Mais escritores de Bom Despacho

 

Nicolau Soares e João Azevedo Barbosa deixaram obras magníficas

TADEU ARAÚJO TEIXEIRA – Tenho abordado o crescimento da literatura em Bom Despacho e do crescente número de livros editados por escritores locais. Nossa academia de letras muito tem influenciado para o aparecimento de tantos artistas entre nós ultimamente. Busquei e confirmei no passado que por aqui já houve grandes poetas do começo de nossa história.

Outro dia falei do patriarca de nossas letras, José d’Avó Gontijo, dos séculos XIX e XX. Hoje apresento a meus leitores e, quem sabe, aos arquivos da nossa Academia de Letras, que está sendo reorganizada agora, pós pandemia, por duas brilhantes acadêmicas locais: Denise Coimbra e Gísila Couto.

Destarte, pensamos estar contribuindo para divulgar as letras do passado e de certo modo contando uma história que precisa ser sabida muito especialmente pela juventude que frequenta a faculdade e as escolas de nossa cidade.

Com títulos homenageando nossa cidade, já lhes passei uma poesia de José d’Avó e hoje mais dois poemas de belos versos dedicados a Bom Despacho. Assim dou-lhes a conhecer mais dois bons poetas do século XX, um nascido em Bom Despacho e outro que por aqui viveu. O primeiro é Nicolau Soares.

Nicolau Soares

Seu pai João José Soares (como o filho) nasceu em Bom Despacho. Sua mãe era a benemérita professora Dona Francisca Deolina Sares. Nicolau licenciou-se em Direito e exerceu a profissão em Uberaba, Uberlândia, Araguari, Belo Horizonte e Bom Despacho. Deixou pelo menos dois livros com seus poemas. “Sensações”, editado em 1912, e “Flores Silvestres,” dado à publicidade em 1931, em São Paulo.

Nicolau Soares faleceu em Belo Horizonte aos 56 anos de idade.

João Azevedo Barbosa

Filho de Fernando Barbosa, nascido em Onça do Pitangui. Andou por aqui lá pelos anos de 1930. Pouco mais que um adolescente, era um jovem que, apesar de alegre, deixava transparecer um ar de tristeza, diziam os que o conheceram como o Dr. Nicolau Teixeira Leite, que tinha mais ou menos a mesma idade dele. Inteligente e vivo, parecia sofrer de uma arrasadora desilusão, porque sabia que a vida não lhe sorria muito, dado à saúde que lhe era precária.

Bom Despacho

(Nicolau Soares)

I – Meu caro Bom Despacho, sempre amado, / grande prazer eu sinto ao te ver, enfim / pelo progresso veronofizado, / cheio de vida e transformado assim.

II – Entre a minha e a tua sorte, que contraste: / – Eras já velho quando aqui nasci: / – No entanto, por encanto, remoçaste /, de saudade tua envelheci!

III – Longe de ti, vivi sem ter carinho, / Longos anos de vida atribulada, / a procurar em vão pelo caminho / da existência a ventura desejada.

IV – E não pude encontrá-la! Eu não sabia / que a ventura com que todos sonhamos. / é, na vida, miragem fugidia, / que, de longe, nós apenas avistamos.

V – Porém, ao ver-te, agora com alvoroço. / minha terra natal que eu amo tanto, / sinto pulsar um coração de moço / dentro do peito, como por encanto.

(Do livro Flores Silvestres)

Bom Despacho

(João Azevedo Barbosa – (20/12/ 1929)

I – Menina, / Em minha terra havia / Um grande e belo jasmineiro / Que, de vez em quando, se cobria / De jasmim / E era tão belo quando se vestia / De flores cor de neve… / Pois dele se exalava, então, / Um perfume tão doce / Tão leve que a gente pensava que fosse / Da essência do coração.

II – Bom Despacho é quase um jasmineiro / Que, de quando em quando, / Se cobre de flores – vivas e formosas, / Dessas, humanamente graciosas, / Que o Divino Jardineiro / Espalhou na terra, encantando / A sua população / Com o perfume de sorrisos tão doce / Como se fosse / Da essência do coração. (Portal iBOM / Foto ilustrativa)

 

Tadeu Araújo

Tadeu Araújo Teixeira é professor, escritor, colunista e membro da ABDL

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