Adélia Prado Lá em Casa: a visita da grande poeta a BD
LÚCIO EMÍLIO JÚNIOR – Recentemente, a poeta, filósofa e romancista Adélia Prado ganhou dois prêmios muito importantes: Prêmio Machado de Assis e Prêmio Camões. Eu, tio Bil e mamãe fomos em busca de seus rastros em Divinópolis. Ao contrário do que pensávamos, Adélia Prado não é objeto de culto em sua cidade natal. Não havia cartazes, nem faixas ou pôsteres pelas ruas. No centro cultural ali ao lado da Catedral há uma frase em uma placa na entrada. Fomos, então, a uma livraria no shopping Bom Pastor. Os livros de poesia – que não estavam na vitrine, reparei – dela estavam disponíveis em um combo, mas não sua prosa reunida.]
Adélia Prado tem muita afinidade conosco. Como é de uma cidade vizinha, há sintonias com a poesia dela, que utiliza expressões coloquiais usadas por nós, tais como “é na mesma toada”, no sentido de “canto monótono”. E ela foi capa de revista aqui, graças ao meu amigo Alex “Musquito”, poeta autor de Arraial dos Lobos, hoje policial civil vivendo no Paraguai. A revista, infelizmente extinta, chamava-se Tipura, um verbo de origem banto que pode ter vários significados conforme a frase, o que chamamos passe-partout. Nessa época, Adélia protagonizou uma palestra na Academia Bom-Despachense de Letras. Alex gravou essa palestra em DVD, mas não consegui acesso a ela. Ainda quero ter.
Cheguei a entrevistar Gísila Couto em 2006, grande admiradora de Adélia Prado, num artigo chamado Gísila Cecilane Couto: A Poesia Como Janela da Alma, num finado jornal local. Hoje ela utiliza mais o nome “Gísila Couto”. Gísila escreveu desde os 14 anos. Em 1998 ela publicou o livro de poesias Eterna Procura. Gísila admira Carlos Drummond de Andrade, Vinícius de Morais. E sua poesia, conforme ela mesma disse, nasce do contato com a natureza. Gísila passa os textos para o irmão Iru, que lê e dá opiniões a respeito. Depois de Eterna Procura, Gísila publicou Janela dos Olhos. Depois que nasceu seu filho Gabriel, ela voltou-se para o público infanto-juvenil e publicou Fazendinha, livro de poemas em que fala do gato Toró e do cão Napoleão: “Napoleão é um cão muito esperto, / vigia toda a fazenda / e os animais, bem de perto. / Adora caçar com seu dono, / brincar com a criançada, / correr, pular / mas só não gosta do banho, / que às vezes, tem que tomar. / Quando vê a água e o sabão, / corre logo para outra direção. / Mas não tem jeito não, é só pulga que salta / do coitado do Napoleão”.
Gísila Couto, como a nossa Adélia Prado, é advogada, autora consagrada da Academia bom-despachense de Letras, empresária e autora de vários livros (Eterna Procura, Padre Júlio Maria de Lombaerde e Rua do Céu). Nesse último livro, homenageou esse momento mágico em um poema no livro acima supracitado:
Adélia Prado lá em Casa
Da cidade mineira de Divinópolis para o mundo,
A escritora Adélia Prado. Contista de estilo único,
Cujos textos encantam pela forma que retratam
O cotidiano, pela espiritualidade e fé cristã
Que norteiam seus versos saídos do interior
De Minas para espalhar poesia mundo afora.
Poeta que embala suas poesias junto ao fogão,
Cozinhando, poetando, dizendo verdades,
Vasculhando, cutucando a vida na sua forma
Mais íntima. Adélia com suas poesias nos faz enxergar
O que o cotidiano às vezes nos oculta, recriando a vida com originalidade e lirismo, valorizando-a nos mínimos detalhes, sem ostracismo.
E do alto de sua generosidade, Adélia Prado nos honrou com sua ilustre presença na diplomação dos 22 fundadores da Academia Bom-despachense de Letras, no dia 10 de agosto de 2012, no Sesc/Laces Bom Despacho.
Momento de encantamento e magia, que contagiou a todos os presentes
Amantes da poesia e uma comunidade eclética
E vibrante que aplaudiu de pé a dama primeira da poesia primeira
Findado o evento no salão do Sesc, Adélia Prado
Nos presenteou com sua permanência entre nós
Por mais algum tempo, participando de um coquetel
Oferecido a ela pela Academia Bom-despachense
De Letras em minha residência
Guardo em minha memória com carinho:
Adélia Prado em minha casa, roda de viola,
Prosa da boa, cantoria até altas horas
E a alegria da confraternização entre Acadêmicos
E uma das maiores poetas do Brasil e do mundo,
Muito nos enriqueceu com sua presença entre nós
E os momentos mágicos foram eternizados
Na memória de cada um dos acadêmicos.
Hoje, aos 88 anos de idade, Adélia se faz representar nos eventos por sua filha. Gísila representa Bom Despacho com brilho e elegância, na luta, como ela mesmo escreveu em seu poema Realidade, que aqui relembro para fechar essa crônica: “somente a vontade, não mais do que a vontade, de vencer a batalha sangrenta da vida”. (Portal iBOM / Lúcio Emílio Júnior é filósofo, professor e escritor / Foto: arquivo ABDL).