Zé Lino: uma lenda do nosso futebol

 

Este texto que se segue tem a autoria de Wellington Lino Pimenta (Leto), em resgate à memória de seu pai, o sargento José Lino Pimenta, figura consagrada e muito querida nos meios futebolísticos e sociais de Bom Despacho, de maneira especial no Famorine.

No ano de 1934, em uma fazenda próxima a um pequeno povoado chamado Vila do Funchal, pertencente ao município de São Gotardo, localizado bem na entrada do Triângulo Mineiro, a mais ou menos 100 km de Patos de Minas, uma mulher deu à luz a uma criança, vindo a mãe a falecer alguns dias depois.

Aquela criança, o caçula de três filhos de um fazendeiro de posses moderadas, foi criada vivendo ali entre as casas de parentes e dos tios Sergipe e Maria José (tio Jipe e tia Fia, que futuramente ele trouxe para Bom Despacho onde viveram até morrerem). Algum tempo depois, seu pai se casou de novo e teve mais 9 filhos e todos foram criados ali.

Muito jovem, o caçula do primeiro casamento, chamado de José Lino Pimenta (Zé Lino), com sua inquietude, quis ganhar o mundo, frequentemente na cidade de São Gotardo. Sempre muito educado e bem relacionado, aprendeu a profissão de cortar cabelo, ofício que o acompanhou e ajudou no sustento por toda a vida.

Ainda jovem foi para BH, onde começou a ganhar experiência de vida e pouco tempo depois outros irmãos também seguiram seu exemplo e foram migrando para a capital mineira.

Já com idade suficiente, veio até a cidade de Bom Despacho e ingressou na PMMG, no 7º Batalhão, fazendo o curso de formação de soldados. Após sua formatura, o destino o levou de volta para sua terra natal. Foi trabalhar em São Gotardo e lá se interessou por uma jovem chamada Elisabeth, a qual ele carinhosamente apelidou de “Sisse” por causa de um filme que assistiram no cinema. Então eles se apaixonaram e se casaram.

Essa moça, que morava em São Gotardo, era natural de Bom Despacho. Após o casamento Zé Lino foi transferido para a Cidade Sorriso. Aqui se fixaram e nunca mais saíram.

O jovem casal teve quatro filhos: Wellington (Leto), Walisson (Lino), Adriana e Wemerson (Erminho). Os três filhos homens também seguiram a carreira militar.

Zé Lino era um apaixonado por esportes. Nas artes marciais, chegou ao grau de faixa verde de judô. Mas sua paixão maior era o futebol. Em sua época, ele sabia a escalação de todos os times da cidade de Bom Despacho e conhecia quase todos os atletas pessoalmente.

Militar exemplar, além de suas funções no quartel, ainda trabalhava como barbeiro, função que também exercia em casa, pois adaptou sua barbearia ao alpendre de seu endereço na rua Pio XII, onde atendia a todos que precisavam cortar cabelo a qualquer hora, principalmente os amigos e companheiros militares.

Ele nunca se preocupou se a pessoa tinha dinheiro ou não, atendia a todos sem distinção.

Mesmo com o tempo escasso e sempre atarefado em suas lidas – como a criação de seus animais domésticos, dos quais ele gostava muito, como galinhas, porcos e até cabrito – sempre arrumava tempo para acompanhar os times de futebol locais.

Em determinado momento de sua história criou um time de crianças e adolescentes que aos poucos foi se tornando muito conhecido na cidade e região. Muitos talentos do futebol bom-despachense que ficaram famosos e conhecidos na cidade e região passaram por este time onde aprenderam a dar seus primeiros chutes, o Flamenguinho do Zé Lino. Ele gostava do Flamengo/RJ, por isso o nome. Acredito que muitos ainda devem se lembrar de que os números das camisas do time foram pregados tortos, tática que ele dizia que ajudava a preservar a humildade dos atletas.

Esse time durou alguns anos e me lembro que, com a extinção do Flamenguinho, os jogadores foram para outros times e ali fizeram história.

Era muito bonito ver quando o Zé Lino via alguns desses seus pupilos jogarem nos outros times da cidade. Ele enchia o peito de alegria e dizia com orgulho: – Esse começou a jogar comigo.

Durante muito tempo, acompanhava praticamente todos os times da cidade, até o dia em que seu filho mais velho, Leto, chegou ao Famorine, na geração de ouro, final de 1981, o primeiro time do mestre Teodoro que também fez história no futebol bom-despachense. Aí foi amor verdadeiramente recíproco.

Daí em diante Zé Lino passou a acompanhar o Famorine bem de perto. Sabia tudo do time e, após alguns anos, o filho mais velho foi embora, mas o amor não acabou. Pelo contrário, ficou ainda mais reforçado porque seu filho caçula, Erminho, também chegou ao time e continuou a história da família Pimenta dentro do time. Já o outro filho, o Lino, nunca foi dado ao futebol.

José Lino defendia o time em seus comentários e era um torcedor apaixonado. Raramente perdia um jogo, outra de suas paixões. Tinha uma grande admiração pelos amigos da rádio Difusora e participava com maestria de um programa esportivo. Sabia avaliar e analisar os resultados com comentários inteligentes e coerentes sobre o futebol na cidade e criou um bordão que ficou conhecido e possivelmente até hoje alguns ainda se lembram.

Seu amigo Célio Sérgio, ao final do programa, perguntava pra ele:

– E aí Zé Lino, ele respondia – “E acabou” …

Zé Lino foi uma figura conhecida e querida na cidade de Bom Despacho, sempre honrando suas raízes pessoais, profissionais e esportivas com muito carinho. Tanto que o município bom-despachense o eternizou, nominando uma importante avenida da cidade, que fica aos fundos da rua Pio XII e liga os bairros de Fátima e Olegário Maciel ao centro da cidade

Faleceu no dia 19 de novembro de 1998 e seu corpo descansa no solo de sua querida Bom Despacho, por coincidência ou não, no chamado Novo Cemitério, bem pertinho do campo do Famorine.

Breve história do Famorine

Fundado por jovens esportistas bom-despachenses, o Famorine vai celebrar dia 12/11/23 os 45 anos de sua brilhante e vitoriosa existência. Ele já foi campeão regional e por 5 vezes municipal amador da cidade, inclusive no corrente ano. Campeão dos adultos amadores e do time reserva. Sua categoria de base reflete a capacidade de organização de seus diretores. Já conquistou vários troféus em Bom Despacho, em Minas e no Brasil. Seu trabalho junto à comunidade prepara para o esporte e para a vida crianças e adolescentes atingindo grande número de jovens num quadro de 225 participantes de 4 a 17 anos de idade. A receita para esse sucesso deve-se ao amor e à dedicação à bandeira do Famorine em benefício de nossa Bom Despacho. Gente que participa e serve a tão nobres ideais desde a fundação desse time. Para citar alguns, já que não levantei o nome de todos, aqui destaco nomes dos que conheço bem de perto e exalto como cidadãos da sociedade ou vultos da saga de nossos campos de futebol:

Pedro do Sintico, Vital Guimarães, os incansáveis Teodoro, Berreca, Major João Eudes, Chico da Dirol. Também Jean Carlos – este aclamado como o próximo presidente do Clube – José Lino Pimenta e seus filhos Leto e Erminho. Gente apaixonada pelo esquadrão do bairro de Fátima. Gente que eu citei e os que ainda vou citar numa próxima reportagem sobre este clube que glorifica, por sua organização e dedicação, o esporte bom-despachense.

15º Encontro de ex-atletas

Convidado pessoalmente pelo Chico da Dirol e pelo Major João Eudes, compareci ao encontro à 5ª Festa do Encontro dos ex-atletas do Famorine no estádio Pedro do Sintico. Belíssimo e festivo encontro onde foram homenageadas algumas pessoas, entre as quais tive a honra de ser um dos escolhidos.

Tadeu Araújo

Tadeu Araújo Teixeira é professor, escritor, colunista e membro da ABDL

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *