Mais vale um cão na coleira do que dois soltos pela rua

 

DILERMANDO CARDOSO – Quando uma coisa vai dar merda, não adianta insistir, porque dá! Era assim que justificava suas marretadas, o Tomba Lobo: conhecido filósofo de boteco – mais de boteco do que filósofo -, enquanto perambulou pelas ruas de Bom Despacho/MG, sempre disposto a dizer coisas que muita gente preferia não ouvir.

Por uma questão pessoal, sentimentalismo, vá lá, eu havia prometido a mim mesmo que, nestas crônicas, não voltaria ao assunto dos cachorros, ou ‘pets’ como ficou chique falar-se agora. O diabo é que entre meus muitos defeitos sou teimoso…

Também acho quase desnecessário lembrar que, nos sábados à tarde, quando na igreja Matriz não se celebra um daqueles casamentões de abalar a cidade – com sua comprida fila de casais-padrinhos usando ternos e longos, escadaria abaixo –, qualquer cristão pode desfilar pelado pela praça que alma viva nenhuma se escandalizará!

Num sábado sem casamento, zanzava eu por lá, de roupa, felizmente, quando observei que, diante duma dessas butiques onde são expostos produtos em vitrines envidraçadas, estavam uma jovem e uma senhora – esta última, pela aparência, mais pra lá de Bagdá do que eu! Contudo, ambas igualmente deslumbradas, decerto sonhando acordadas com o rico mostruário. À volta delas um doguinho bonitinho, arrumadinho fazia festa para uma cadelinha vira-lata… Afinal, os opostos se atraem!

De repente, ainda empolgado, o cachorrinho cheirozinho cismou em atravessar a rua. Para o bom suspense da história, como não poderia deixar de ser, eis que no mesmo instante passava ali um carro! Certamente, pelos vidros da butique a mocinha viu refletida a cena, então se esgoelando como uma louca, e em vão chamando o cãozinho de volta… Já era tarde. O danadinho foi parar embaixo do veículo. Só pela habilidade do condutor, que freou imediatamente, o pior não aconteceu… Enquanto assentada no meio-fio, alegando que passava mal, porém não muito, a moça tinha fôlego bastante para xingar a mãe, a avó, e até a parteira do motorista… Boca suja!

Caso retornasse do além e assistisse a presepada, na lata, o Tomba Lobo haveria de soltar os cachorros nas madames: – Quem mandou sair pra rua, sem botar coleira no bicho? Ninguém é obrigado a ter, mas se tem, então que cuide, uai! Foi quase isto, só que em termos um pouco mais elegantes, o que repeti aproximando-me da senhora caquética: – Se você tem um cãozinho de estimação, que ainda não seja adestrado, não saia com ele para a rua sem colocar a coleira.

Todavia, incorporando voz e modos de bruxa, a velhota me esculhambou: – Sabidão, arruma um pau pra você subir!

Vê se pode? Eu querendo praticar minha boa ação do dia, e a coroca me chamou de macaco! É por isto que este País não vai pra frente. Palavra de escoteiro!  (Portal iBOM / Dilermando Cardoso é bancário aposentado e escritor / Foto ilustrativa).

 

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