O ataque das formigas ao Sapatinho de Judia
ROBERTA GONTIJO TEIXEIRA – Uma amiga minha diz que nem sempre precisamos fazer coisas mirabolantes para ajudar a curar essa Terra ou torná-la melhor. O simples fato de espalharmos delicadezas já é de grande ajuda.
Bom, é fato que somos suspeitos para narrar as histórias das pessoas que amamos. Mas meu pai tem uns olhares para o mundo tão interessantes, e que geram histórias tão divertidas, que penso ser essa forma de viver uma maneira de espalhar delicadezas.
Vou me limitar à relação com os bichos.
Lá em casa é proibido judiar de animais, mesmo cobras, aranhas e bichos peçonhentos. Meu pai os defende até os dentes de uma maneira muito divertida.
Depois da pandemia, passou a morar no Condomínio dos Cristais, um sítio nos arredores da cidade. No entorno da casa há um grande espaço verde com jardim, árvores, pomar e até um pedaço de terreno que ele não deixa rastelar, capinar, limpar ou roçar. Meu pai chama essa parte do terreno de Amazônia Legal.
Ele diz que se urbanizarmos tudo, limpando, cuidando e tirando o mato, pequenos insetos, cupins e outros animais não terão espaço para viver.
Que nós estamos invadindo um espaço que é deles e, por isso, temos a obrigação de preservar ao menos uma parte para que eles possam ocupar.
A resenha é tão intensa que, certa vez, minha mãe foi passar uma temporada com meu irmão na Bahia. Antes de sair ela nos incumbiu, a mim e a meu pai, de cuidar da casa e aguar as plantas, que são inúmeras por lá.
Estávamos indo muito bem na tarefa. Afinal, meu pai também acha importante cuidar das plantas.
Um belo dia cheguei em casa e a trepadeira favorita da minha mãe, que se chama Sapatinho de Judia, estava sendo devorada pelas formigas.
– Pai, precisamos comprar remédio e matar essas formigas. Elas vão acabar com a trepadeira da mãe e, quando ela voltar, vai ficar muito brava conosco, disse.
Ele prontamente respondeu:
– Roberta, vi uma reportagem esta semana sobre como as formigas se organizam. A rainha fica no ninho e é protegida pelos soldados. As outras, as operárias, trabalham sem preguiça e de forma incansável levando alimento para o formigueiro.
Elas são maravilhosas, carregam peso muita acima do delas e vivem numa “sociedade” muito bem arquitetada. Eu sinto muito, mas não vou matar formiga não. Não posso fazer essa chacina e acabar com essa estrutura tão bem montada.
Eu tive uma crise de riso e só me limitei a dizer:
– Tudo bem, pai. Sobrevivem as formigas e morremos nós dois quando a mãe chegar.
(Portal iBOM / Roberta Gontijo Teixeira é bacharel em Direito, ambientalista e servidora pública federal / Foto ilustrativa)
SECRETÁRIA BOA DE BRIGA
Nos anos 80 e 90 se tornou comum os novos aparelhos de telefonia fixa contarem com uma secretária eletrônica, daquelas que a gente personalizava a gravação do recado.
Éramos “republicanos” e, via de regra, estávamos no trabalho ou nos estudos; achamos que seria uma boa comprar um aparelho com tais facilidades para armazenar os recados.
Contudo, república que é república sempre acha um jeito de sacanear alguém.
Alguém (melhor não falar o nome do santo) resolveu programar a gravação de modo a interagir com quem ligasse. Eis o maravilhoso resultado:
– Alô. (Pausa para o interlocutor)…
– Quem está falando? (Pausa para o interlocutor)…
– Fale mais alto! (Pausa para o interlocutor)…
– Fale mais alto! (Pausa para o interlocutor)…
– FALE MAIS ALTO! (Pausa para o interlocutor)…
– Calma, calma. Não precisa gritar; não sou surdo.
– Você ligou (xxx)-xxxx-xxxx. Não estamos em casa. Você estava brigando com a secretária eletrônica. Após o beep deixe o seu recardo e retornaremos.
O mais legal eram os relatórios posteriores.
Alguns ainda estavam transtornados; outros ressentidos:
– Pô, liguei na sua casa. Não ligo mais.
– Quem é aquele sem educação que me atendeu?
Então a gente completava:
– Você também brigou com a secretária eletrônica?