Quem comanda você? Seus instintos ou sua razão?

 

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FERNANDO CABRALIntuição é a capacidade de interpretar instantaneamente uma situação sem aplicar conhecimentos explícitos. Em algumas circunstâncias chamamos isto de gnose. Instinto são impulsos gerados na parte mais primitiva do nosso cérebro, o tronco encefálico. Raciocínio rápido é aquele que está acima da instituição e do instinto, mas opera com atalhos que não raro levam a conclusões e ações erradas.

Este trio primitivo permitiu à humanidade sair da savana africana e sobreviver no planeta inteiro.

Embora nosso cérebro não seja organizado em caixinhas estanques, este trio está mais relacionado ao sistema límbico, a parte que comanda nossas emoções, nossos medos, e a busca do prazer imediato.

Foi este sistema que nos livrou do tigre dente de sabre, que nos protegeu contra os raios, que nos afastou dos frutos venenosos, que nos protegeu dos perigos da natureza. Essencial ainda hoje, é ele quem nos ajuda a escapar de um atropelamento, fugir de um incêndio, saltar para longe de uma cobra, correr das ameaças.

Contudo, este trio tem limites. Ele não planeja, não tem senso de organização, não sabe resolver problemas complexos, não toma boas decisões que exigem ponderação. Por isto, na maior parte da sociedade atual, devemos colocá-lo em plano secundário e abrir espaço para o córtex pré-frontal. É nele que residem as funções que distinguem o ser humano de outros animais.

Um exemplo. Não faz muito tempo nos ensinavam que, ao ser picado por uma cobra, a pessoa deveria sangrar o local e chupar o veneno com a boca e cuspir. A intuição diz que isto deve funcionar. Os estudos médicos, porém, mostram que não ajuda e pode agravar a situação.

Quando há raios e trovoadas, o instinto quer nos levar para o abrigo sob uma árvore alta e frondosa. É um mau conselho. Quando mais alta a árvore, maior o risco de ser atingida por um raio e nos levar juntos.

A dona de casa vê a gordura pegar fogo na frigideira e sua ação reflexa é jogar água para apagar o fogo e esfriar. Mau conselho outra vez. A gordura vai explodir e piorará muito a situação.

Funciona assim: quem pode nos livrar do carro que avança sobre nós é o trio primitivo, mas quem nos faz evitar estar naquele lugar de perigo é o córtex pré-frontal. Quem pede que tenhamos uma casa é trio primitivo, mas quem se organiza e planeja para comprá-la é córtex pré-frontal.

Enfim, situações que exigem ações instintivas, rápidas ou desesperadas – dentro do possível – são resolvidas pelo trio primitivo. O resto deve ser resolvido pelo córtex pré-frontal.

Mas há um problema: o trio primitivo é equipamento de fábrica. Nascemos com ele pronto para funcionar. Já o córtex pré-frontal se desenvolve lentamente. Exige aprendizagem. Aprendizagem proporcionada pela experiência dos mais velhos, pelos livros, pelas análises aprofundadas, pela avaliação de alternativas, pelo tempo dedicado a pensar e repensar os limites dos nossos conhecimentos.

O trio primitivo, porém, não tem paciência para coisas racionais. Se dependesse dele, nada seria analisado ou pensado. Ele gosta de reflexos instantâneos. Por isto, sempre tenta se sobrepor ao córtex pré-frontal, o que impede muita gente de tomar decisões racionais e mais eficazes.

O córtex pré-frontal faz o oposto: antes de decidir e executar, mede, conta e pesa. Com fatos em mãos, raciocina, estuda alternativas, pondera, planeja, organiza e só então executa. Depois da execução, volta para avaliar se funcionou e se a solução pode ser aperfeiçoada.

Quem é dominado pelo trio primitivo tem certeza sobre tudo. É da natureza do cérebro primitivo não duvidar de nada. Por isto, pouco aprende e fica só no básico da sobrevivência.

Mas, quem domesticou o trio primitivo e liberou o córtex pré-frontal cultiva as dúvidas, vive bem com elas, e está sempre pronto a mudar suas ideias e suas ações conforme novas informações, novas evidências, novos fatos, vão chegando.

E você? Você está sob a égide do trio primitivo ou se deixa liderar pelo córtex pré-frontal?  (Portal iBOM / Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho / Foto ilustrativa).

 

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