Vivalde Brandão, escritor bom-despachense
TADEU ARAÚJO – Vivalde Brandão Couto Filho nasceu em Bom Despacho/MG em 1954 e mudou-se para o Rio de Janeiro em 1960. Poeta da geração mimeógrafo, publicou “Palavra e pedra” e fundou junto com Raul Miranda o grupo de poesia Bate-boca, do qual participaram L. Semog, José Carlos Limeira, Djalma Serra, Lúcio Autran e Samaral, entre outros, militando conta a ditadura, de 1978 a 84.
Trabalhou como fazendeiro e como advogado, formado em Direito pela UERJ.
Rufinos… com satisfação
Meu amigo e primo Vivalde, que é Rufino, com satisfação, como eu também, me confiou o privilégio de estampar em parte privilegiada do livro uma apreciação sobre o autor e sua obra. Fiquei feliz com a honrosa incumbência, por comentar obra de muitos talentos sobre paisagens, tipos inesquecíveis e linguagens antigas do Oeste de Minas e de uma Bom Despacho sertaneja, feito umas falas dos tempos de sua infância. Coisas de sodades que não existem mais, senão nas linhas e versos de algum escritor destas terras da Biquinha e do Picão.
A orelha do livro
Nesse lugar nobre deixei minhas impressões sobre o livro e o autor. Vejamos.
“Mínimos campos” tem na oralidade da qual o autor não abusa. Oralidade só, pura e simples, sem exagero. Admirável também por seus belos tons poéticos. E com um mínimo de esforço, a gente vai saboreando cada conto. Capítulos curtos, ligeiros, mas não estreitos, porque depois dos mínimos vêm os campos… E nos campos não há lugar para as estreitezas. Os campos das gerais se abrem para as amplitudes e amplidões, para abrigar a universalidade de cada um de seus personagens. Posso afirmar com certeza que Vivalde Brandão conseguiu uma originalidade possível dentro da oralidade e a atraente pauta de seus textos e aí está a primeira de suas virtudes como escritor. A segunda foi sua ousadia de desconsiderar a pontuação convencional, o que só deu maior fluidez e graça ao desenrolar de suas construções à la Saramago.
E o melhor de tudo, Vivalde, um contador de casos mágicos, fugiu dos estilos comuns aos que palmilham por essas veredas. Sua preocupação maior não foi dar volteios nem criar tipos caricatos e sim apresentar seres humanos com uma marca que os eleva ao seu ponto mais alto: o lirismo.
Chave de ouro
Como o poeta que fecha o soneto com chave de ouro – o verso mais bonito do poema – ele também fechou sua obra assim, com uma chave de ouro literária, com o poema-em-prosa “Sô Carlos”.
Sô Carlos ou Sô Carro Quirino, o nosso Dom Quixote sem Sancho Pança, perambulou por estes oestes de Minas Gerais, como o mais brilhante produtor de sagas e crônicas de nossos sertões. O grande artista da Literatura Oral dos sertões das Alterosas. Bem divulgado no seu estilo ímpar de vida, hoje, pela pena de Vivalde Brandão, Sô Carro foi celebrado e consagrado, como grande personagem dos cantos populares de nosso estado, na penúltima página de sua obra. Isto me emocionou. Vejam!
Sô Carlos
“Atravessou o pórtico e estava de frente para aquele azul de porcelana infinita. No fim do mar o paquete
Estudou para dentista Frequentou os anarquistas Entendeu o que queria e deixou o Rio Pegou o comboio de São João e de lá até Moeda Comprou um burro e desceu para Bom Despacho Procurou o Tabelião e, na Abadia (Martinho Campos ), doou as terras Montou no burrinho e falou pros outros Este burro é minha casa O meu teto é meu chapéu pras noites frias carrego minha capa Ideal Virou nos pés e foi matar dragão”
(Portal iBOM / Tadeu de Araújo Teixeira é professor, escritor e fundador da ABDL)