Mais música (e festas) em Bom Despacho

Ao contrário das festas de minha terra natal, para as quais temos de ir até a festa, a do Rosário vem até nós. É linda esta ideia de a festa andar atrás das pessoas, andando pelas ruas da cidade, lembrando a população de que a Festa do Rosário é algo vivo

ALEXANDRE MAGALHÃES – A semana que começou em 13 de agosto foi especial para mim, e ainda está sendo, pois escrevo este texto no dia 17. Tem sido minhas primeiras experiências com a festa do Reinado. 

Confesso que quase nada entendo da festa e me sinto um pouco como um brasileiro que assiste a um jogo de basebol. Mesmo alguém explicando as “regras”, não é simples acompanhar tudo que está acontecendo.

Na terça-feira tive meu primeiro contato com a Festa do Reinado. Minha namorada está envolvida com um dos grupos que fazem parte da festa e me pediu para ir buscá-la na porta da Igreja do Rosário ao final da festa. Se entendi bem, neste dia aconteceu o final da novena. Não consegui ver toda a festa, pois tive uma reunião que terminou bem tarde da noite. Marquei de pegar a namorada umas 22:30 nas imediações da igreja, mas cheguei umas 22:00 horas. Saí do carro, fui até a porta da igreja e fiquei quietinho vendo e ouvindo os grupos chegarem, entrarem e cantarem lá dentro.

No dia seguinte, acompanhei um pedacinho da festa que levou os santos padroeiros, São Benedito, Santa Ifigênia e Nossa Senhora do Rosário, para a Igreja do Rosário.

Um não religioso em uma festa religiosa

Eu já fui muito religioso, dessas pessoas que vão à missa todos os dias. Eu assistia sete missas por semana. Ainda na adolescência tornei-me uma pessoa sem crença, como sou até hoje.

Porém, os assuntos religiosos me interessam muito. Leio sobre as religiões, gosto de entender como funcionam, quais as crenças de cada uma, enfim, o assunto me interessa.

Apesar de descrente, algumas manifestações de fé me emocionam. Ouvir “Romaria” ou ver pessoas no Círio de Nazaré em Belém do Pará, são exemplos disso.

Estar na porta da Igreja do Rosário na terça-feira, ouvindo as cantorias e ver tanta gente participando da Festa do Rosário me sensibilizou. É lindo ver todos ali, algumas pessoas por crença em algo supremo, algumas mais pela festa, outros mais pela tradição, mas todos juntos, passando horas cantando e dançando. E por vários dias.

Algo muito diferente

São Paulo, minha terra natal, não tem nada parecido com a Festa do Rosário. O que existe, como o Carnaval, vira uma maneira de ganhar dinheiro, com ingresso pago, regras, algo bem comercial. Vale a pena realçar que nos últimos anos tem ressurgido o carnaval de rua, menos comercial. Mas, no geral, tudo vira maneira de ganhar dinheiro.

A Festa do Rosário é linda porque é algo que se mantém por força das pessoas envolvidas, algo muito popular. E simples. Não parece algo falso, com todos usando roupas caras, com um monte de artistas globais aparecendo mais do que as pessoas da comunidade. Essa simplicidade, com o povo dançando e cantando, me encanta.

Invejo Bom Despacho por manter suas festas vivas!

Ouvindo sons o dia todo

Nos dois dias seguintes ao dia do fim da novena, passei a ouvir sons ligados à Festa do Rosário o dia todo. A qualquer hora, no bairro Esplanada, enquanto estou trabalhando, ouço pequenos grupos cantando e dançando. Sempre com os instrumentos de percussão aparecendo antes das vozes. Neste momento, quinta-feira às 19:28 estou escutando tambores aproximando-se de casa. Incrível! 

Ao contrário das festas de minha terra natal, para as quais temos de ir até a festa, a do Rosário vem até nós. É linda esta ideia de a festa andar atrás das pessoas, andando pelas ruas da cidade, lembrando a população de que a Festa do Rosário é algo vivo, cuja dedicação dos membros de cada grupo é ilimitada, a qualquer hora do dia.

Fim de semana de festas

Como trabalho todos os dias da semana, estou esperando muito a chegada do fim de semana. Quero aprender mais sobre a festa, entender como cada corte colabora para o todo.

Quero ouvir com cuidado as músicas, prestar atenção nas roupas, olhar os rostos das pessoas e me deixar emocionar pelas crenças de cada um dos membros de cada corte.

Estou adorando estar em Bom Despacho neste período da Festa do Rosário. E quero curtir e aprender muito sobre essa linda festa popular.

Bom-despachenses, mantenham suas tradições, mesmo que vocês não sejam religiosos. A cultura de cada local sempre vale a pena ser conservada. 

Obrigado a cada um dos cortes da Festa do Reinado, por me emocionarem tanto!

(Portal iBOM / Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por BD e SP / Fotos: Arquivo)

Alexandre Magalhães

Alexandre Sanches Magalhães é empresário, consultor e professor de marketing, mestre e doutor pela USP e apaixonado por SP e BD

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