Berenice: a santa de Bom Despacho

 

LÚCIO EMÍLIO JÚNIOR – Nos idos do início dos anos 60, um crime chocou a cidade de Bom Despacho. Sanfona, um admirado jogador de futebol, militar, pessoa muito conhecida e admirada na cidade, numa discussão doméstica com sua esposa Berenice, num momento de nervosismo, lançou na direção dela uma pequena floreira de vidro, que infelizmente atingiu-a na nuca. Ela veio a falecer três dias depois, com traumatismo craniano, devido à falta de melhores recursos médicos na época. Sanfona, que curiosamente não tocava esse instrumento, era um excelente goleiro. Ele pulava ágil como uma sanfona que se abre, daí o curioso apelido.

Como Sanfona e Berenice eram pessoas muito queridas, a tragédia chocou a cidade, na época pouco acostumada a tragédias, sendo uma pequena cidade pacata onde todos se conheciam. Nos três dias de sua agonia, a cidade se pôs em oração pedindo a Deus que salvasse a vida daquela mulher que deixaria quatro filhos duplamente órfãos.

Sanfona era um goleiro querido, trabalhador, pintor de paredes nas horas vagas. Tido como um belo moreno, era bastante assediado por onde passava e isso despertava o descontentamento da esposa. O seu crime chocou a cidade e Sanfona teria se refugiado na casa de Constança, diz a lenda, uma das namoradas, num bairro próximo. Após sua morte trágica, seguindo a tradição dos mártires cristãos, a alma de Berenice foi tida como milagrosa.

A memória dos milagres de Berenice persiste ainda hoje. Minha amiga Vanda, enfermeira, conversou com outra amiga chamada Aparecida Coutinho, e lembrou-se do fato, que ocorreu quando ela era ainda era criança. O irmão de Aparecida teria recebido um milagre muito grande graças a Berenice.

Rua Adão Honório, no local onde Berenice teria morado.

A “santa de Bom Despacho” morava numa casa verde, numa esquina do bairro São Francisco, uma casa velha. Foram atribuídas a Berenice graças muito importantes, além de milagres. Meu pai, coronel Lúcio, também guarda recordações do fato, acontecimento esse que marcou sua infância. O inditoso casal era vizinho de seus pais, na Vila Militar, ligados pelo compadresco e uma sólida amizade.

Ele visita com frequência o túmulo de Berenice e verifica que, além de velas, sempre há ali muitos pedidos sob a forma de pequenos pedaços de papel, como se fossem “votos”. Há também muitas marcas de velas acesas em sua homenagem.

Essa coluna busca, então reacender a memória dessa nossa santa da cidade, bem como gostaria que os cidadãos que receberam graças e milagres dessa nossa santa local enviassem para essa coluna seus registros, para que possamos divulgá-los aqui, para que saibamos a quantas andam as graças e os milagres dessa figura trágica e enigmática, Berenice, a santa de Bom Despacho. (Foto do alto meramente ilustrativa)

Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *