Preservar as áreas verdes das cidades é fundamental

 

Há uma piada que é mais ou menos assim: uma pessoa pula do último andar de um prédio. No meio do caminho, um morador do vigésimo andar o vê caindo e pergunta: “está tudo bem contigo?”, e a pessoa em queda livre, rumo à morte, responde: “até agora, tudo bem”.

O mundo saltou do alto de um prédio, está sendo destruído todos os dias, mas até agora, tudo bem. Ainda estamos vivos, apesar da destruição brutal que nosso planeta enfrenta.

Quando vivi em Nova Iorque escutei algumas vezes a história do planejamento e da construção do Central Park, o mais famoso parque do mundo. Já no começo do século XIX, lá pelos idos de 1800, algumas pessoas começaram a perceber que a ilha de Manhattan, onde fica o Central Park, iria ficar sem áreas verdes. Algumas pessoas começaram a tentar manter uma área verde, para que as futuras gerações tivessem um oásis de mata, de lagos e de bichos, para poderem descansar e sobreviver. Nesta época, havia ainda muita área com mata nativa, mas já perceberam, ao contrário da pessoa da piada, que o futuro seria terrível sem áreas verdes. Em 1876 foi inaugurado o Central Park e Nova Iorque só sobrevive e é linda por causa deste trabalho feito há quase duzentos anos (inaugurado há cento e quarenta e seis anos, mas planejado muito antes).

Em 1900, há cento e vinte e dois anos, a cidade de São Paulo tinha menos de cem mil habitantes e muita área verde. Muita! Um século depois, são treze milhões de pessoas na cidade e mais sete milhões nas cidades da Grande São Paulo, ou seja, vinte milhões de pessoas. Poucos parques, o mais famoso o Parque do Ibirapuera, muito pequeno para as necessidades da cidade.

Bom Despacho ainda tem muita área verde, muitas fazendas, algumas matas preservadas, mas é possível vermos placas de “vende-se”, “construa”, “breve lançamento”, entre outras propagandas, ao longo de toda a cidade. Assim como dizem que a rã colocada em uma panela não percebe que a água está ficando muito quente, pois ela foi ganhando temperatura aos poucos, os seres humanos não percebemos que estamos destruindo tudo. Assim como São Paulo, Bom Despacho pode virar uma cidade impossível de se viver bem, caso não cuide de suas áreas verdes e preserve seus rios, sua diversidade, suas matas.

Preservar a Mata do Batalhão

Li recentemente no Jornal de Negócios que a Mata do Batalhão virará um parque. Isso é um bom começo. Preservar esse espaço é começar a pensar em um Central Park bom-despachense. Andei algumas vezes dentro da Mata e há lugares preservados, assim como há muito lixo e destruição. Criar um parque no local pode ajudar na tarefa de preservar. O que vai definir o futuro do parque é a maneira como será explorado o local. Essas regras serão fundamentais para desenhar o futuro da Mata do Batalhão.

O Ibirapuera, apesar de ser uma área verde, tem poucos bichos vivendo ali. Há patos, gansos e cisnes colocados nos lagos. Há pássaros também. O website oficial do parque cita um mamífero, uma espécie de gambá de orelhas pretas, que deve ser muito tímido, pois nunca o vemos. E só.

Com o excesso de exploração, com ruas asfaltadas internamente, com milhares de bicicletas, skates, patins, comércio de comida ilimitado, shows e muitos decibéis de barulhos diários, os bichos sumiram.

Se o novo parque da Mata do Batalhão for para exploração comercial, no futuro poderemos ter um parque com árvores, mas sem bichos nativos, como são os exemplares paulistanos. Para evitar isso, o parque da Estrada Velha de Santos, apesar de ter a antiga estrada de asfalto e pedras passando no meio da área preservada, não permite bicicletas, carros, patins e todo tipo de transportes. Somente se pode caminhar. Isso ajuda a preservar os macacos, as onças, os tamanduás, as cobras e as centenas de espécies de pássaros.

Mais do que uma decisão de um grupo de burocratas e da elite de Bom Despacho, esta é uma decisão que deveria ser tomada por todos: que parque vamos deixar para nossos filhos, netos, bisnetos, tataranetos…

Sempre fui contra fechar os parques com grade. Na única reunião que participei em Bom Despacho, sugeri câmeras ao redor do parque e não grades. As câmeras, que permitem identificar quem joga lixo, coloca fogo na mata ou comete um crime, permitiriam deixar o parque aberto 24 horas e só punir os infratores. Conscientizar sobre o uso da Mata, sem degradá-la é mais importante do que cercar com grade e impedir as pessoas de usar o parque a qualquer hora do dia ou da noite. Cercar a Mata, em minha humilde visão, é considerar a todos previamente infratores.

Salvo engano, o Central Parque fica aberto entre 6:00 e 1:00 da manhã, todos os dias. O Ibirapuera fica aberto entre 5:00 e 23:00 horas. Aos sábados, dois portões ficam abertos 24 horas e o acesso é livre.

A população deveria ser chamada para opinar sobre o funcionamento (pode ou não andar de moto da Mata? Bicicleta pode? Vai haver restaurante dentro da Mata? Estas coisas) e os horários de acesso.

Bom Despacho e a literatura

Algumas coisas em Bom Despacho são surpreendentes, como a quantidade de pessoas que correm e andam de bicicleta. Sempre fico espantado com o número de pessoas que vejo correndo na cidade e com as atividades das associações de esportista da cidade, como a CorreBom, grupo do qual faço parte e me orgulho, incentivando sempre a prática da corrida.

Também me impressiona o número de livros e de autores que vejo na cidade. Meu sogro já me apresentou alguns livros e autores. Os livros do Zé Toniquinho e, especialmente, o livro Pé Preto no Barro Branco, da autora Sônia Queiroz, me deixaram extasiado. E li outros bons livros de autores locais.

Li recentemente no Jornal de Negócios que dois lançamentos aconteceram na mesma semana, um deles do escritor Fernando Humberto Resende, cujo título é “Mineiridades”. O segundo é “O homem e o poeta”, do escritor bom-despachense já falecido Paulo Teixeira Campos.

Estou muito interessado em conhecer melhor Minas Gerais e Bom Despacho, em particular. Terminei de ler o segundo volume do “Escravidão”, do autor Laurentino Gomes, que foca na criação do estado de Minas, a formação das cidades mineiras, as agruras da exploração do ouro e diamantes, entre outros temas. Ler os livros dos autores bom-despachenses ajudará a aprofundar esse conhecimento. Já pedi para meus contatos na cidade guardarem um exemplar de cada livro para mim. Como hoje é comum dizermos, o local de fala do povo local para contar a história de Bom Despacho e de Minas Gerais deve ser garantido.

Fico muito feliz em saber que Bom Despacho tem atrações para o corpo (corridas, caminhas, bicicletas, entre outras opções) e mente (os vários livros disponíveis de autores nascidos na cidade).

Parabéns, Bom Despacho! (iBOM / Foto: Mata do Batalhão / PMBD 2020)

Paulo Henrique Alves Araújo

Paulo Henrique Alves Araújo é gestor e servidor público, mestre em computação e gerente de projetos de inovação

One thought on “Preservar as áreas verdes das cidades é fundamental

  • 12 de janeiro de 2023 em 13:47
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    Sou um Bom despachense ausente, há 50 anos, bom ver seus causos.

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