Fotos contam histórias e ganham valor emocional

 

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FERNANDO CABRAL – Estamos atolados em fotos. É fácil saber por quê. Há 15 bilhões de números de celulares ativos. Em média, dois celulares por pessoa. A tentação para tirar uma foto de tudo e de todos a cada momento parece irresistível. Mais irresistível ainda parece ser a tentação de colocar estas fotos nas redes sociais.

Bom, é conhecimento antigo que o excesso de oferta causa diminuição do valor. Assim, com incontáveis bilhões de fotos tiradas todos os dias, o acervo público e privado cresce vertiginosamente e o valor de cada foto despenca. Não o valor financeiro, que quase não há. Caem o valor artístico e o valor histórico. Mas cai, principalmente, o valor emocional. O excesso oblitera as emoções.

A situação é diferente com as fotos antigas. Elas são raras. Algumas são raríssimas. Por causa disto, mesmo que não tenham valor artístico, ganham significado histórico. Principalmente, ganham valor emocional. Primeiro, porque são lembranças de tempos que não existem mais. Segundo, porque nos permitem ver algumas facetas de como era o passado.

Na foto que ilustra esta matéria, vemos minha mãe, ainda muito jovem, mas já com quatro filhos. Diferença de um ano ou menos entre um e outro. Na época era assim.

Nós, meninos, todos descalços. Isto também era o mais comum na época. Havia duas consequências: todo mundo tinha lombriga, e ninguém tinha alergia. Crianças criadas assim, com pés no chão, têm um sistema imunológico bem desenvolvido. Raramente sofrem com alergias. Seus pés e pernas têm desenvolvimento natural e perfeito. Como era bom andar descalço!

A motocicleta – na época chamada de motor – era uma raridade. Havia de haver umas três ou quatro em Bom Despacho. Por isto a importância de documentar o momento em que uma delas ficava à disposição para uma pose de família.

Mas para nós, filhos de D. Maria de Castro, a emoção de lembrar aquele momento algumas vezes nos leva às lágrimas. Quando a foto foi feita, nossa vida idílica de menino criado na roça estava chegando ao fim. Em pouco tempo nos mudaríamos para a cidade. Para trás, ficariam o rego onde tomávamos banho; a cisterna de onde tirávamos a água de beber; a cabrita que nos dava leite; a horta, que era nossa fonte de verduras; as incontáveis galinhas, que nos davam os ovos de todos os dias e os frangos dos domingos.

Uma foto assim é a história de muitas vidas. É a história de nossas vidas. Por isto, quando for tirar a próxima foto, não deixe que ela seja apenas mais uma entre as bilhões de fotos tiradas todos os dias. Faça com que ela seja uma memória rica da sua vida, do seu ambiente, da sua família. Seus filhos lhe serão gratos por isto.  (Portal iBOM / Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho / Foto: Arquivo da família).

 

Fernando Cabral

Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho

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