casada com um inglês!

Meu tio Paulo Morais foi outro bom-despachense que passou a morar em Nova York, em 1987, sem dominar a língua inglesa. Ele, de início, tentou trabalhar num táxi, mas ficou estressado e notou que não era nada viável. Ele morou junto aos hispanos (latino-americanos de língua espanhola) na rua Astoria, no bairro Queens – e falar espanhol era uma salvação. Mas voltando ao conterrâneo: no novo livro de Bruno há uma lembrança carinhosa de sua formação, na cidade de Bom Despacho:

Entre diversas pessoas que poderia elencar aqui como exemplo de profissionais valorosos com os quais convivi ao longo da vida, presto minha homenagem às queridas professoras de Língua Portuguesa Marlene Cunha e Geralda Pontes (in memoriam) e aos mestres Ronan Tales de Oliveira e Célio Serafim dos Santos (História) por despertarem num jovem aluno de escola pública do interior de Minas o gosto por estudar os problemas do nosso país e escrever sobre eles (CARAZZA, 2024, p. 277).

A importância da nossa Biblioteca Pública

Embora ainda não tenhamos um exemplar de País dos Privilégios em nossa biblioteca pública, há um outro livro de Bruno, Dinheiro, Eleições e Poder, lançado também pela Companhia das Letras em 2018. O livro trata das distorções no sistema eleitoral que permite a reprodução das desigualdades no estado brasileiro. O exemplar da biblioteca traz uma afetuosa dedicatória de Bruno Carazza para a nossa biblioteca local:

À Biblioteca Municipal Jacinto Guerra, foi nas suas estantes que eu conheci Monteiro Lobato, Orígenes Lessa, Júlio Verne, Machado de Assis… Obrigado por ter aberto para mim as portas de um mundo mágico de aventuras, descobertas e ideias. Sem ele este livro não existiria. Um forte abraço, Bruno Carazza, setembro de 2010.

Ao final do livro, ele agradece à mãe pelo mágico momento ao levá-lo a nossa biblioteca, em última análise, o momento em que a paixão pelos livros começou e frutificou tanto que o autor escreveu os seus próprios. Ele anunciou, em Parati, que está vindo um novo volume de O País dos Privilégios, que é nada mais nada menos do que a continuação do clássico Os Donos do Poder, do jurista Raymundo Faoro, datado de 1958 e hoje um clássico da interpretação do Brasil.   (Portal iBOM / Lúcio Emílio Júnior é filósofo, professor e escritor / Foto: arquivo pessoal).

 

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