Paulo Guerra: a história de um empreendedor
TADEU ARAÚJO – O empresário e fazendeiro Paulo Guerra Teixeira Leite, filho de José Teixeira Leite e Joventina Guerra da Silva, nasceu em Bom Despacho no dia 23 de março de 1926, na atual Rua Dr. Miguel Gontijo, antiga Rua do Rosário, quase esquina com a Praça da Inconfidência. Seu falecimento ocorreu dia 15 de fevereiro de 2024, em Belo Horizonte.
Paulo Guerra foi o primogênito de cinco irmãos: Maria Auxiliadora, professora, Hugo Teixeira Leite, empresário, Clarinda Guerra, professora, e Maria Natividade , psicóloga. Maria Auxiliadora e Hugo já faleceram.
Em 7 de outubro de 1950 Paulo casou-se com Helena Alves do Couto, na Igreja Matriz de Bom Despacho. Helena é filha de João Inácio do Couto e de Maria Alves do Couto.
Infância
Paulo Guerra Teixeira Leite passou os primeiros tempos de sua infância e iniciou seus estudos na atual Morada Nova de Minas, que era um distrito de Abaeté. Estudou em Belo Horizonte, no Colégio Arnaldo, e em São João Del Rei, no Colégio Santo Antônio, dos padres franciscanos. Em 1940, deixou os estudos e voltou para Morada Nova de Minas, onde foi trabalhar no comércio de tecidos e de secos e molhados, na casa comercial de seu pai.
O empresário contava que, aos 14 anos de idade, em meio a curto tempo de trabalho com o pai, era submetido a uma experiência desafiadora. Recebeu a incumbência de viajar por caminhos difíceis e precários – apenas com o motorista de um caminhão contratado -, de Morada Nova a Dores do Indaiá, onde foi comprar uma carga de café em grãos.
Em outubro de 1940, seu pai faleceu prematuramente, aos 45 anos de idade. Sem demora, após a morte do marido, Joventina Guerra voltou para Bom Despacho, acompanhada de Hugo e Clarinda. Eles foram levados pelo advogado Nicolau Teixeira Leite, irmão de José Leite. Ainda um adolescente, Paulo Guerra ficou em Morada Nova com deveres e obrigações a serem cumpridas, voltando a se integrar à família no ano seguinte.
Em Bom Despacho, Paulo trabalhou por algum tempo, sem remuneração – condição comum àquela época, no armazém de secos e molhados de Pedro Tavares Gontijo, na esquina da Rua Alferes Tavares com Vigário Nicolau. Mais tarde decidiu que seu futuro estava mais ligado ao comércio de produtos farmacêuticos, principalmente pelo fato de sua mãe, Joventina Guerra, ser diplomada em Farmácia pela “Faculdade de Medicina de Bello Horizonte – Pharmacêuticos 1923”, atual Universidade Federal de Minas Gerais. Para isto, era necessário que se praticasse o aprendizado do trabalho em laboratório farmacêutico, onde se processava a manipulação de medicamentos preparados de acordo com uma prescrição específica, atendendo às necessidades de cada paciente, receitados pelos médicos daquela época – em Bom Despacho se destacava o Dr. Miguel Marques Gontijo.
Trajetória nas farmácias
Com o intuito de aprender os fundamentos da atividade farmacêutica, diretamente num laboratório, Paulo decidiu trabalhar como aprendiz na Farmácia Ouro Preto, na Praça da Matriz com Alferes Tavares, de propriedade de Mário Vaz da Costa. Não deu certo. Para dar continuidade ao seu aprendizado conseguiu trabalho, ainda sem remuneração, na Santa Casa de Misericórdia de Bom Despacho, com o provedor Vicente Silveira. No entanto, acabou recebendo um convite de seus primos Getúlio Fidélis e sua esposa Clarinda Guerra Campos para trabalhar na farmácia do casal, no Engenho do Ribeiro, distrito de Bom Despacho, agora num emprego remunerado. Aceito o convite, trabalhou de março de 1942 a janeiro de 1943.
De 1943 a 1948, Paulo trabalhou na Farmácia Assunção, localizada na Praça da Matriz, onde posteriormente foi instalado o Hospital Dr. Miguel Gontijo. Depois de oito anos de experiência, pediu demissão com o propósito de só voltar a trabalhar neste ramo quando tivesse a sua própria farmácia.
Assim, durante quase um ano, trabalhou nos serviços de escritório da Laticínios Bom Despacho, quando em 1950 tornou-se sócio da Farmácia São José, posteriormente denominada Drogaria São José, na qual permaneceu até 1975.
Paulo Guerra dizia que “a farmácia de ontem não era a mesma de hoje”. Exigia conhecimentos práticos, muito cuidado e sabedoria para manusear os sais, tinturas e extratos, com muita precisão de pesos e doses formuladas pelos médicos. Lidar com situações que envolvem a vida humana sempre foi uma grande responsabilidade. Qualquer erro na manipulação de drogas poderia até ser fatal. A farmácia de hoje, exceções àquelas de manipulação, compreende somente o comércio de medicamentos, insumos farmacêuticos e correlatos em suas embalagens originais já produzidos pela indústria farmacêutica.
Ao longo de sua trajetória empresarial, em especial no comércio de produtos farmacêuticos, Paulo Guerra se preocupou em formar funcionários empreendedores, dotando-os de iniciativa, responsabilidade e independência. Com isso, qualificou muitos deles para se tornarem, posteriormente, empresários bem sucedidos à frente de suas empresas.
Fundação da Utilar
No período entre 17/01/1974 e 18/12/1998, depois de uma longa e bem sucedida experiência no comércio farmacêutico, Paulo Guerra e sua esposa Helena, juntamente com Hugo Teixeira Leite e Paulo Teixeira Campos, entraram para o comércio de eletrodomésticos, como sócios da Utilar. A empresa foi transferida para outros empresários do setor no final do ano de 1998.
Paulo Guerra foi sócio fundador da Praça de Esportes desde 17/09/1967 e do Ipê Campestre desde 28/06/1980.
Apesar de não ser advogado, conhecia a legislação previdenciária. Utilizou esse conhecimentos para melhorar a sua aposentadoria, de amigos e até de pessoas fora de seu relacionamento que o procuravam em virtude da sua fama. Tudo isso sem nenhuma remuneração, mas pela satisfação de ajudar o próximo. Mais recentemente conduziu a aposentadoria de todos os seus seis filhos.
Fazendas
Em 1975, Paulo e seus irmãos compraram a fazenda Retiro dos Agostinhos, a 10 km da BR-262 no trecho Belo Horizonte – Araxá, perto de Bom Despacho, para criar gado. Já em 1980, os irmãos Paulo e Hugo compram a fazenda São Bento, no município de Dores do Indaiá. E, em 1982, os irmãos Teixeira Leite adquirem o sítio Ipê Amarelo próximo ao perímetro urbano da cidade.
Como empresário ou como fazendeiro, Paulo Guerra sempre teve a seu cargo a contabilidade de suas empresas, inclusive elaborando, sempre que necessário, as alterações contratuais, documentos e contratos.
Entre as diversas funções de interesse comunitário, foi membro da diretoria do Clube Bom Despacho na presidência de Odílio Antônio da Silva. Como filiado na Irmandade de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, instituição que dirigia a Santa Casa de Bom Despacho, participou por vários anos de sua administração.
Voluntariado
Por mais de 20 anos participou da administração da ABAP (Associação Bondespachense de Assistência e Promoção Social). Nesta condição, participou dos entendimentos junto à assessoria do Ministério da Justiça, em Brasília, para obter a Declaração de Utilidade Pública Federal da ABAP por ato do Presidente da República, em exercício, Aureliano Chaves.
Em 1996 Paulo foi homenageado pelo Tiro de Guerra 04-006 com o Certificado de Atirador Fundador, recebendo do Ministério do Exército um documento com os seguintes dizeres: “Tiro de Guerra – Bom Despacho/MG confere a Paulo Guerra Teixeira Leite o presente Certificado como prova de reconhecimento pelo pioneirismo nesta Organização Militar no ano de seu cinquentenário. Bom Despacho, 6 de setembro de 1996”.
Gosto pela música
Paulo Guerra sempre teve um gosto especial pela música. Dizia que era um entusiasmado “apreciador das canções que, na harmonia de suas músicas e letras, interpretam sentimentos, falam ao coração – e tocam a sensibilidade da alma e do espírito. E, que tem tanta admiração pela música que traz, muito bem guardado, desde o tempo de jovem, uma razoável coleção das letras das músicas de sua predileção”.
Dos 73 anos de casamento de Helena e Paulo, com outros três anos de namoro, vieram seis filhos: Heloísa Helena, graduada em Biblioteconomia, casada com Maurílio Machado – filha Rachel Virgínia; Eduardo, economista com Mestrado em Administração, casado com Maria Ruth Siffert Pereira Diniz – filhos Bernardo e Paulo Vítor; Eneida, bibliotecária com pós-graduação em Gestão de Pessoas, viúva de Vesquival José Mendes – filhos Bruno e Rodrigo; Paulo Sérgio, eletrotécnico, administrador e advogado, divorciado – filhos Mariana, Gabriela e Ivan Sérgio; Miguel Ângelo, graduado em Engenharia Elétrica, casado com Cristina de Freitas Cabral – filhos João Paulo, Marcus Vinícius e Laura; Jacqueline, formada em Odontologia, casada com José Ferreira Cambraia Júnior – filhas Fernanda Sophia e Ana Carolina (Portal iBOM / Tadeu Araújo Teixeira é professor, escritor, colunista e membro da ABDL / Fotos: Arquivo da família).