Lendárias praças de Bom Despacho 

O arraial de Nª Srª do Bom Despacho do Picão teve suas origens por volta de 1775/76. Naqueles idos para aqui se dirigem, a mando da Coroa Portuguesa, tropas armadas de capitãs do mato com seus mercenários e soldados da milícia de Pitangui. Seu objetivo era combater e expulsar os quilombolas de negros fugidos das minas de ouro de Pitangui.

 

Essas tropas se acampam no ponto estratégico do outeiro da hoje Cruz do Monte. Dali eles avistavam uma vasta região onde podiam localizar os quilombos e irem de encontro a eles para os combates.

 

No alto daquele outeiro, o padre capelão das Tropas, Pe. Agostinho, construiu uma capela de pau-a-pique e coberta de capim, onde ele instalou como protetora uma imagem de Nª Srª do Bom Despacho, da qual era devoto. Em volta o casebre paroquial. Depois os estábulos para os cavalos e residência humilde dos oficiais e dos demais combatentes. Assim nascia a futura cidade de Bom Despacho que no atual 1° de junho completa 111 anos de emancipação municipal.

 

Ali na Cruz do Monte plantou-se a semente da futura cidade que tanto amamos. Nas primeiras décadas surgiram três ruas: a Rua de Cima (da cruz do Monte até a Praça da Matiz), a Rua do Meio margeando um caminho onde está a Casa Paroquial até a Rua do Rosário. E a Rua de Baixo, que se iniciava na ex-rua do Rosário (hoje Dr. Miguel Gontijo) até o Jardim-sem-flor, atualmente Praça Inconfidência. Praças lendárias: Largo da Matriz, Larguinho São Pedro, Jardim sem Flor e companhia Ltda.

 

O Largo da Matriz

 

No começo surgiram em círculo na Rua do Meio e em circular a ela, casas, a primeira e velha Matriz, a casa paroquial. Pontos de comércio. Assim surgiu o Largo da Mariz, a maior, a mais rica e nobre de nossas praças, até a década de 60, em chão de giz amarelo, onde a garotada jogava, futebol, finca, pião e bolinha de gude, onde se brincava dentro e fora do belo coreto.
Local onde, a partir de 1927, em mutirão, Padre Nicolau, padre Augusto e o construtor José Etelvino e o povo de Bom Despacho começaram a erguer o que seria o nosso mais soberbo monumento arquitetônico de todos os tempos: a Igreja Matriz de Bom Despacho

 

Larguinho São Pedro 

 

Meu trisavô Pedro Pereira do Couto foi um grande líder político e comunitário de Bom Despacho desde quase sua fundação até sua morte no final do século XIX, perto do começo do século XX.
Em homenagem à sua memória, batizaram o larguinho com seu nome. Larguinho São Pedro. Mas não é de hoje que nossos vereadores desconhecem os valores de nossa tradição. Como fizeram com a Rua do Céu que teve espoliado seu nome pelos nobres edis, também ignoraram a importância cívica, econômica e histórica do cidadão Pedro Pereira do Couto e irresponsavelmente sacaram seu nome da praça que o consagrara na memória de sua gente. 

 

Larguinho São Pedro, reino dos Fidelis. Do Fidelis e de Dona Maria Guerra e dos filhos Geraldo, Elísio e Cica. Larguinho dos açougues. Dos cachorros do Chico do Inhozinho. Dos pês: Popô, Pecão, Pequé e Porréia. Larguinho do Martelo, do Olímpio Bomba, Bento Lopes e Antônio Ferreira. Um dos pontos mais quentes, mais alegres e mais engraçados da cidade.

 

Estação, Santa Casa, Santa Ângela e Jardim Sem Flor

 

E tinha praça da Estação, na verdade Praça Olegário do trem de ferro e da Maria Fumaça, sem seus apitos que hoje são saudades. A praça da Santa Casa, tão vasta, tão arborizada, um terreno que pertencia à própria Santa Casa, que a prefeitura “tomou”, uma vez que esse terreno era antes da Prefeitura. Hoje praça Irmã Albuquerque, ex-diretora daquele hospital, mulher de porte e postura nobre dentro de seu hábito de monja…

 

O bairro Santa Ângela que ainda cresce e floresce nos dias de hoje. o nome é em homenagem à filha do criador do bairro, o saudoso empreendedor Agostinho Cristaleiro, pai do Dr. Washington, médico que há mais de 40 anos engrandece a medicina local.

 

São José: a praça do meu coração

 

A Praça São José, hoje Antônio Leite. Por lá morei. Por lá vivi anos dourados de minha infância e de minha adolescência. As famílias numerosas de 10, 12, 15…18 filhos. A filharada de Chico Girisa e Dona Clarita. Do sargento Samuel e dona Isabel. Candinho Lopes. Cabo Docemiro, Antônio do Couto e Dona Angélica. Vítor Brandão e Vicentina. Efraim Barbeiro e Xanduca, Domingos Leite e Nenê. Ali morou a moça mais bonita e sexy da cidade, Maria José Paixão. Domínio absoluto do primeiro e único gay declarado e assumido do município: o Zé Toniquinho, ali se armavam todos os parques de diversão , todos os circos de “cavalinho” para delírio da molecada. Essa não perdia nem um espetáculo. Meninos maluquinhos sem dinheiro no bolso passavam debaixo do pano sem pagar. Praça do Geraldo de Sousa. Ele se enturmava conosco e nos divertia muito. Lá conhecemos bem a ele, à sua esposa e seu filho, o menino acolhido por todos, o Zé Rafael.


Nosso Mineirão, nosso Maracanã das peladas vespertinas. Nos finais de semana, de manhã, de tarde e de noite, a meninada saía qual bando de maritacas e enchia de alegria a praça, pra jogar pião, finca, bola de gude, soltar papagaio, bentealtas, futebol, brincadeiras de esconde-esconde, roubar bandeira, Brasil contra Alemanha ou de pegar-e-amarrar. Para irem nadar pelados com o Zé Toniquino nos poços do Tira Prosinha, Tira Prosa e no famoso e desafiante Tiraprosão. Ou para “pegar” laranjas na chácara do Pedro Gontijo e à noite, em turma avassaladora, roubar jabuticaba nos grandes quintais cheios de fruta de então.


Praça São José, antiga e saudosa praça, sem calçamento, sem passeios e sem jardins, taba de tribos de adolescentes a quem hoje, sessentões, setentões e até oitentões de idade envio o meu abraço carregado de saudades em nome de nossa bela e eterna camaradagem. (Portal iBOM / 

Tadeu Araújo

Tadeu Araújo Teixeira é professor, escritor, colunista e membro da ABDL

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