Mulheres no Comando – Finalmente!

 

FERNANDO CABRAL – A humanidade é majoritariamente patriarcal e machista. Não é segredo. Não que nunca tenha havido registro de comunidades matriarcais ou, pelo menos, patriarcais sem machismo. Já sim, mas são casos raros. O que a história e a sociologia nos mostram é a milenar predominância do patriarcado machista. Mulheres que se destacaram, sempre houve, mas mediante ações individuais. No entanto, por ocasião da revolução francesa começaram a surgir sinais de que a igualdade entre homens e mulheres era um desejo não só delas, mas também de muitos homens. Era um desejo coletivo. Uma necessidade social. Mas o progresso foi lento. Na maior parte dos países o voto feminino chegou há menos de 100 anos. Em muitos ainda não chegou. Mas no Brasil, a partir dos anos 60 do século passado, temos visto um avanço lento, mas constante das mulheres. Em Minas, a ascensão das mulheres no Corpo de Bombeiros e na Polícia Militar evidenciam isto de forma nítida e alvissareira.

Até a história recente de Minas a carreira de policial militar era vedada às mulheres. Também era vedado seu acesso ao Corpo de Bombeiros. Contudo, por volta de 1980 as coisas começaram a mudar. As corporações finalmente entenderam que as mulheres podem ombrear com os homens em todas as tarefas. Elas podem até ter menos força física do que os homens, mas não perdem para eles em nenhum outro campo. Em inteligência, em dedicação e em capacidade de trabalho podem até ser superiores. Muitas vezes o são. Além disto, a presença delas traz um equilíbrio muito necessário e útil em qualquer instituição, mas em particular, naquelas cuja missão é proteger vidas.

Embora longe de Bom Despacho — como me encontro agora — fiquei feliz ao saber que nosso batalhão tem novos comandante e subcomandante, ambos de Bom Despacho. Esta familiaridade com a terra sempre ajuda.

Mas o que mais me alegrou foi saber que é uma mulher que assume o subcomando: major Marianna Atatília Alves Costa, que tem 37 anos de idade e 18 anos de carreira. Com certeza brilhará sob o comando do tenente-coronel Luciano dos Santos, também nascido e criado em Bom Despacho.

O posto de subcomandante do 7° Batalhão assumido pela major Marianna Atatília — pela primeira vez ocupado por uma mulher — é mais um passo à frente nas conquistas femininas. Conquista cujos precedentes são alvissareiros para elas, para nós, para o reconhecimento da igualdade plena entre homens e mulheres.

Assim, é oportuno registrar, mesmo que brevemente, muitos dos avanços já havidos no Corpo de Bombeiros e na Polícia Militar de Minas Gerais.

Em 2020 a major Amanda Miranda assumiu o comando do Corpo de Bombeiros de Divinópolis. Natural de Formiga, foi a primeira mulher a chegar ao comando de um Batalhão de Bombeiros em Minas. Quando assumiu, Bom Despacho acabava de receber sua guarnição do Corpo de Bombeiros. De lá para cá, cuidando de 56 municípios, mostrou-se lutadora incansável pela obtenção de melhorias para toda a região.

Em 2021 uma outra Amanda — Amanda Costa — brilhou ao formar-se em primeiro lugar no curso de formação que tinha mais de 500 alunos, mas só 50 mulheres. A Amanda foi a melhor aluna quando comparada com cerca de 450 colegas homens.

Embora seu brilho seja próprio, é certo que Amanda tinha em quem se inspirar. Afinal, na tragédia de Brumadinho, foi uma colega de farda, a major Karla Alvarenga que realizou proezas de cinema ao pilotar o helicóptero que fez os primeiros salvamentos em condições extremamente difíceis.

Mas os avanços continuam. No início deste mês Daniela Lopes Rocha da Costa, coronel do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais tomou posse como chefe do Estado-Maior em Minas.

Os exemplos poderiam continuar, mas estes são suficientes para demonstrar que bombeiras e policiais femininas nada devem aos homens mesmo na realização das mais complexas missões.

Definitivamente, nos últimos 40 anos as mulheres demonstraram, repetidamente, que, seja na missão policial, seja no salvamento de vidas, elas estão tão preparadas e prontas quanto qualquer homem.

Também por isto tenho uma expectativa muito positiva de que o tenente-coronel Luciano dos Santos fará um excelente trabalho para Bom Despacho e região. Região que sempre contou com a presença diuturna e ativa da PM. Agora, mais positiva ainda por termos também uma bom-despachense no subcomando.

Ter mulheres em posição de comando não é apenas um resgate histórico do papel que cabe a elas; é também um gesto de sabedoria: o todo só se completa quanto todas as partes se unem em igualdade. Dou as boas-vindas e desejo sucesso ao comandante Luciano e à subcomandante Marianna. (Portal iBOM / Foto: ACO 7º Batalhão PMMG).

Fernando Cabral

Fernando Cabral é licenciado em Ciências Biológicas, advogado, auditor federal e ex-prefeito de Bom Despacho

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