Precisamos entender a riqueza que é o envelhecer
ROBERTA GONTIJO TEIXEIRA – Outro dia li uma pesquisa que compara a forma como vemos a velhice e nossa qualidade de vida atual. Tendemos a encarar a velhice com peso, medo e pouco respeito. Costumamos olhar para ela com um certo desdém, como uma etapa da vida inútil e até assustadora.
Poucas vezes olhamos para o processo de envelhecimento e para os nossos idosos vendo a beleza que possuem, dando-lhes o respeito e a admiração que merecem.
No Japão, velhice é sinônimo de sabedoria. Eles costumam cultuar e reverenciar seus idosos e é comum que os mais velhos da família sejam consultados antes da tomada de uma decisão importante.
Nós aqui ainda estamos longe dessa conquista.
Hoje, graças aos avanços da medicina, estamos cada vez mais longevos. Somos jovens senhores e chegamos à casa dos 50, 60, 70 buscando ainda realizar sonhos e projetos.
Precisamos não apenas fazer as pazes com nosso processo de envelhecimento, mas, também, aprender a olhar com reverência para os que já estão nesse estágio da vida.
Meu pai, aos 81 anos, não quer nem saber falar de piedade ou vitimização nessa etapa. Não me deixa ajudá-lo a atravessar a rua, não permite que eu me abaixe para amarrar seu sapato e, quando insistentemente ofereço auxílio, ele retruca: pensa que não consigo fazer sozinho?
Do alto de mais de oito décadas de vida, acabou de participar da criação do seu primeiro documentário, que trata da história do Cine Regina. Deliciou-se na última semana ao ser entrevistado e ver a logística de um podcast. Agora quer mais. Encerrou a noite outro dia dizendo: “preciso me atualizar mais nas tecnologias, estou meio atrasado”.
Muitas vezes acho difícil lidar com isso, devido às preocupações que me gera, mas acho incrível essa ânsia por autonomia que ele insiste em preservar. Precisamos rever nossos conceitos sobre a velhice.
Mudar estereótipos não é fácil e nem rápido, mas um processo de transição faz-se necessário.
Urge passarmos a olhar para a velhice com mais simplicidade, confiança, respeito e admiração!
Essa necessidade exige que acalmemos nosso coração quanto ao processo de envelhecer e pede uma profunda reflexão sobre nosso comportamento e a forma como olhamos e tratamos os idosos que nos cercam, sejam eles de nossa família, da nossa comunidade ou simples desconhecidos.
Precisamos fazer as pazes com nossa trajetória e entender a riqueza do envelhecer. Precisamos de projetos de inclusão, de atividades específicas, lugares dignos e divertidos para acolher nossos idosos.
Triste situação do Asilo
Em Bom Despacho, por exemplo, precisamos olhar para o nosso Asilo, que pede socorro.
Outro dia, fizemos no PodBom, o novo podcast de Bom Despacho, uma entrevista com a presidente do Asilo, dona Ivone Cardoso, de 77 anos.
Ela nos contou lindezas de lutas, enfrentamentos, plantios de horta, buscas de soluções e, também, grandes tristezas, inclusive a possibilidade de fechamento do Asilo por falta de recursos financeiros para cuidar dos internos. ASSISTA CLICANDO ABAIXO.
O Asilo precisa da nossa ajuda. Não se trata apenas de “dar esmola ao asilo”. Ir até lá, levar uma cesta básica pode até ajudar momentaneamente, mas é necessário muito mais que isso.
É necessário um engajamento, rever conceitos e comportamentos acerca do envelhecimento e das necessidades que ele traz.
Quem sabe fazemos uma campanha e um mutirão de cura, não apenas das mazelas e deficiências que o Asilo vem enfrentando, mas aproveitamos para rever nossos conceitos e preconceitos sobre a velhice?
Talvez no processo de ajuda ao asilo, de propostas e sugestões de novas e melhores políticas públicas, possamos entender a beleza do nosso próprio processo de envelhecimento.
Não há mais tempo a perder. O tempo passa para todos nós. (Portal iBOM / Roberta Gontijo Teixeira é bacharel em Direito, ambientalista e servidora pública federal / Foto: imagem de Tung Lam por Pixabay).