Geni Eugênia educou 3 filhos e alfabetizou metade da cidade

 

ROBERTA GONTIJO TEIXEIRA – Para celebrar esse simbólico 8 de março, o dia internacional da mulher, poderia narrar lindas e diversas histórias de mulheres que me cercam e suas lutas. Mas hoje vou ficar no terreiro de casa e contar a história da minha mãe, repleta de representatividade feminina.

Geni Eugênia Gontijo Teixeira é a mais velha dos 13 filhos de Eugênio Teotônio Gontijo e Terezinha de Jesus. De origem simples, nascida numa família grande e de baixa renda, perdeu seu pai/provedor muito cedo em decorrência da doença de Chagas.

Mãe, por natureza, com um jeito firme, seguro e muito amoroso, ajudou desde sempre no sustento de casa e na criação dos 12 irmãos.
Numa família tão numerosa e pobre, nem sempre tinha materiais escolares ou mesmo sapatos para frequentar as escolas onde estudou. Ainda assim, se destacou entre os mais brilhantes e dedicados alunos da classe, nas instituições de ensino que frequentou.

Marcada por um grande senso de organização, disciplina e capricho, sempre viveu e ocupou os espaços por onde passou com charme e competência.

Enfrentou todas essas nossas lutas, tipicamente femininas, machismos, preconceitos, restrições e excesso de atribuições.
Sempre brilhou na profissão, fosse lecionando para os pequenos, ministrando cursos de graduação, no normal superior; como psicopedagoga ou em seus trabalhos voluntários de alfabetização de adultos, na pastoral do bairro São Vicente, em parceria com o Rotary, depois que se aposentou. Tudo fez com muito esmero.

Paixão por alfabetizar

Como bem profetizou a vida toda, desde muito menina nasceu para ser professora e foi uma grande mestra para quem teve a sorte que cruzar o caminho dela.

Alfabetizar sempre foi sua paixão. Muitas vezes convidada a exercer cargos de direção e administração, ela os recusou. Sua grande vocação sempre foi a sala de aula.

Brinco com ela às vezes, dizendo que ela nunca se amarrota. Extremamente exigente com cada detalhes, ela parece desfilar pelo mundo. Passando da roupa de dormir até os guarda-roupas, tudo de forma impecável.

Apesar da infância muito simples e restrita, achou tempo e maneira de realizar todas as coisas que desejou. Se jogou na vida. Trabalhou muito, em alguns períodos diuturnamente.

Depois dos filhos criados, aprendeu a dirigir, teve seu primeiro carro, que foi de todos nós e conheceu alguns lugares do mundo. Amou a Itália. Manteve, com muita dedicação, a casa e a família unida e produtiva. Nos ensinou a brincar. Tínhamos brinquedos lúdicos e educativos. Era tudo modesto, mas a casa era cheia de afeto, aprendizado e segurança.

Hoje, ela cuida de si e paparica os netos.

Presença firme

Bom, pelo menos do ângulo em que me encontro, dentre as diversas mulheres que ela foi, em nada foi tão maravilhosa quanto no papel de mãe. Nos deu estrutura afetiva pra sermos gente. Nos ensinou a respeitar o próximo e a ocupar nosso lugar no mundo. Nos ensinou, junto com o pai, a importância de estudar.

Esteve sempre ali, em cada doença, em cada sonho que tínhamos, em cada traço da nossa personalidade que achava que poderia ajudar a amadurecer.

Foi firme, brava, presente e muito amorosa comigo, com o Bruno, com o Tadeuzinho e, pra dizer a verdades, com os irmãos, sobrinhos que amava, ajudantes que teve e com quem cruzou a vida dela de alguma forma.

Cuidou da organização dos nossos cadernos, de cada tarefa, feita e refeita, da beleza dos nossos materiais escolares, sempre caros e impecáveis, do nosso caráter, da nossa alimentação.

Leituras e viagens

Naquela época em que não era usual, tínhamos livros e revistas de pesquisas sobre infância, medicina, orientação sexual, tudo. Nossa casa era uma verdadeira biblioteca.

Lembro-me bem que, mesmo não havendo muito dinheiro, ela achava importante que conhecêssemos o mundo e poupava cada centavo, em parceria com o pai, para nos levar em viagens e excursões. Nos apresentou a gruta de Maquiné, o Mar, o mundo.

Nunca soltou a nossa mão. Fosse em qualquer circunstância, estava ali, presente, atenta e dedicada.

Então, tenho uma referência maravilhosa de mulher. Uma mãe presente que, ainda hoje, aos 76 anos, se diverte, trabalha, viaja, faz atividade física, quer sempre aprender, conhecer, respeitar e contribuir com o outro e com o mundo.

Assim, através da luta da minha mãe, que saiu da miséria, construiu uma trajetória linda, ajudou a criar 12 irmãos, amou e educou 3 filhos e, certamente, alfabetizou metade desta cidade, ajudando a formar cidadãos, homenageio todas as mulheres desta Terra em suas lutas individuais e coletivas.  (Portal iBOM / Roberta Gontijo Teixeira é bacharel em Direito, ambientalista e servidora pública federal / Foto: arquivo da família).

 

2 thoughts on “Geni Eugênia educou 3 filhos e alfabetizou metade da cidade

  • 10 de março de 2024 em 13:25
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    Roberta, que bela homenagem você presta à sua mãe e extensiva a todas nós. Parabéns pelo brilhante texto e por nos lembrar da figura mestra que é sua mãe. Porque como bem sabes, uma vez professora, sempre professora.
    Parabéns Geni, por nos dar a oportunidade de conviver com essa ” pessoinha” linda que você gerou.

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  • 11 de março de 2024 em 22:03
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    Geni, amiga e irmã da nossa vida. Você merece tudo o que sua filha Roberta disse e ainda acrescento: vc sabe fazer a gente se sentir alegre e por isto mesmo já demos ótimas risadas. Vamos continuar a caminhada com a certeza de que fizemos tudo com o coração, simplicidade, segurança, seriedade. Parabéns pela merecida homenagem.

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