Dengue: este é o pior ano da nossa história

 

Em 2024 Bom Despacho viu um crescimento explosivo de casos de dengue. Nos primeiros três meses tivemos mais casos do que a soma dos três piores anos de nossa história. Estamos no meio de uma epidemia. Cinco conterrâneos já morreram. É uma nódoa nos registros e uma nota triste para familiares e amigos. Mal nos consola saber que, pelo menos para 2024, a epidemia dá indícios de que caminha para o fim. Não era sem tempo.

FERNANDO CABRAL – Em 1986 a dengue voltou a assolar o Brasil. A trégua foi curta: o mosquito Aedes aegypti havia sido exterminado em 1955, mas, menos de 20 anos depois, já estava circulando novamente. Em 1986 uma grande epidemia no Rio de Janeiro mostrou que a ‘febre dos sete dias’, ou ‘febre rombuda’ estava de volta, embora com nome novo: dengue.

Desde então o mosquito se espalhou por todo o país. Entre as doenças mais conhecidas que trouxe, estão a dengue, a chikungunya, a zika.
Infelizmente, nós brasileiros já estamos acostumados com ela. Acomodados, até. Esta acomodação tem sido trágica. A cada ano os casos aumentam. E este aumento pegou Bom Despacho de modo contundente em 2023 e mais contundente ainda em 2024. Vejamos os números que mostram por que podemos falar em explosão.

Segundo o Ministério da Saúde, em 2022 Bom Despacho registrou 166 casos de dengue. Em 2023 foram 862. Já em 2024, foram 4.344 casos até o dia 16 de março. Isto nos permite projetar mais de oito mil casos até o final de março. Um número absurdo.

Desaceleração

As epidemias com vírus que geram imunidade ou morte têm duas fases marcantes: uma de crescimento acelerado e outra de diminuição também acelerada. Ela se acelera enquanto houver vítimas vivas que ainda não tiveram a doença. Quando todos tiverem pegado a doença, ela desaparece. Isto ocorre espontaneamente porque as pessoas morrem ou ficam imunes.

Examinando o gráfico da evolução da dengue em Bom Despacho desde o dia 29 de janeiro até o dia 16 de março ainda não é possível ver o início da desaceleração. No entanto, consultando os números no dia a dia, há indícios de que a situação pode, com sorte, começar a melhorar. Melhorar, aqui, significa, essencialmente, ver diminuir o número de casos diários.

Chegando ao final?

Embora ainda haja muita coisa ruim para acontecer, o pior já pode ter passado. Como a secretaria de saúde foi omissa, tardia e ineficaz, nossa esperança está agora no declínio natural da epidemia. Em parte, porque o número de imunizados pela própria doença é alto; em parte pela provável queda de temperatura trazida pelo outono.

Nestas alturas já não há muito o que a prefeitura possa fazer. O momento próprio de agir com vigor foi perdido. Fumacê já é praticamente inócuo. Para surtir efeito, ele deveria ter começado a ser usado seis meses atrás.

Os mutirões de limpeza são sempre úteis, mas para vencer esta epidemia eles são apenas gestos políticos. De pouco ou nada valerão. Não dá mais tempo.

Os próximos números liberados pela prefeitura nos mostrarão se a projeção apresentada no gráfico (parte vermelha) vai se confirmar ou se já poderemos vislumbrar o início da queda de casos. Neste ínterim, há coisas que você pode fazer: eliminar todos os criadouros de sua casa, usar repelente, correr para o médico se tiver febre alta, dor nos olhos, mal-estar.

Seja como for, é certo que, de longe, este já é o pior ano da nossa história de descontrole da dengue. Não se descuide. Faça sua parte. Esta doença mata. (Portal iBOM / Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho / Foto arquivo).

 

2 thoughts on “Dengue: este é o pior ano da nossa história

  • 4 de abril de 2024 em 21:09
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    Meu Deus…

    O autor do artigo acima está dando como certo os casos de “notificações” de dengue, é isso? Eu fico pasmo com uma análise tão primária e alienante com uma clara distorção dos dados com base em um gráfico e uma projeção feita automaticamente com recursos de qualquer planilha básica (o mosquitinho da dengue maquiavélico foi a cereja nesse bolo mal feito). Os “casos alarmantes” de notificações não são casos confirmados de dengue. Diga-se de passagem, comparado ao ano passado, os casos confirmados ainda são alarmantes, isso é fato e o autor pode usar mas espero que de forma competente, mas não justifica essa distorção clara das informações.

    Fora a pseudociência aplicada no trecho “Ela (referindo-se a epidemias generalizadamente) se acelera enquanto houver vítimas vivas que ainda não tiveram a doença. Quando todos tiverem pegado (que rima com cágado… esse linguajar não é adequado em nenhum contexto, o texto fica vulgar. Sugiro “sido contaminados”) a doença, ela desaparece. Isto ocorre espontaneamente porque as pessoas morrem ou ficam imunes.” Vírus estão sempre passando por mutações. Ninguém que teve uma gripe não terá outra porque foi contaminado uma vez por gripe. Todo ano as campanhas de vacinação contra a gripe são realizadas porque todos os anos há novas cepas do vírus que causa a doença conhecida como gripe. A própria Covid-19 teve diversas mutações desde o início da pandemia porque muitos não se vacinaram ou não foram vacinados. Essa generalização feita no trecho é de uma irresponsabilidade sem limites.

    Levando em consideração os conteúdos que vi em grupos no WhatsApp de apoio a uma certa candidatura a prefeito (“Volta Pedro Alvares” me fez criar este trocadilho “super legal”) com muitos dados a respeito da dengue no município (desde notificações, confirmações, mortes suspeitas, evolução diária… os servidores da Saúde podiam ser mais sutis quanto a suas posições políticas) me impressiona a incapacidade de contar uma história com fundamentação nestes dados competentemente. Não é difícil.

    Sugiro a contratação de um “ghost writer” melhor, não um vendedor de produtos de beleza M.K.

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    • 8 de abril de 2024 em 18:25
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      Não costumo rebater comentários de FAKES como este ADALBERTO JOÃO. Ainda mais quando são provocações infantis e sem substância. Mas, como o assunto dengue é de interesse de toda a população de bom-despacho que está pagando alto preço pelo desleito da prefeitura, presto os esclarecimentos que seguem.

      Artigos curtos de divulgação para pessoas comuns não seguem as regras de monografia científica ou relatórios de pesquisa. A linguagem é tão simples quanto possível. As minúcias são deixas de lado. Mas, não custa apresentar os fatos e os princípios científicos que embasam o artigo. O FAKE, por sua natureza, não está interessado nisto, mas o cidadão de bem, sim.

      Pois bem, considerando os sintomas e sinais da dengue, e levando em conta a prevalência da doença no município, a aplicação do teorema de Bayes nos garante que 100% das notificações, se forem submetidas a testes, serão confirmadas. Os poucos casos que não se confirmarem como dengue serão confirmados como zika, chikungunya ou COVID-19. Talvez influenza. Isto não melhora em nada a situação da prefeitura.

      Mas não é só a regra de Bayes que nos ajuda aqui. O resultado da aplicação deste método de cálculo estatístico é corroborado pelo diagnóstico do clínico. Afinal, todos os casos notificados têm um diagnóstico prévio como dengue. Por isto foram notificados. Os médicos, médicas, enfermeiros e enfermeiras, com seus conhecimentos profissionais e com a experiência acumulada, erram pouquíssimo no diagnóstico de casos assim. Portanto, será desprezível os casos de notificação que eventualmente não serão confirmados por testes de laboratório.

      Mas, lamentavelmente, não serão confirmados. Também neste item a Secretaria de Saúde peca. A maioria dos pacientes com suspeita de dengue não são submetidos aos testes especificados pelo protocolo do MS. Ou seja, fazer os testes laboratoriais específicos, como NS1, IgM e PCR para dengue.

      Como o Município não cumpre este protocolo, ele não tem condições técnicas de contestar o que está no dito no artigo. Pelo contrário, os diagnósticos clínicos prevalecem. O FAKE está apenas tentando pescar em águas turvas.

      Aliás, do ponto de vista epidemiológico, a omissão dos testes laboratoriais é uma falha importante. Ela deixa a Secretaria de Saúde no limbo, desinformada sobre a prevalência e evolução das doenças infectocontagiosas no município. Sem estas informações, não há como administrar com eficácia.

      Finalmente, segundo o infectologista Carlos Starling, para cada notificação de dengue, há entre 4 e 6 casos não notificados. Até que tenhamos estudos específicos para Bom Despacho, devemos aplicar a média do Brasil. Neste caso, este ano Bom Despacho teria tido 25.920 casos de dengue até 27/3, que se refere ao último número divulgado pela Prefeitura.

      Para reconhecermos esta diferença, não precisamos de estudos de laboratório. Cada cidadão desta terra conhece pessoas que tiveram todos os sintomas e sinais da dengue, mas preferiram ficar em casa. Estes são os casos não notificados. São milhares.

      Com relação ao gráfico apresentado na matéria, para fins de divulgação, poderia ter sido usada uma projeção linear. Seria didático da mesma forma. Ou mesmo uma simples progressão geométrica, o que nos daria uma taxa média de crescimento de 4,18% ao dia entre 29 de janeiro (primeira data considerada no gráfico) e 27 de março (última data considerada no gráfico). Qualquer destas opções atenderia à finalidade de um artigo de divulgação. Contudo, fomos mais cuidadosos do que isto: calculamos a taxa de crescimento (até o pico) e a taxa de amortecimento (após o pico), o que nos permitiu ver que, a partir de certa data (25 de fevereiro), a propagação começou a diminuir discretamente. Tão discretamente, que não pode ser visualizada no gráfico. Para chegar a valores exatos da taxa de decaimento calculamos as derivadas de cada período e também ajustamos as curvas de regressão exponencial. Mas estas são tecnicalidades que não interessam a uma matéria de jornal que apenas divulga a evolução escandalosa da dengue em Bom Despacho.

      Quanto à regra geral da expansão das epidemias, é exatamente o que diz a matéria, em palavras comuns e sem tentativa de enfeitar o pavão: as epidemias desaparecem por meios naturais quando todos os suscetíveis no território de propagação morrem ou ficam imunizados. A imunização se dá por vacinação ou por contágio. Esta regra se aplica a todas as epidemias e não há exceção.

      O FAKE fala em mutação. Elas não são raras. Aí pode acontecer uma de duas coisas: se o novo vírus guardar semelhança suficiente com seus ancestrais, a imunidade continua valendo. Mas, se as mutações levarem a um vírus que o organismo não reconhece como o anterior, não haverá imunidade, pois para o organismo não é o mesmo vírus.

      O FAKE exemplifica com o vírus da influenza. Ele sofre mutações desde sempre. O da COVID-19 tem se mostrado um mutante em ação. Verdade. São bons exemplos de vírus altamente mutantes. Isto explica, por exemplo, por que a vacina da gripe tem que ser renovada a cada ano.

      Isto não tem nada a ver com a dengue nem se aplica a todos os vírus. Por exemplo, os vírus da catapora, sarampo e varíola tendem a ser geneticamente estáveis, o que faz com que a vacina e a imunização natural sejam válidas por décadas ou até pela vida toda. Este é também o caso da dengue. No Brasil, desde que a dengue voltou – faz cerca de 50 anos – só há quatro tipos de vírus em circulação. Eles podem se revesar ou aparecer simultaneamente entre nós. Mas do ponto de vista da imunização, eles são geneticamente estáveis. É por isto que, quando o cidadão pega um tipo de vírus (sorotipo), ele nunca mais sofre com ele novamente. Mas, como o são quatro variantes, cada um de nós pode ter dengue até quatro vezes.

      Portanto, o que está dito no artigo aplica-se perfeitamente ao caso da dengue. E era de dengue que estávamos tratando, não de influenza ou COVID-19.

      Para encerrar, valem algumas palavras sobre o FAKE ADALBERTO JOÃO.

      a) Sem mais nem menos, ele ataca os servidores da saúde. Por quê? Os que eles têm a ver com o artigo ou com seu comentário encomendado?

      b) Por que ele usa um nome inventado? O que ele tem a esconder? Falou em tom de quem defende a prefeitura de alguma coisa. Mas de quê? Por quê? Em nome de quem?

      c) Para se esconder (como se fosse possível!) o fake usa os serviços de provedor de serviços de Las Vegas, nos Estados Unidos. Um provedor conhecido por abrigar fraudadores de todos os naipes. (isto apenas prova que o FAKE ADALBERTO JOÃO, está na companhia certa: os fraudadores que têm que se esconder para divulgar suas “fake news”).

      Feito estes esclarecimentos aos cidadãos e cidadãs de Bom Despacho, fica o registro de que pessoas honestas, escrevendo bem ou mal, acertando ou errando, assinam embaixo. Assumem a responsabilidade sobre o que escrevem (ou falam). Mas, pessoas desonestas, fraudadores, paus mandados, escroques, estes se escondem atrás de nomes inventados, usam correio eletrônico falso e se valem de provedor que acoita fraudadores.

      Dito isto, o que se há de dizer de uma administração que precisa de FAKES para se defender dos fatos mostrados?

      Pessoas assim não merecem resposta. Mas, como assunto tão sério como a dengue que tantos prejuízos e dores causou em Bom Despacho, eu me senti compelido a esclarecer e reforçar tudo o que eu disse no artigo.

      Resposta

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