Bom Despacho e SP podem se inspirar em Buenos Aires

 

Na maratona de Buenos Aires, no final de setembro, me prometi que correria olhando a paisagem, as coisas lindas da cidade, aproveitando cada metro ou quilômetro da capital da Argentina. Foi durante a maratona que percebi como Bom Despacho e São Paulo estão muito atrasados em alguns aspectos, os quais quero comentar e sugerir a adoção em minhas duas cidades preferidas.

ALEXANDRE MAGALHÃES – Comentei em algumas colunas deste segundo semestre a forte influência que sofri de corredores de Bom Despacho, especialmente, os associados da CorreBom, para decidir participar de minha primeira maratona.

Guardo em minha lembrança a face feliz dos bom-despachenses após terminarem de correr os 42.195 metros da prova no Rio de Janeiro em junho deste ano. Especialmente, lembro do sorriso do Jésus, profissional da saúde conhecido em Bom Despacho, alguns poucos anos mais velho do que eu, tão convincente em sua felicidade, que neste momento me impulsionou a tomar a árdua decisão de treinar loucamente para vencer distância tão grande, eu que até junho de 2024 só havia corrido provas menores, de 5, 10, 15, 18 e 21 quilômetros.

Sem querer, um dia antes desse sorriso do Jésus, eu havia corrido a meia maratona do Rio de Janeiro. Encontrei uns cariocas após a prova e, conversando com eles, percebi que eles tinham acompanhamento profissional para correr mais, melhorar seus tempos nas provas e coisas assim. Eu, que nunca havia treinado com um acompanhamento profissional, anotei o telefone do treinador deles e o contratei.

Entre o meio de junho e o meio de setembro, treinei quatro vezes por semana. Com chuva (não existiu chuva neste período), com frio ou calor, treinei. Na média, foram trezentos quilômetros por mês de treinos.

Na maratona de Buenos Aires, me prometi que correria olhando a paisagem, as coisas lindas da cidade, aproveitando cada metro ou quilômetro da capital da Argentina. VEJA MAIS FOTOS CLICANDO AQUI.

Foi durante a maratona que percebi como Bom Despacho e São Paulo estão muito atrasados em alguns aspectos, os quais quero comentar e sugerir a adoção em minhas duas cidades preferidas.

Uma cidade que mantém sua arquitetura e história

Correndo por vários bairros em Buenos Aires é possível perceber que grande parte dos prédios e casas são muito antigas, mas todos os edifícios são claramente conservados, pintados, preparados para serem vistos por todos.

O centro da cidade tem ruas muito estreitas, sempre de mão única, muitas com calçamento original com paralelepípedos. Há muita gente caminhando por estas ruas antigas, porque elas não foram abandonadas, como foram as ruas do centro de São Paulo, e estão cheias de hotéis, restaurantes, cafés e comércios mais antigos que a cidade de Bom Despacho. O Café Tortoni foi fundado em 1858 e todas as vezes que vou a Buenos Aires, tomo um café no local. Desta vez, apresentei o lindo café para minha namorada bom-despachense.

A rua mais famosa do comércio de Buenos Aires, a Calle Florida (se pronuncia Florída e não Flórida) tem um shopping center chamado Galeria Pacífico, cujo prédio é centenário, mantém os desenhos dos tetos e é lindíssimo de ver. Em São Paulo, charmoso é demolir prédios velhos e construir tudo novo. Pena!.

Os restaurantes de Puerto Madero, área de porto que foi revitalizada, mantém os prédios originais, todos de tijolinhos à mostra. Uma lição de conservação.

Parques e praças em abundância

Buenos Aires é um exemplo de lugar onde os parques são importantes. Há parques em todos os bairros, um após o outro, todos muito limpos, com árvores enormes, onde encontramos milhares de pessoas, muitas deitadas na grama, outros com seus cachorros soltos ou em coleiras, com seus filhos e netos, aproveitando os espaços públicos.

Eu e minha namorada bom-despachense visitamos dezenas desses parques e chegamos a chorar no Jardim Japonês, que visitamos, sem planejar, no primeiro dia da primavera. E descobrimos que os argentinos dão imensa importância para o início da primavera. Vimos centenas de porteños andando com flores nas mãos, nos cabelos (isso, eu não conseguiria fazer), nas mãos, entre outras possibilidades.

As praças (parques são fechados, geralmente, e as praças são abertas, geralmente) também estão presentes às centenas na cidade. E, ao contrário de Bom Despacho e São Paulo, onde as praças são pequenas, tímidas até, em Buenos Aires as praças são enormes, com muitas árvores enormes, muita sombra e proteção para dias de sol forte.

As praças, assim como os parques, são extremamente limpas, cheia de moradores, muitas crianças, muitos idosos, ciclistas, corredores, gente caminhando, enfim, cheias de vida.

Todos os cachorros têm donos ou cuidadores

Em uma semana de muitas andanças em Buenos Aires, eu e minha namorada bom-despachense não vimos um único cachorro de rua, sem dono. Essa é uma lição que Bom Despacho deveria olhar com carinho e tomar medidas para castrar os cães que já vivem nas ruas e fazer campanhas de adoção desses animais por moradores da cidade. Mesmo que para isso seja necessário um incentivo para não pagar algum imposto ou taxa da cidade.

Os velhos têm vida em Buenos Aires

Em todos os bairros da cidade encontramos grupos enormes de velhos, muitos de bengalas ou cadeiras de rodas, ocupando mesas nos cafés, nos restaurantes, nos teatros, cinemas, nas praças e parques.

Eles são recebidos por todos como parte integral da sociedade e não percebi nenhum tipo de preconceito. Saem com amigos da mesma idade e não somente com a família. Espero que minhas duas cidades preferidas preparem-se para que os velhos consigam ir a todos os lugares que queiram e sejam vistos como mais um bom-despachense ou mais um paulistano, e não uns trastes que atrapalham o bom andamento das cidades.

Planejamento desde já

Meus raros leitores e raras leitoras devem estar pensando: por que falar de parques, praças, cachorros vivendo nas ruas ou de velhos em uma cidade que tem tanta área verde, como sítios e fazendas. Será que essas coisas são tão relevantes para Bom Despacho? O planejamento deve começar agora. As dezenas de parques e praças de Buenos Aires não foram criadas recentemente. Em algum momento do futuro, Bom Despacho será muito maior e não terá praças e talvez o único parque será o da Mata do Batalhão, com os outros bairros totalmente esquecidos.

A questão dos cachorros abandonados é urgente!

Para os velhos bom-despachenses, faltam transporte adequado e frequente, passeios existentes e bem cuidados. E, principalmente, atividades regulares disponíveis. Eu e minha namorada bom-despachense fomos a uma aula de tango e, para nossa surpresa, havia muitos jovens porteños e um número maior ainda de velhos argentinos. A aula é semanal e eles não faltam! Planejar atividades que os velhos gostem e incentivar que tenham amigos e possam curtir a cidade plenamente.

Curta as fotos que fizemos da viagem!

 

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