Somos todas mulheres notáveis
ROBERTA GONTIJO TEIXEIRA – Amo andar sem nada me apertando, com o cabelo preso por uma caneta e, muitas vezes, com o pé no chão. Adoro estar em contanto com a natureza. O ambiente onde me sinto mais confortável é aos pés de uma cachoeira, numa estrada de terra, perto do mar, ou mesmo deitada no quintal da minha casa, olhando pra um céu estrelado. Mas, via de regra, fico bem e me sinto segura em qualquer ambiente ou tipo de evento. Adoro transitar entre o tráfego das rodovias, as ruas cheias de São Paulo, conhecer as periferias das cidades e/ou países que visito e passear em ambientes e festas sofisticados.
Tenho uma amiga que diz que pareço estar à vontade no mundo. Acho que isso é um pouco verdade. Seja onde for que a vida me direcione, dou um jeito de me aconchegar, sentar, tirar o sapato e puxar um dedo de prosa com quem está em volta. Só me sinto meio desconfortável quando não querem conversar comigo. Sempre quero saber, perguntar, palpitar, contar sobre mim, escutar sobre o outro.
Isso me traz alegrias imensas e alguns problemas. As cobranças, de quase todos que me cercam, sempre chegam: você não vai se arrumar? Não vai se maquiar? E as unhas? Aí não é lugar de sentar. Não pode tirar o sapato. Essa roupa está adequada? E o cabelo? Não há que se conversar com qualquer tipo de pessoa. Evite dar papo para estranhos. Você está sendo invasiva …
Tive que responder a quase todas essas questões na última semana.
É que nossa cidade contou com um evento especial. O Lions Bom Despacho, através da iniciativa de suas domadoras, especialmente a Jane Barros, a Juraci Floresta e a Elisa Leite, promoveu um evento em homenagem a mulheres notáveis para arrecadar dinheiro para seus belos projetos sociais.
Do alto de um salto bem alto e um vestido longo, que não são exatamente meus trajes habituais, entrei num salão lotado de mulheres lindas, bem-vestidas e, muitas delas, conhecidas. Adorei ir passando e acenando para cada uma. Sentei numa mesa ao lado das lindas mulheres da minha família, esperando o início das homenagens. Uma delas para minha mãe.
Tirei o sapato, sob o olhar reprovador da Dadá, cruzei as pernas na cadeira, sob a frase: “mãe, aqui é lugar de sentar assim? E me propus a apreciar a proposta de estar ali. Foi uma grata surpresa.
O evento foi muito bem organizado. Iniciou com um vídeo sobre as realizações da instituição que fiquei curiosa para conhecer mais de perto, a exemplo do projeto Dádiva da Visão. Logo em seguida houve uma palestra, bem interessante, sobre empoderamento feminino. Apesar de, sinceramente, não gostar muito deste termo, adorei o que foi dito.
Tenho um pouco de dificuldade com a palavra poder. Acho que o que é feito nesse mundo e o que se busca em nome do poder é muito triste. Poder dá a sensação de que você está superior ao outro e não em comunhão com ele. Gosto de me sentir livre, igual, parte do todo, pertencente, feliz. Não usaria a palavra poder pra definir o que busco, mas gostei muito da palestra.
Gostei particularmente do convite que a palestrante, Calí Silva (foto à esquerda), nos fez para olharmos umas para as outras e fazermos a preciosa viagem interna. Achei interessante a colocação de que, às vezes, corremos mundo e deixamos de visitar lugares inóspitos, lindos e inabitados dentro de nós mesmas. Amei a defesa da importância de nos embrenhar em nossos pesos, medos, remorsos, mágoas, conhecê-los e transformá-los em construção. Adorei as trocas, os olhares e os abraços que seguiram à fala descontraída da explanação.
Palestra encerrada, o evento seguiu cheio de guloseimas, apresentações de danças com os bailarinos Felipe, Luíza e Ana Laura, desfiles tanto das homenageadas quanto de roupas e assessórios do comércio local, com mulheres belíssimas. No final, um show do Ricardinho Trindade. Foi muito legal. Parabéns às organizadoras e às empresárias locais.
Na verdade foi um aprendizado ver, na minha ótica, não o empoderamento, mas a expressão de Deus em cada uma daquelas mulheres ali presentes. Como disse minha mãe uma vez, isso é impressionante. Não há uma igual à outra, tanto interna, quanto externamente. Cada uma guarda um traço, uma cor de olho, um formato de nariz, uma textura de cabelo, uma curvatura de corpo. Cada qual carrega suas cicatrizes, construções, histórias de vida e conquistas. E, ainda, há quem duvide que Deus exista. Foi uma noite especial. Um brinde a cada uma das mulheres presentes e, como disse a palestrante Calí Silva, ainda que em outras palavras, um brinde à possibilidade infinita que somos.
Um brinde especial a cada uma das homenageadas.
1) Dênia Azevedo, médica pneumologista, humana, de trato gentil e competente que especializou-se, também, em medicina do sono.
2) Denise Gontijo Queiroz Araújo Costa, enfermeira por profissão, hoje servidora da Secretaria Municipal de saúde, que tem dedicado sua vida a cuidar.
3) Erci Ferreira de Camargos Fernandes, graduada em Letras e empresária do setor confeccionista.
4) Geni Eugênia Gontijo Teixeira, minha linda, querida e competente mãe. Educadora impecável.
5) Gislaine Ribeiro dos Santos, dona de uma beleza e simpatia contagiantes, dedicou-se na arte de praticar o bem e promover ações sociais, tanto em Bom Despacho, quanto em Oliveira.
6) Karinne Aguiar Silva, que além de uma linda primeira-dama, trabalha como administradora da clínica médica. Ela foi representada por 7) Cássia Amaral.
8) Maria Luíza dos Santos Cabral, a mais velha e charmosa das homenageadas, nascida em 1937, comerciante, devota de Nossa Senhora das Graças e dedicada à família,
9) Maria Vilma Campos Cançado que, além da bela trajetória, trabalha há 55 anos dedicando-se aos projetos do Lions Clube Bom Despacho e Internacional.
10) Marisa Aparecida Domingos, a nossa querida, acolhedora e competente psicóloga.
11) Taciane da Siva Santos, especialista que dedica seus dias a nos deixar mais belas.
Não poderia deixar de registrar meu encontro com a Maria Vilma e constar minha gratidão. Ela, do alto de sua elegância, no fim da festa, estava na porta, despediu-se de mim e me emocionou bastante com uma menção aos textos que escrevo. Fiquei tão lisonjeada! Sempre a achei particularmente bonita e dona de uma charme ímpar. Nem imaginava que ela sabia meu nome. Saber que ela pára e lê textos que escrevo aqui, neste espaço, me possibilitou fechar aquela noite especial com chave de ouro.
O evento, como um todo, ajudou-me a compreender um pouco melhor o meu comportamento e constatar que, de fato, não importa o quão diversos somos, interna ou externamente, em que posição estamos assentados, quais as nossas preferências religiosas, musicais ou de estilo de vestir. Não importa nossa idade ou classe social, quando, como disse a palestrante, passamos a nos conhecer e viver o nosso propósito, nos sentimos donos do nosso caminho e podemos ficar à vontade em qualquer lugar e com qualquer pessoa neste mundo.
Estamos em casa. Que ousemos sair da nossa zona confortável e percorrê-lo. Somos todas notáveis. Parabéns ao Lions pelo evento.
(Portal iBOM / Roberta Gontijo Teixeira é bacharel em Direito, ambientalista e servidora pública federal / Fotos cedidas pelo Lions Clube BD).