Ser mãe é inexplicável mas não somos capazes de tudo

 

ROBERTA GONTIJO TEIXEIRA – Quase tudo nessa vida vem carregado de antagonismo. Ser mãe, uma posição tão intensa, não poderia ser diferente. Imagino que não há relação comparável à existente entre mães e filhos.

Costumo dizer que é como se parte da gente estivesse fora do corpo e tudo que atinge ou se refere a essa parte tem intensidade gigante. Ainda assim não podemos escolher, viver ou pensar por esta parte inerente e fora de nós. Apenas orientar, amar e desejar que a vida seja generosa com ela.

Sou cercada por mães com histórias maravilhosas de dedicação e amor.

Cláudia, minha ex-ajudante, tem seis filhos, recebe salário-mínimo e luta, diuturnamente, para dar-lhes o melhor, para amá-los da melhor forma. Seus anseios, planos e projetos ficam arquivados num lugar qualquer. Não há espaço para sonhos. A necessidade dos filhos é diária e premente.

Daniela, minha cunhada, uma mulher linda, excelente profissional, foi, recentemente, mãe de duas meninas. Elis, hoje com três de idade e Lara, atualmente com um aninho. Por opção, temporariamente deixou o trabalho de enfermeira, deu uma pausa na carreira e se dedicou integralmente às meninas.

Eleuza, minha amiga e vizinha, foi, há alguns anos, abandonada pelo pai das filhas. Criou e cria Sara e Isa, hoje duas jovens, com toda a garra e dedicação.

Denise, minha grande amiga e colega de trabalho, se viu grávida muito cedo, teve que adiar os planos e projetos profissionais e conseguiu, à base de muita dedicação, criar seus três meninos, Lucas, Thiago e Moisés, hoje adultos bem-sucedidos, com muita sabedoria e à custa de, sabe lá Deus, quanto sacrifício.

Há também as mães contadas, cantadas, cifradas, das histórias, livros, filmes e canções.

Tem uma de que gosto particularmente, a mãe de uma música do Chico Buarque chamada “Meu Guri”, que vê o filho, envolvido na criminalidade, como um anjo e assim o trata e o descreve lindamente em cada estrofe da canção: “chega suado e veloz do batente, traz sempre um presente pra me encabular. Tanta corrente de ouro, seu moço, que haja pescoço pra enfiar. Me trouxe uma bolsa já com tudo dentro, chave, caderneta, terço e patuá, um lenço e uma penca de documentos, pra finalmente eu me identificar”

Embora a experiência da maternidade seja pessoal, subjetiva, intransferível e vivenciada de uma forma muito singular por cada mulher, ela possui muitas questões, dificuldades, alegrias e peculiaridades comuns.

Via de regra compartilhamos a beleza, a alegria, a sensibilidade e a raridade deste sentimento. De fato, ser mãe é uma coisa inexplicável, um crescimento indescritível, um amor imensurável e uma experiência única.

Não podemos, contudo, fechar os olhos e apenas romantizar a maternidade, que é cercada de cansaços, esgotamentos, abdicações e excesso de cobrança às mulheres.

A ideia de ser mãe, ainda hoje, é muito romantizada e, via de regra, as dificuldades enfrentadas pelas mulheres na gestação, no puerpério e na maternidade em geral, são negligenciadas ou colocadas num lugar equivocado. Não apenas pelos espectadores e partícipes do processo, mas às vezes e principalmente pelas próprias mulheres que a vivenciam. Há algumas, inclusive, que não se permitem, sequer, a ideia de pensar em não ser mãe.

Hoje, muitos estudos são realizados nessa área e muitos são os avanços em termos de igualdade entre os gêneros, mas a pressão social que as mulheres sofrem e fazem sobre si mesmas ainda é inimaginável.

Acredito, de verdade, que não há nada tão maravilhoso, intrigante e enriquecedor, mas precisamos, pensar seriamente sobre a forma de desempenhar esse papel.

Podemos ter a liberdade de sermos outras muitas mulheres, nos destacarmos e realizarmos de outras formas, não termos filhos e, ainda, os tendo, dividirmos, de verdade, a tarefa da criação com os pais e/ou outros responsáveis.

Seja lá qual for a fórmula escolhida, está tudo bem, desde que respeitemos nossas escolhas e as façamos com sinceridade, livres de cobranças e imposições externas, internas e sociais.

Acho que vale a pena repensarmos a forma de vivermos esse amor incondicional.

Importante, também, ir nos livrando da imersão quase automática em processos de medo, culpa, cobrança e imposição.

Não há exigência de que sejamos mães e, se formos, não há que se ter culpa por não colocarmos o filho, sempre, como a única prioridade da vida. Às vezes nosso filho está chato e temos o direito de pensar e sentir isso. Às vezes eles nos cansam, nos irritam e isso não quer dizer que não possamos comungar esse sentimento com o de um amor gigante, acolhedor e universal.

É essencial respeitarmos nossos limites, sentimentos e desejos.

Temos que parar de acreditar que, por causa do nosso instinto materno, somos capazes de tudo sozinhas. Não somos.

Feliz dia das mães.  (Portal iBOM / Roberta Gontijo Teixeira é bacharel em Direito, ambientalista e servidora pública federal / Fotos: arquivos de família).

 

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